O Relógio da Vida: Entre o Tic e o Tac, o que fazemos importa
Vivemos em uma era em que o tempo parece ser um recurso cada
vez mais escasso. Os dias se
transformam em semanas, as semanas em meses, e de repente
percebemos que já é Natal
novamente, os filhos estão crescendo rapidamente, as
amizades se distanciaram e as
conversas longas e significativas tornaram-se raras. A
sensação é de que estamos em um trem-
bala da vida, com pouco ou nenhum controle sobre a
velocidade com que passamos pelas
estações.
Diante de um acontecimento triste e recente, fui forçada a
enfrentar uma realidade dura e
desconfortável: a fragilidade da nossa existência. Isso me
levou a questionar: “Se tudo acabar
amanhã, qual será o meu legado? Quais memórias deixo para
aqueles que amo e para aqueles
que comigo conviveram?”
Fui em uma missa linda, onde pai e mãe partiram juntos
precocemente, e seus filhos em meio
a tamanha tristeza fizeram uma linda e merecida homenagem a
eles, com muitas histórias e
aprendizados, em meio a choros e risos contaram histórias e
lindas lembranças. Quando vi
aquela missa, pensei, eles partiram cedo mas cumpriram
lindamente seu papel, viveram
intensamente e deixaram um lindo legado de amor.
Esse casal não deixou só lições para seus filhos, deixou uma
linda história para todos que de
perto ou mesmo de longe puderam acompanhar.
Acontecimentos como esse nos obrigam a olhar para dentro e
reavaliar nossas prioridades.
Vivemos em uma sociedade que preza a eficiência e a
produtividade, muitas vezes à custa da
nossa saúde mental e relacionamentos. No entanto, a vida não
é medida em reuniões de
trabalho cumpridas ou na quantia de dinheiro acumulado. O
verdadeiro valor da vida reside
nos momentos simples, mas significativos, que construímos ao
longo desse caminho.
Quando se trata de legado, não são necessariamente as grandes conquistas que serão
lembradas, mas sim os pequenos atos, as palavras de
incentivo e as experiências
compartilhadas. É o carinho com que tratamos nossos amigos e
familiares, é o respeito e
cuidado que temos pelo próximo mesmo que não seja tão
próximo, é a empatia que em algum
momento fez alguém se sentir melhor, o esforço para entender
em vez de julgar, e a
disposição para estender a mão quando alguém está passando
por alguma necessidade.
Então, como nós retomamos o controle do nosso relógio da
vida? Começa com a decisão de
viver intencionalmente. Isso pode ser tão simples quanto
decidir passar uma hora por semana
com alguém que você ama ou dedicar um tempo para fazer algo
que te faz feliz. Falar o que
sente para as pessoas que ama, não deixar de elogiar quando
tiver vontade, abraçar, sentir,
amar, comemorar as pequenas conquistas, agradecer e
aproveitar mais. Se permitir viver as
pequenas coisas ou até mesmo as grandes. Viver com menos
culpa. Outra estratégia é parar e
refletir antes de tomar decisões, grandes ou pequenas,
perguntando a si mesmo: “Isso se
alinha com as minhas prioridades e valores? Isso me leva
para mais perto do legado que quero
deixar?”
Nós não podemos parar o relógio. Mas podemos escolher como e
com quem passamos o
tempo que nos resta entre o tic e o tac. E são essas
escolhas que constroem esse legado não
apenas para nós mesmos, mas para aqueles que ficarão quando
já tivermos partido.
Paloma Silveira Baumgart. Lido aqui
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