Não tendes visto? Ora olhai:
A Terra muda de rosto,
Tal qual a gente, segundo
Vai da alegria ao desgosto.
A Terra é mãe... E foi noiva,
Em março, - linda Esposada, -
Recebeu-a o Sol, ao arco
Cruzeiro da madrugada.
Já quando as tardes seroam,
A lua reza o seu Terço,
Embala, à aragem de Maio,
Loiras searas, num Berço.
De Junho a Agosto é que são
Fadigas de amor, cuidados:
- Uns filhos ao colo, e os outros
Já tamanhões espigados! -.
Uns gritam de sede; àqueles,
Cresta-os o sol com seus lumes;
Alguns, precisam de arrimo;
Não torçam em maus costumes...
Estes caiem de altas árvores;
Outros, rolam pelo chão.
Mais tarde, (Graça e Sustento)
Esperam a comunhão...
Nisto chega o Outono e a Terra
Põe-se a arrumar os seus filhos:
Uns na adega, outros nas arcas,
Outros na tulha dos milhos.
A Terra é mãe. Tem seus modos
De amar a quem lhe quer bem;
Canta em Maio, a um berço de oiro?
No Outono, reza... Ela é mãe!
António Correia de Oliveira (1878-1960), poeta português
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