Marinha de João Pedroso, onde o primeiro Balão da Hora está representado
Foi um marcador do tempo lisboeta e forasteiro durante 57 anos, no final do séc. XIX e início do séc. XX. O célebre Balão do Arsenal imitava na zona ribeirinha da capital aquilo que de mais moderno havia nas grandes metrópoles, como Paris, Londres ou Washington. Descobriu-se agora uma imagem inédita deste objecto que desapareceu sem deixar rasto.
O chamado Balão da Hora foi um sistema usado em várias capitais europeias e nos Estados Unidos, a partir do séc. XIX, para assinalar um tempo fiável, facilmente visível. Geralmente ligado a um observatório astronómico ou outra instituição científica, que lhe fornecia um tempo o mais exacto possível, consistia num balão erguido num mastro, que caía a uma hora predeterminada. O movimento estava por vezes associado a um sinal sonoro. Com este sistema de difusão da Hora, a comunidade podia acertar diariamente os seus relógios.
O sistema do balão é mais exacto que o sistema de canhão do tempo, ou meridiana (relógio de sol que faz soar uma pequena peça de artilharia quando passa o meio-dia solar), pois este sofre demoras devido à velocidade de propagação do som. Portugal também teve, por essa altura, canhões do tempo, montados na Torre dos Clérigos, no Porto; e no Castelo de S. Jorge e na Escola Politécnica, em Lisboa, troando ao meio-dia solar para quem os quisesse ouvir, mas essa é outra história.
Em 1858 Portugal fez a primeira tentativa de ter, em Lisboa, um Balão da Hora. Estava instalado no edifício do Observatório Real de Marinha, no Arsenal da Marinha, entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, e destinava-se essencialmente a servir a comunidade mercante ancorada no Tejo – obtinha um tempo que lhe dava para testar o chamado “estado do cronómetro”, acertando os cronómetros de marinha que havia a bordo, instrumentos usados para o cálculo da longitude no mar.
O Diário do Governo de 9 de Novembro de 1858 publicava a seguinte nota da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e do Ultramar: “Achando-se actualmente colocado no plano do meridiano do Observatório Astronómico da Marinha o seu instrumento de passagens, anuncia-se a bem do serviço de cronómetros da marinha de guerra e mercante, e dos relógios públicos e particulares desta capital, que da data do presente anúncio em diante se indicará todos os dias no referido Observatório, por meio da rápida queda de um balão, o rigoroso instante em que a pêndula do mesmo Observatório marcar exactamente uma hora média”.
E acrescentava a nota: “Para os observadores não cansarem a sua atenção adverte-se, que um quarto de hora antes da uma hora média subirá o balão a meio mastro, cinco minutos antes da referida hora elevar-se-á até ao tope, e quando no Observatório a pêndula do tempo médio marcar rigorosamente o momento da uma hora média cairá o balão rapidamente”.
A qualidade do sistema era má e surgiu um segundo balão, mais sofisticado, em 1885. Desta vez, o tempo era transmitido por meios electromecânicos, desde o Observatório Astronómico da Ajuda e tinha acoplado um sistema sonoro, de canhão, especialmente para os dias de fraca visibilidade. O Balão do Arsenal deu o seu derradeiro sinal à uma hora do dia 31 de Dezembro de 1915, acompanhado, como sempre, de um tiro de canhão.
No incêndio que destruiu por completo a Sala do Risco do Arsenal da Marinha, ocorrido a 18 de Abril de 1916, a torre e o mastro do balão escaparam às chamas, mas o primitivo balão que se encontrava como peça de museu naquela sala, desapareceu para sempre. Igual sumiço teve o segundo balão, que ninguém sabe hoje onde se encontra.
Se deste último há fotografias e desenhos pormenorizados, não se conhecia, até agora, qualquer representação do primeiro balão.
Pois foi recentemente à praça, num leilão organizado pelo Correio Velho, um quadro desconhecido de João Pedroso, com uma vista invulgar do Arsenal da Marinha de Lisboa, e no qual se reconhece um balão da hora.
A obra do pintor foi pormenorizadamente tratada em 2004 em livro de Paulo Santos – A Marinha, Lisboa e o Tejo na Obra de João Pedroso – mas o quadro onde aparece o balão não foi incluído, porque era até então desconhecido.
O chamado Balão da Hora foi um sistema usado em várias capitais europeias e nos Estados Unidos, a partir do séc. XIX, para assinalar um tempo fiável, facilmente visível. Geralmente ligado a um observatório astronómico ou outra instituição científica, que lhe fornecia um tempo o mais exacto possível, consistia num balão erguido num mastro, que caía a uma hora predeterminada. O movimento estava por vezes associado a um sinal sonoro. Com este sistema de difusão da Hora, a comunidade podia acertar diariamente os seus relógios.
O sistema do balão é mais exacto que o sistema de canhão do tempo, ou meridiana (relógio de sol que faz soar uma pequena peça de artilharia quando passa o meio-dia solar), pois este sofre demoras devido à velocidade de propagação do som. Portugal também teve, por essa altura, canhões do tempo, montados na Torre dos Clérigos, no Porto; e no Castelo de S. Jorge e na Escola Politécnica, em Lisboa, troando ao meio-dia solar para quem os quisesse ouvir, mas essa é outra história.
Em 1858 Portugal fez a primeira tentativa de ter, em Lisboa, um Balão da Hora. Estava instalado no edifício do Observatório Real de Marinha, no Arsenal da Marinha, entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, e destinava-se essencialmente a servir a comunidade mercante ancorada no Tejo – obtinha um tempo que lhe dava para testar o chamado “estado do cronómetro”, acertando os cronómetros de marinha que havia a bordo, instrumentos usados para o cálculo da longitude no mar.
O Diário do Governo de 9 de Novembro de 1858 publicava a seguinte nota da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e do Ultramar: “Achando-se actualmente colocado no plano do meridiano do Observatório Astronómico da Marinha o seu instrumento de passagens, anuncia-se a bem do serviço de cronómetros da marinha de guerra e mercante, e dos relógios públicos e particulares desta capital, que da data do presente anúncio em diante se indicará todos os dias no referido Observatório, por meio da rápida queda de um balão, o rigoroso instante em que a pêndula do mesmo Observatório marcar exactamente uma hora média”.
E acrescentava a nota: “Para os observadores não cansarem a sua atenção adverte-se, que um quarto de hora antes da uma hora média subirá o balão a meio mastro, cinco minutos antes da referida hora elevar-se-á até ao tope, e quando no Observatório a pêndula do tempo médio marcar rigorosamente o momento da uma hora média cairá o balão rapidamente”.
A qualidade do sistema era má e surgiu um segundo balão, mais sofisticado, em 1885. Desta vez, o tempo era transmitido por meios electromecânicos, desde o Observatório Astronómico da Ajuda e tinha acoplado um sistema sonoro, de canhão, especialmente para os dias de fraca visibilidade. O Balão do Arsenal deu o seu derradeiro sinal à uma hora do dia 31 de Dezembro de 1915, acompanhado, como sempre, de um tiro de canhão.
No incêndio que destruiu por completo a Sala do Risco do Arsenal da Marinha, ocorrido a 18 de Abril de 1916, a torre e o mastro do balão escaparam às chamas, mas o primitivo balão que se encontrava como peça de museu naquela sala, desapareceu para sempre. Igual sumiço teve o segundo balão, que ninguém sabe hoje onde se encontra.
Se deste último há fotografias e desenhos pormenorizados, não se conhecia, até agora, qualquer representação do primeiro balão.
Pois foi recentemente à praça, num leilão organizado pelo Correio Velho, um quadro desconhecido de João Pedroso, com uma vista invulgar do Arsenal da Marinha de Lisboa, e no qual se reconhece um balão da hora.
Pormenor onde se vê o mastro e o Balão da Hora
Segundo Paulo Santos, um especialista na obra de João Pedroso Gomes da Silva, um dos melhores marinhistas portugueses do séc. XIX, o quadro terá sido pintado entre 1860 e 1865, o que faz dele um testemunho único desse primeiro Balão da Hora de Lisboa.
A obra do pintor foi pormenorizadamente tratada em 2004 em livro de Paulo Santos – A Marinha, Lisboa e o Tejo na Obra de João Pedroso – mas o quadro onde aparece o balão não foi incluído, porque era até então desconhecido.
Artigo publicado no suplemento Casual, Semanário Económico, de 28/09/07
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