Acerca do tempo
A desigual balança
Da vil fortuna cega,
Fiada d'infieis repartidores
Com violenta mudança,
Desordenada, entrega
Aos máos sempre o governo dos melhores;
Faz servos dos senhores,
Aos mais baixos levanta
Sem mais aucção, nem custa,
Que uma eleição injusta,
Que o Ceo escandaliza e a terra espanta :
Por onde o venturoso
Tyranniza o lugar do valeroso.
A dura tyrannia,
Dos grandes empossada.
Triunfa da justiça e da verdade.
O interesse guia,
A rezão desterrada
Chora o direito seu dar-se á maldade.
O amor e a lealdade
Da pátria perseguida,
Já desagasalhados
Dos principaes estados,
No vulgo baixo e pobre acham guarida ;
E tal se tornou tudo.
Que quem falou verdade, agora é mudo.
O zelo desprezado
He desfavorecido,
Queixar-se, nem buscar remédio ousa.
A bom tempo passado,
De poucos entendido,
Quem cuida mais em vós, menos repousa !
Cerca-nos tanta cousa,
Que já o entendimento,
Apezar do receio,
Não achando outro meio,
Rebenta com soltar vozes ao vento,
Mas se Deos não soccorre,
Pouco monta dar vozes a quem morre.
Frei Agostinho da Cruz
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