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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Memória - O síndroma da t-shirt*

Harry Winston Opus 9

Em 2006, as exportações suíças de relojoaria de luxo (preço à saída de fábrica acima dos 3.000 francos suíços, cerca de 1.875 euros) aumentaram um recorde de 34,7 por cento em número e 27 por cento em valor. Esse segmento representa menos de 10 por cento do número total de relógios exportados mas constitui cerca de metade do valor.

Todos os fabricantes de relógios desejam posicionar as suas marcas o mais alto possível, pois vêem nisso só vantagens – maior margem de lucro, mais exposição gratuita junto do consumidor devido ao estatuto, potencial de crescimento maior do que nos segmentos mais baixos.

Como recordava recentemente Pierre Mayllard, director da revista suíça Europa Star, no vasto mar da indústria relojoeira, a ponta do iceberg é ocupado pelas grandes marcas de luxo, cuja máquina poderosa de comunicação atrai a atenção de todos, monopolizando quase por inteiro o interesse dos media. Mas, por debaixo dessa ponta, “estão as restantes marcas, a enorme massa que, em virtude da sua posição, sustenta a ponta e a mantém fora de água”.

Hoje em dia, enquanto o preço médio por marca não pára de aumentar, continua a batalha pelo domínio na distribuição de movimentos de quartzo, um mercado maciço onde “desde há muito se passou a barreira abaixo do dólar e se discute hoje mais ao cêntimo”, refere o responsável do mais antigo título especializado helvético.

Apenas através da inovação na forma e na técnica (utilização de novos materiais) podem as marcas sobressair no meio de uma indústria que se globalizou como as outras.

“A indústria relojoeira é um reflexo perfeito do que está a acontecer em todos os outros sectores da economia”, defende Mayllard. Ela continua protegida do síndroma da t-shirt chinesa que assolou a Europa na última década, mas isso deve-se ao facto de os relógios já não serem hoje objectos indispensáveis. “Não conseguimos viver sem um par de calças ou uma camisa, mas vivemos bem sem relógio”, diz ele. “O relógio é, e continua a ser, um luxo, quer custe um punhado de dólares ou uma mala cheia deles”.

Um dos últimos estudos à escala global sobre luxo, em que foram ouvidos 1.800 consumidores muito ricos nos Estados Unidos, China, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido revela que os bens materiais não são vistos como verdadeiro luxo.

Para os inquiridos, o verdadeiro luxo é o tempo, seguido de tempo para fazer aquilo que se quer e ter dinheiro para isso. Para a maioria, luxo não está ligado a quanto custa uma coisa ou que marca ela tem, mas a bens raros e antigos, a obras de arte originais e, sem surpresas, a relógios topo de gama.

Desta aparente contradição – relógio, objecto supérfluo; relógio, objecto de desejo – vive uma indústria que não teve até agora que se preocupar com o síndroma da t-shirt.

*A Máquina do Tempo, crónica publicada no suplemento Casual, Semanário Económico de 28/09/07)

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