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quinta-feira, 28 de março de 2013

Relógios Girard-Perregaux acabou com o Tic-Tac - chegou o escape de força constante


Estação Cronográfica tem estado por estes dias em Zurique, a convite da manufactura suíça de alta relojoaria Girard-Perregaux. Alguns novos modelos, a apresentar na Baselworld 2013, que começa a 25 de Abril, em Basileia, foram divulgados à imprensa mundial. Uma parceria com The Academy Museum of Motion Pictures foi também anunciada. Temas que iremos tratar aqui ao longo dos próximos dias.

Mas, comecemos pela "estrela da companhia", o Escape Constante, um relógio revolucionário em vários sentidos, cujas primeiras imagens aqui apresentamos.

Apresentado como conceito e protótipo há alguns anos pela Girard-Perregaux, o escape de força constante é agora aplicado num relógio. Um dos grandes problemas da relojoaria mecânica está assim resolvido - num relógio normal, à medida que a corda vai sendo gasta, a força libertada (torque) para o escape vai enfraquecendo, afectando com isso a precisão do mecanismo. Uma das soluções conhecidas era o uso do sistema de fuso e corrente (pensa-se que inventado por Leonardo da Vinci, e que algumas marcas conseguiram aplicar em relógios de pulso).

Mas a abordagem da Girard-Perregaux foi completamente diferente. Tudo terá começado quando o relojoeiro da manufactura, a caminho do trabalho, brincava com o bilhete de combóio - apertado entre o indicador e o polegar, o pedaço de cartão, a dada altura, pressionado pelo indicador da outra mão, libertava a energia contida e passava a curvar-se, num salto, para o lado oposto. O relojoeiro pensou que essa energia podia ser empregue em micromecânica. Nascia, ainda incipiente, o princípio do escape de força constante...


A energia do novo Girard-Perregaux Escape Constante é fornecida por dois tambores de corda ligados em paralelo.


Depois de anos de trabalho, a Girard-Perregaux apresentava em Basileia, em 2008, os primeiros protótipos, e os especialistas perceberam que estava ali uma verdadeira revolução. Agora, esse princípio para a ser aplicado a um relógio de série, que aliás será o primeiro da colecção Força Constante.

O nome - Força Constante - é também uma homenagem a uma das figuras históricas da manufactura, Constant Girard-Perregaux, e resolve um dos santos graal da relojoaria.

O coração de um relógio mecânico é regulado por um orgão, que gere a energia recebida do tambor de corda. Ela é desmultiplicada pelo trem de rodagem e regula a velocidade dos ponteiros. Pode dizer-se que esse orgão regulador (o conjunto volante/espiral/ escape) é como a torneira que regula o fluxo da água.

O principal factor não é tanto a velocidade das batidas deste coração, a escolha da feequência, mas antes a sua regularidade. O essencial é conseguir que as batidas sejam iguais com a corda no máximo e quando esta está a chegar ao fim.

O sistema mais usado em relógios de pulso é o chamado escape de âncora suíço. Apesar de ser o mais perfeito, em termos industriais, tem o problema de andar demasiado rápido quando a corda está em carga máxima e de andar demasiado lento quando ela está quase toda desenrolada.

O princípio de força constante traduz-se no facto de, independentemente da energia libertada pela corda, o escape fornece uma força constante ao orgão regulador (balanço/espiral). Para conseguir isso, a Girard-Perregaux dá um passo revolucionário - coloca um orgão intermédio no escape - uma lâmina ultra-fina que conserva a energia, tornando-a constante, através de uma invariável que está sempre na fronteira da instabilidade - transmitindo depois essa energia de forma instantânea, antes de começar um novo ciclo.


Os designers escolheram uma construção simétrica para o módulo do escape de força constante. Isso não ocorreu por razões estéticas, mas para equilibrar as forças no centro da roda de balanço e para evitar uma concentração de constrangimentos nesse ponto, a fim de assegurar uma rotação totalmente livre de obstáculos. De qualquer modo, esteticamente, o conjunto também se torna muito apelativo.  A lâmina vibra a 3 Hz (21.600 vibrações por hora), sendo assim possível admirar a olho nu o movimento. Caso a frequência fosse mais elevada, o movimento da lâmina não seria perceptível e alguma poesia associada a esta nova tecnologia iria perder-se, explicam os técnicos por detrás do escape de força constante da Girard-Perregaux, desenvolvido pela manufactura em parceria com o CSEM, Centro Suíço de Electrónica e Microtecnologia, em Neuchâtel,. Há duas rodas de escape, que em nada se assemelham às habituais âncoras. Têm três dentes, para a frequência de 3 Hz, e teriam quatro se a frequência fosse de 4 Hz.


Como já referimos, a ideia partiu da observação de um bilhete de comboio sob pressão. Pode experimentar fazê-lo com o seu cartão de crédito ou outro qualquer - pressionado entre dois dedos, sofrendo no meio a pressão de um terceiro, a dada altura salta para o lado contrário, passando de convexo a côncavo. Esse fenómeno de instabilidade é conhecido como "flambée", ou seja, a passagem do estado de compressão ao de flexão.

Para provocar esse efeito, a Girard-Perregaux usa uma lâmina de silício, com a espessura equivalente a um sexto de um cabelo humano, e que funciona como um micro-acumulador de energia. esta lámina é dobrada até um ponto o mais próximo possível do seu estado instável, e precisa apenas de uma quantidade infinitesimal de energia - um micro-impulso dado pela roda de balanço (menos perturbador do que num escape de âncora) - para passar de um estado ao outro, e nesse processo, fazer avançar a roda de balanço, compensando a energia variável libertada pela corda, libertando sempre a mesma quantidade de energia.



O Girard-Perregaux Escape de Força Constante tem caixa de 48 mm, de ouro branco, com vivdro de safira na frente e no verso e é estanque até 30 metros. Vem equipado com um calibre totalmente novo, da manufactura, o Movement MVT-009100-0007, de carga manual, com autonomia para aproximadamente uma semana. Tem horas e minutos descentrados, segundos centrais e indicador linear de reserva de corda. Segundo os técnicos, passará facilmente nos critérios de cronometria do COSC, mas para isso terá que haver maquinaria específica para avaliar as suas qualidades... é que o escape de força constante não soa no tradicional tic-tac, mas antes num inédito tiiiiiiiiic-taaaaaac que não é mensurável pelos instrumentos do organismo suíço de validação cronométrica...






O novo calibre de escape de força constante permite uma precisão sem precedentes em relojoaria mecânica. A lâmina de silício colocada entre o trem de rodagem e o orgão regulador, que permite a libertação constante de força, é um prodígio técnico, já que tem apenas 14 microns de espessura. O sistema de duplo tambor de corda, cada um com duas cordas no seu interior (sistema também a aguardar patente), tem disponível um total de 3 metros de comprimento de mola, conseguindo-se uma autonomia de uma semana. O aspecto do relógio é muito bem conseguido, não apenas com a simetria do escape de tipo novo, mas também pelo facto de ele ter uma cor azulada, que sobressai no conjunto. Uma estética a fazer lembrar o mundo de Batman e da sua Gotham City...


Sobre o desenvolvimento tecnológico do escape de força constante da Girard-Perregaaux, saiba mais aqui.




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