Figura incontornável no quotidiano do fechado e algo cinzento universo helvético, Nicolas Hayek, que se sentia amado pelas dezenas de milhares de operários e respectivas famílias a quem salvou o emprego, também se admitia odiado por outros, principalmente banqueiros como os da UBS, ou concorrentes que foram resistindo à onda Swatch mas que têm que comprar os seus movimentos e outros componentes a este amante de charutos cubanos, de quadros de Max Ernst, das obras de Victor Hugo ou da banda desenhada do Mickey.
Junto ao Lago Constança, em 2008 (foto Paulo Jorge Figueiredo)
Nicolas Hayek, um dos dez suíços mais ricos, número 145 na lista mundial de milionários da Forbes, com um património avaliado entre os 2,5 e os 3 mil milhões de euros, condecorado por vários Estados, Cavaleiro da Legião de Honra da França, esteve no início do conceito do carro Smart, foi consultor da Comissão Europeia para o projecto “Bruxelas Capital da Europa” e estava empenhado em criar, juntamente com a Hewlett-Packard e a Microsoft o relógio do futuro – um misto de telefone, televisão e computador on-line à volta do pulso.
Nascido a 19 de Fevereiro de 1928 em Beirute, de mãe libanesa cristã descendente dos Cruzados, e pai judeu americano, dentista e professor na Universidade Americana de Beirute, Nicolas Hayek fez a escola primária num colégio de freiras local.
Nascido a 19 de Fevereiro de 1928 em Beirute, de mãe libanesa cristã descendente dos Cruzados, e pai judeu americano, dentista e professor na Universidade Americana de Beirute, Nicolas Hayek fez a escola primária num colégio de freiras local.
Matemático de formação, chegou a pensar ser físico nuclear, mas, já estabelecido na Suíça, era conselheiro financeiro de grandes instituições quando, em 1980, um sindicato de bancos helvéticos lhe colocou um desafio – salvar da morte anunciada todo o sector relojoeiro nacional, afogado em dívidas e ultrapassado pela vaga de relógios baratos e com movimento de quartzo que estavam a vir do Japão.
Hayek inventou o conceito Swatch, um relógio de qualidade, com um design inovador, mas ao mais baixo preço possível. Para tal, diminuiu em cerca de 50 peças o “miolo” dos relógios, automatizou completamente a linha de produção. Ainda hoje, de um lado entra plástico de várias cores, em barra. Do outro, segundos depois, saem milhares de relógios a que falta só colocar a pilha.
O sucesso Swatch foi imediato e o relógio de pulso passou a ser um acessório de moda, a ser comunicado como um adereço, com colecções Primavera/Verão e Outono/Inverno. A loucura instalou-se, apareceram os coleccionadores e os clubes Swatch, os primeiros modelos valem hoje fortunas.
Com o dinheiro obtido com os Swatch, Hayek foi resgatando as dívidas bancárias de manufacturas tão respeitáveis como a Omega, a Longines ou a Tissot. E o mundo, de repente, começou a gostar de novo de relógios mecânicos (sem deixar de comprar os de quartzo). O império Swatch foi crescendo, passou à Alta Relojoaria, acenando hoje com um porta-estandarte como é a Breguet.
Estação Cronográfica teve o privilégio de realizar quatro grandes entrevistas a Nicolas Hayek ao longo dos últimos dez anos, e de conviver com ele em situações de grande distensão, especialmente quando ocorriam eventos Swatch em sítios típicos da Suíça profunda, como Burgenstock ou o Lago Constança.
Haverá um tempo na Relojoaria mundial "antes" e "depois" de Nicolas Hayek. O Presidente do Swatch Group morreu a trabalhar. Com a energia lendária que se lhe conhecia, não poderia ter sido de outro modo.
Estação Cronográfica inclina-se perante a sua Memória.
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