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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Fora de Série Especial Relógios 2015 - Entrevista a Thierry Stern, Presidente da Patek Philippe


Reportagem em Genebra e Londres, respectivamente sobre os 175 anos da Patek Philippe e a exposição que a manufactura levou a cabo na Saatchi Gallery. Falámos em exclusivo com Thierry Stern, Presidente da marca independente genebrina.

175 anos da Patek Philippe

As várias faces do tempo

Fernando Correia de Oliveira, em Genebra e Londres

Estivemos em Genebra, no início das comemorações dos 175 anos da Patek Philippe. E em Londres, na exposição que a manufactura realizou na galeria Saatchi, como que marcando o encerramento da efeméride. Se, em 1989, no 150º aniversário, foi produzido o hoje célebre Calibre 89, um relógio de bolso grande complicação, desta vez a escolha foi a de fazer um relógio de pulso, o mais complicado até hoje produzido pela marca.

A manufactura genebrina lançou vários modelos comemorativos do histórico aniversário, sendo a “pièce de résistance” o Patek Philippe Grandmaster Chime Ref. 5175, que custa 2,5 milhões de francos suíços. Limitado a sete unidades, uma delas para expor no Museu da marca, é o primeiro relógio de marca com duplo mostrador, rotativo - um deles focado em mostrar o tempo e nas complicações sonoras (sonneries); o outro dedicado ao calendário perpétuo instantâneo. Mudar de mostrador é fácil, dado o mecanismo de rotação que existe nas asas da caixa. Além disso, as funções mais consultadas num relógio - o tempo e a data - aparecem de ambos os lados.

O Patek Philippe Grandmaster Chime Ref. 5175 tem 20 complicações: grande sonnerie, petite sonnerie, repetição minutos, selector de modo de silêncio, alarme, com assinalar sonoro do tempo, repetição data (inédito), indicador de reserva de corda, indicador de reserva das complicações sonoras, visualizador do isolador das complicações sonoras, segundo fuso horário, indicador de segundo fuso horário / indicador de dia/noite, calendário perpétuo instantâneo, indicador do dia da semana, indicador de mês, indicador de data (dos dois lados), ciclo de ano bissexto, indicador de ano, com quatro dígitos, submostrador de 24 horas e de minutos, fases de lua, indicador de posição da coroa (RAH)

A Patek Philippe investiu mais de 100 mil horas no desenvolvimento, produção e montagem do Grandmaster Chime, das quais 60 mil dedicadas aos componentes do movimento. Cada calibre é composto por 1.366 peças, e cada caixa por 214 partes separadas, totalizando 1.580. Com caixa de 47 mm, de ouro rosa, gravada, mostradores de ouro, o Patek Philippe Grandmaster Chime Ref. 5175 tem calibre de carga manual, da manufatura (GS AL 36-750 QIS FUS IRM), com 72 horas de autonomia para o calibre e 30 horas de autonomia para as complicações sonoras. Vem com balanço Gyromax® e espiral Spiromax®. Vidro de safira na frente e no verso. Todos os relógios do 175º aniversário têm selo de qualidade PP (Patek Philippe).

Outras peças comemorativas dos 175 anos:

Patek Philippe Chiming Jump Hour Ref. 5275. Limitado a 175 exemplares. Calibre de carga manual, da manufatura (32-650 HGS PS), com segundos e minutos saltantes, hora saltante digital. Assinala sonoramente as horas, de forma automática. Tem balanço Gyromax® e espiral Spiromax®. Caixa tonneau, de platina, 39,8 x 47,4 mm. Mostrador de ouro maciço.

Patek Philippe Multi-Scale Chronograph Ref. 5975. Limitado a 400 exemplares cada versão de ouro amarelo, branco ou rosa e a 100 exemplares de platina. Cronógrafo automático de toda de colunas e embraiagem vertical, calibre da manufatura (28-520). Rotor de ouro. Balanço de Gyromax®, espiral de Spiromax®. Caixa de 40 mm. Há uma versão feminina, com caixa de 37 mm, de ouro branco ou rosa, limitada a 150 exemplares de cada. Rotor de ouro.

A exposição de Londres

Foram 42.500 visitantes em apenas 12 dias. Londres recebeu entre Maio e Junho, na Saatchi Gallery, a Exposição Watch Art, numa prova da força e legitimidade patrimonial da Patek Philippe. Mais espaço, ambiente mais cosmopolita. Já tínhamos estado, em 2014, em Munique, onde a Patek Philippe levou a cabo uma exposição – mostrou o seu património relojoeiro do ponto de vista museológico e actual. A fórmula foi um êxito e repetiu-se agora em Londres. E vai continuar pelas grandes cidades do mundo, sensibilizando para a arte da relojoaria, que vai muito para além da “simples” micromecânica.

Para quem, como nós, esteve em Munique e Londres, deu para comparar. Na cidade alemã, um público extremamente interessado, mas quase só local. Na capital britânica, um ambiente cosmopolita, com muitos turistas a incluírem no seu roteiro a oportunidade única de verem peças Patek Philippe raramente vistas fora do Museu da marca, em Genebra, ou dos seus Salões (boutiques monomarca).

Mais uma vez, em Londres, ficámos impressionados com a riqueza histórica e patrimonial que a manufactura relojoeira genebrina consegue trazer aos olhos do público em eventos deste género.

Em 1851, a Patek Philippe apresentou à Grande Exposição de Londres, no Crystal Palace, alguns dos seus relógios de bolso. Na ocasião, dois visitantes especiais adquiriram peças da manufactura - a Rainha Vitória e o Príncipe Alberto. Um dos espaços recria esse ambiente e mostra relógios que pertencem actualmente à Casa Real britânica.

Como em Munique, a ideia foi levar a Londres o ambiente do Salão Patek Philippe de Genebra, respeitando as paredes forradas a tecido grená ou a vista sobre o lago Lemans que se desfruta do quinto piso desse edifício. Uma paisagem filmada em 24 horas, podendo apreciar-se o horizonte desde o nascer ao pôr-do-sol…

Num total de mais de 400 relógios em exposição, todos os modelos de todas as colecções estiveram presentes no evento de Londres, havendo, como no caso de Munique, edições especiais de relógios de pulso e de pendulettes alusivos à capital do Reino Unido, com temas como a Torre de Londres.

Para além de peças Patek Philippe, a empresa independente, propriedade da família genebrina Stern, apresenta em Londres outras peças históricas, vindas do seu Museu ou de colecções particulares.

A exposição, além de um espaço dedicado ao Museu Patek Philippe, tinha outros onde se podiam apreciar as Grandes Complicações (calendários perpétuos, sonneries, cronógrafos...), as peças comemorativas do 175º aniversário, os trabalhos em métiers d'art ou as peças da colecção actual.

Relojoeiros explicavam em modelos de acrílico os princípios básicos de um mecanismo de relojoaria, enquanto em gabinetes ao lado especialistas em métiers d’art, como gravadores, esmaltadores, polidores ou miniaturistas demonstravam os seus respectivos saberes em superfícies tão pequenas como mostradores ou caixas de relógios de pulso.

Uma das paredes estava ocupada com algumas folhas do plano que permitiu a criação do Grandmaster Chime, o relógio de pulso mais complicado da história da Patek Philippe, e a que já fizemos acima referência. As cerca de 70 folhas representavam apenas 3 por cento da totalidade necessária para criar e planear esta Grande Complicação.

Como em Munique, uma das salas mostrava os calibres da Patek Philippe, colocados em janelas transparentes e giratórias. Noutra, podia assistir-se a um filme sobre a história da empresa. Numa outra, em cadeiras especiais, podia apreciar-se o som do tempo – o bater de horas, quartos e minutos em exemplares de bolso ou de pulso. Entre Genebra e Paris, e preparando uma grande exposição em Nova Iorque, as comemorações do 175º aniversário da Patek Philippe marcaram, mais uma vez, o estado da arte em termos de relojoaria.


Conversa com Thierry Stern, Presidente da Patek Philippe

No máximo da capacidade de produção

Parafraseando uma publicidade tornada célebre, “nunca se é verdadeiramente dono da Patek Philippe. Apenas se procura manter os valores da empresa, fazê-la crescer sustentadamente e... levá-la até mais uma geração”. Na família Stern, tem sido assim.

Falámos com Thierry Stern, a quarta geração da família à frente desta empresa independente. Num mundo muito fechado e onde os resultados nunca são conhecidos, conseguimos mesmo assim uma confirmação – a Patek Philippe vendeu em 2014 cerca de 58 mil relógios. Haverá um “número mágico” quanto à produção, a partir do qual, ultrapassado, deixará de haver a exclusividade que a marca projecta? “Não funcionamos em função dos números, mas da qualidade”, responde Thierry Stern. “Actualmente, estamos no máximo da capacidade de produção. Se quisermos aumentá-la, teremos que formar novos relojoeiros e outros colaboradores especializados, e isso demora bastante”. De qualquer modo, Stern admite que, para além dos 100 mil relógios por ano, a Patek Philippe deixaria de ser o que é hoje, uma espécie de Rolls Royce dos relógios.

As preocupações da marca são, actualmente, mais do que aumentar a produção, continuar a amentar a qualidade dos calibres, das caixas, do serviço pós-venda. “Esse é um desafio de todas as marcas suíças, não apenas nosso. A amentar a produção, seria apenas no segmento das grandes complicações, onde a procura continua a superar muito a oferta que podemos disponibilizar”, acrescenta. “Mas, para ter um bom relojoeiro, capaz de manipular uma grande complicação, são precisos pelo menos dez anos.”

Quando se reformar, Thierry Stern pensa que a Patek Philippe poderá estar a produzir 60 ou 65 mil relógios. “Mas os números não são a nossa batalha”, refere. E quanto a uma quinta geração a tomar conta da empresa? “O mais importante é que os meus filhos façam o que gostam. E que o façam bem. Não haverá qualquer imposição. Só tomam conta da Patek Philippe se tiverem desejo de o fazer. A minha prioridade não é a Patek, são os meus filhos. ”

E, um dia, a Patek Philippe ter um relógio conectado? “Não sabemos como o fazer. Se for para o comprar a Silicon Valley, não vale a pena. Não estamos interessados. Escolhemos os relógios mecânicos, da mais alta qualidade, e é aí que vamos continuar. Era como se a Apple começasse a fazer calendários perpétuos”.

Sobre os rumores que, há um ano, correram sobre a iminência de a família Stern vender a Patek Philippe, Thierry, sorri. “É um rumor que corre de vez em quando. Mas, com os investimentos que fizemos nos últimos tempos [nova manufactura, alargamento da capacidade de produção] demonstramos claramente que estamos no negócio para ficar mais uns tempos”. (gargalhadas).

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