Um fama tinha um relógio de parede e todas as semanas lhe dava corda COM GRANDE CUIDADO.
Um cronópio, ao vê-lo, pôs-se a rir, foi para casa e inventou o relógio-alcachofra ou alcachofa, pois pode e deve dizer-se de uma e de outra maneira. O relógio-alcachofa é uma alcachofa da grande família das alcachofas, presa pelo caule a um buraco da parede. As inumeráveis folhas da alcachova dão as horas certas e além disso todas as outras horas, de forma que o cronópio só tem que tirar uma folha para ficar a saber as horas. Como as vai tirando da esquerda para a direita, a folha marca sempre a hora certa, e todos os dias o cronópio começa a tirar nova série de folhas. Ao chegar ao centro o tempo já não pode ser medido, e na infinita rosa violeta do centro o cronópio acha uma grande alegria, e então come-a com azeite e sal, e põe outro relógio no buraco.
Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino
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