Há dez anos, fazíamos para a revista Internacional Horas e Relógios a recensão do livro Relojes de Piedra en Galicia, do nosso amigo José Luís Basanta Campos. (arquivo Fernando Correia de Oliveira)
Reedição de livro sobre gnomónica ibérica
Relógios de pedra na Galiza
São 372 páginas de muito saber relojoeiro – acaba de sair em Espanha a segunda edição de Relojes de Piedra en Galicia, de José Luís Basanta Campos, depois de a primeira, saída em 1996, se ter esgotado rapidamente.
José Luís Basanta (Fonsagrada, Lugo, 1924) é doutorado em Ciências Químicas e até à data da reforma, em 1989, esteve ligado à indústria do papel. Nesse âmbito, tem publicados mais de 30 trabalhos. Mas a sua paixão pelo Património e pela História, bem como o apelo pelo mistério que é o Tempo levaram-no a dedicar décadas de estudo dos relógios de sol, especialmente na sua região natal, a Galiza.
A ciência da gnomónica (o nome deriva de gnómon, o nome que se dá ao estilete, geralmente em metal ou pedra, que projecta a sombra num quadrante ou mostrador, indicando assim as horas solares) não tem segredos para ele. A defesa do património que constitui o conjunto de relógios de sol da Galiza, estejam eles em locais públicos ou privados, tem sido o seu combate permanente.
A obra Relojes de Piedra en Galicia inclui uma introdução sobre o Tempo e a sua Medida (os relógios de sol terão sido os primeiros instrumentos usados para esse efeito pelo Homem, nem que fosse através da observação da sua própria sombra, projectada no chão com diferentes amplitudes, variando com a altura do astro-rei), bem como as origens desse instrumento que se tornou cada vez mais sofisticado e chegou, nos séculos XVI a XIX, a ser a forma mais segura de acertar os pouco exactos relógios mecânicos. Fala-se depois dos vários tipos de relógios de sol, entre ortomeridianos, equatoriais, verticais meridianos, verticais declinantes e canónicos.
Afonso X, o Sábio (Toledo, 1221 – 1284), rei de Castela, Galiza e Leão, é responsável pela criação de uma das cortes mais cosmopolitas do seu tempo, influenciando por gerações sucessivas o conhecimento científico da Europa, dado que compilou e mandou traduzir o estado da arte Ocidental nas mais diversas disciplinas, aproveitando os saberes judeu e mouro da altura. Cinco dos seus Livros de Astrologia são dedicados aos relógios (dois a relógios de sol, um a relógios de água ou clepsidras, outro a relógios de velas e um ainda a relógios de argento vivo, o nome por que o mercúrio era então conhecido).
Quanto aos relógios de sol, tratar-se-á da primeira documentação escrita que apareceu na Península Ibérica, depois de séculos antes, terem sido os romanos a introduzirem esses medidores de tempo e reguladores dos ritmos sociais em espaços públicos e privados do território que tinham ocupado (Portugal tem alguns exemplares dessa época, encontrados em termas ou praças públicas, nomeadamente Lisboa, Sintra ou Egitânia, a actual Idanha-a-Velha).
A obra de Basanta versa ainda os relógios de sol na literatura ou na pintura universais, antes de tratar propriamente, com abundante iconografia, da distribuição geográfica, diferentes tipos, diversos autores e fontes bibliográficas respeitantes a exemplares existentes na Galiza. Antes de ensinar a construção dos diversos tipos de relógios de sol, Basanta refere exemplares em outras regiões de Espanha e inclui 26 exemplares de Portugal, entre exemplos de mais de uma dezena de países.
Em Portugal, o património respeitante a relógios de sol nunca mereceu um levantamento sério, do fôlego empreendido por Basanta, e muitos exemplares continuam à mercê do vandalismo e da incúria, ou são roubados para serem vendidos por essa Europa fora...
[entretanto, anos mais tarde, editámos com os CTT, conjuntamente com Suzana Metello de Nápoles e Nuno Crato o livro Relógios de Sol]
Relojes de Piedra en Galicia
José Luis Basanta
Fundacion Pedro Barrié de la Maza
Colecção Catalogación Arqueológica y Artística de Galicia
ISBN 84-95892-16-2
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