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quarta-feira, 23 de março de 2011

Em primeira mão - Hermès Arceau Temps Suspendu

O mestre genebrino Jean-Marc Wiederrecht é considerado como um dos principais relojoeiros conceptuais da actualidade. A sua "assinatura" é uma certa poesia que consegue transmitir nas obras mecânicas que vai criando, fazendo da leitura do tempo um exercício sempre inovador.
Jean-Marc Wiederrecht conseguiu suspender o tempo, uma complicação mecânica inédita encomendada pela Hermès


Estação Cronográfica durante a visita que fez em Janeiro à Agenhor

aqui tínhamos referido a visita que fizemos a Wiederrecht e à sua manufactura, Agenhor, em Janeiro, para tomar contacto com um calibre revolucionário. Terminado o embargo noticioso, estamos hoje em condições de poder, finalmente, desvendar o "segredo", que será aresentado na Baselworld: trata-se de uma encomenda feita pela Hermès, também ela uma marca com uma filosofia de vida muito própria, carregada de poesia.

A ideia da Hermès era conseguir, com um relógio, demonstrar que o tempo é a coisa mais preciosa que temos. E que, para certos momentos e para certas pessoas, há todo o tempo do mundo...

Jean-Marc Wiederrecht, com um percurso impressionante, ganhou o Prémio para Relógio Feminino do Grande Prémio de Relojoaria de Genebra 2010, com o Van Cleef & Arpels Pont des Amoreux, um hino ao amor, com autómatos. No ano anterior, tinha conseguido arrebatar no grande prémio o galardão para Melhor Design, com o Harry Winston Opus 9.

Perante o desafio da Hermès, pensou, pensou e... saiu-se com um calibre triplo retrógrado, automático, a primeira vez que tal acontece. E que consegue parar o tempo, a pedido.

Falar do Hermès Arceau Temps Suspendu não é fácil. É obrigatório tomar contacto com a peça, ver mesmo como ela funciona. Mas, tentemos... Imagine que chega a casa, depois de um dia de trabalho, e que é "assaltado" pelos filhos, que o aguardam. Imagine agora que tem um jantar de representação, para daí a umas horas. Pois, mas o tempo pode ser suspenso. Com uma pressão num botão, os ponteiros das horas e dos minutos "recolhem-se" em módulo de "tempo suspenso", numa posição às 12 horas. E a sua dedicação às crianças é total. O tempo, ficou suspenso, porque há algo mais importante. Quando as crianças vão, finalmente, para a cama, basta carregar de novo no botão. E os ponteiros das horas e dos minutos recuperam o tempo que tinha estado suspenso, indo ocupar as posições normais, como se o relógio nunca tivesse sido "parado". Se ficou atrasado para o jantar de negócios... tant pire...

Este tipo de complicação mecânica é totalmente inédita e traduz uma filosofia de "dar tudo, incluindo o tempo, a quem é verdadeiramente importante nas nossas vidas", diz-nos Jean-Marc Wiederrecht.
O Hermès Arceau Temps Suspendu tem uma edição limitada e numerada de 174 peças em ouro rosa e outra em aço, de 43 mm de diâmetro, estanques até 30 metros. Tem indicação de horas, minutos e data por função retrógrada (uma estreia mundial). Os ponteiros das horas e dos minutos têm a função retrógrada a 360 graus. O calibre é automático, com a massa oscilante decorada Côtes de Genève. O módulo "Temps Suspendu", que faz trabalhar ou parar os ponteiros, é accionado ou desligado através de um botão, às 9 horas. A zona do "tempo suspenso" está localizada às 12 horas. O mostrador pode ser prateado (para os modelos em ouro rosa ou aço) ou negro (para os modelos em aço).

Jean-Marc Wiederrecht, de 61 anos, cursou Relojoaria na Escola de Relojoaria de Genebra, tendo sido o melhor aluno do seu curso. Inicia a actividade em 1972 e, em 1978, monta com a mulher uma oficina independente. A partir de então, trabalha como relojoeiro criador para várias marcas, como Chopard ou Sarcar. Especializa-se em esqueletização de movimentos ultra-planos e explora os limites estruturais dos materiais.

De 1981 a 1983, Wiederrecht é membro do clube Cabinotiers de Genève, uma organização de relojoeiros independentes e que congrega as diferentes capacidades dos especialistas genebrinos. (Os cabinotiers do século XVIII eram mestres artesãos cujos ateliers sustentavam naqueles tempos a indústria relojoeira da cidade.)

É nessa altura que Wiederrecht contacta com outros mestres conteporâneos, incluindo Roger Dubuis, Franck Muller, Antoine Preziuso e Paul Buclin, que ajudou a construir o célebre Calibre 89 da Patek Philippe Calibre 89 – ainda hoje o relógio mais complicado do mundo. Colabora também com artistas como a esmaltadora Murielle Séchaud ou o gravador André Chéca.

Vem dessa altura a criação do seu primeiro calibre calendário perpétuo (ajudado por Roger Dubuis), percursor das indicações retrógradas e outras complicações características de trabalhos posteriores. Em 1982, constrói o seu primeiro módulo de fases lunares num calibre extra-plano. Três anos depois, apresenta o calendário perpétuo com calibre mais fino (2,17 mm) e, em 1988, inicia a colaboração com Harry Winston Ultimate Timepieces (o segmento relojoeiro do joalheiro nova-iorquino), ligação que se manteve até hoje.

Desde 1990 que tem produzido uma série de módulos para marcas como Gerald Genta, Harry Winston e Universal Genève (GMT, segundos retrógrados, segundos bi-retrógrados ou tri-retrógrados, calendário perpétuo bi-retrógrado, equação do tempo, data decrescente, horas do mundo, etc.)

A partir de 1994, Wiederrecht começa a construir um novo atelier e, em 1996, funda nos arredores de Genebra a Agenhor SA (Atelier Genevois d’Horlogerie), uma manufactura especializa em grandes complicações, hoje com 25 colaboradores (entre eles, a mulher e os dois filhos) e uma produção de 4000 calibres por ano. A Agenhor tem preocupações ecológicas muito sérias - o objectivo é zero de emissões de CO2, um desígnio que está quase a ser atingido.

Com clientes tão importantes, será que, algum dia Jean-Marc Wiederrecht vai criar a sua própria marca? O mestre responde claramente, apostando na filosofia de manufactura à moda antiga da sua Agenhor: "Para quê? Isso seria limitar-me. Prefiro trabalhar para vários, procurando que cada marca que aqui chega tenha traduzida a sua respectiva filosofia nos calibres que vou concebendo".
Nas imagens de cima, o Hermès Arceau, com os ponteiros das horas e dos minutos seguindo o seu percurso normal de leitura do tempo

Na imagem de cima, o Hermès Arceau Temps Suspendu em módulo de "tempo suspenso", com os ponteiros das horas e dos minutos parados, numa zona às 12 horas. Quando se pretende que o relógio volte a marcar o tempo, carrega-se no botão às 9 horas, fazendo com que os ponteiros se coloquem, de forma retrógrada, nas respectivas posições, como se não tivesse havido qualquer interrupção. A coroa está às 2 horas e a data, igualmente retrógrada, fica às 5 horas


Jean-Marc Wiederrecht no seu atelier, na Agenhor, mostrando o Hermès Arceau Temps Suspendu


O calibre do novo Hermès Arceau, vendo-se o módulo para "suspensão do tempo"

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