Consumidor é o tempo insaciável
De tudo quanto cria a natureza;
Ou seja a cousa em si forte e durável
Ou feita com engenho e subtileza;
Ante este imigo, enfim, fica domável,
Antes de todo perde a fortaleza,
E à que parece mais constante e forte,
Também guarda seu género de morte.
Que grande império de ouro e de armas feito
Que vem fundada terra, que cidade,
Que espantoso imortal, que heróico feito,
Que forte, que robusta mocidade,
Que dor posta no centro lá do peito,
Que desesperação, que saudade.
Que se cousa inda há mais dura e constante,
A resistir ao tempo foi bastante?
Tudo se rende enfim, tudo obedece
A este segundo fogo vagaroso;
Só contra suas forças prevalece
Um magnânimo esprito valeroso;
Porque este, quando a força desfalece,
Se torna mais feroz, mais animoso,
E o discurso do tempo ou morte esquiva
Não somente o não gasta, mas o aviva.
Francisco de Paiva de Andrade ou Andrada (1540?-1614), Primeiro Cerco de Diu
domingo, 19 de julho de 2009
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