quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Relógios Graham assinalam os 15 anos do Chronofighter - Eric Loth fala do sector - os tempos estão a mudar...
A Graham está a comemorar os 15 anos do seu modelo Chronofighter. Entretanto, o fundador da marca, Eric Loth, falou com o Relógios & Canetas online, um a entrevista a todos os títulos corajosa e de leitura obrigatória.
Já se encontra disponível, aqui, aqui ou aqui (clicar em edições mensais) a edição de Setembro do Relógios & Canetas online, a plataforma digital em língua portuguesa dedicada à Relojoaria, Joalharia, Instrumentos de Escrita e outros Objectos de Luxo.
Entrevista a Eric Loth, da Graham
Deus virou as costas aos relojoeiros?
"Nenhuma marca, nenhuma tecnologia é protegida por Deus. Porque é que a Relojoaria haveria de ser excepção?" - quem fala assim, desassombradamente, é Eric Loth, o fundador e dono da Graham. "Daqui a 20 anos, não somos já nós os consumidores", diz ele, apontando para si e para os jornalistas à volta da mesa, em Basileia. "São os nossos filhos e netos, que já nêm lêem livros em papel, já não têm música armazenada em CDs, não têm a mínima ideia do que seja um relógio mecânico".
"A vida não está fácil", admite, numa conversa com um grupo de portugueses, durante a Baselworld 2016. "São dias terríveis, mas ser independente tem grandes vantagens. Não temos que apresentar lucros a qualquer custo. Isso não é possível se estivermos numa empresa cotada, temos que dar saistfações aos accionistas. Vamos ver brevemente muita dança da cadeira. E, se fosse engenheiro a trabalhar no sector, não dormiria bem de noite".
Eric Loth faz uma análise das mais originais e interessantes que temos ouvido sobre a questão do relógio conectado. "A conecção é o futuro. Todos os objectos estarão ligados em rede, do mobiliário aos electrodomésticos", antecipa. Mas, o relógio conectado, tal como hoje existe, não o convence. "O telemóvel a funcionar como senhor e o relógio no pulso a ser escravo, no que chamamos de relação master-slave, não faz grande sentido - ter no pulso, em ponto pequeno, o que já temos no relógio, em ponto maior".
Mas o aparecimento do smart watch, concede, teve a vantagem de colocar de novo no pulso dos jovens um objecto. "Há toda uma geração que nunca usou nada nesse espaço, que assim pode ser reconquistado", lembra.
"Acredito no relógio conectado, mas ligado ao possuidor e não a gadgets exteriores", vaticina. "Um relógio centrado no indivíduo, que lhe dá a temperatura, as pulsações, o bio-ritmo - um algorítmo com seis ou sete parâmetros, capaz de antecipar o nosso estado geral, não apenas de saúde, mas de disposição física e mental. Um relógio master, em vez de slave...".
"O pulso é um belo sítio para termos informações sobre nós próprios, em vez de informações vindas de outras máquinas", defende.
Sobre o futuro do relógio mecânico, Eric Loth traça um quadro, se não negro, cinzento muito escuro. "Os carros passarão a ser eléctricos. As baterias terão cada vez mais autonomia. Os incentivos e desincentivos estatais vão obriga-nos a comprar eléctrico, os filhos e os netos vão lembrar-nos cada vez mais as questões ambientais. Quando um tipo como eu, apaixonado por mecânica e por carros clássicos, comprar um carro eléctrico... é muito mau sinal para alguns... e estou a pensar comprar um".
"Os relógios mecânicos ficarão reduzidos a um nicho. Os apreciadores terão um ou dois, mas não 20 ou 30, como hoje. Pessoas de uma certa idade ou de um certo grau de sofisticação quererão este tipo de objectos", prevê. "E, já agora, quem nos diz que, daqui a dez anos, um relógio mecânico no pulso seja sinal de luxo? Porque é que o material electrónico não passará a ser luxo? Já há relógios e outros gadgets vendidos por milhares de euros... isso é luxo". Eric Loth puxa ainda como exemplo a indústria da fotografia. "Olhem para a Kodak, para a Ilford, grandes empresas, que se baseavam na venda de rolos, na sua revelação, nas cópias em papel... Hoje, as máquinas digitais têm melhores lentes, mais definição, memória para armazenar milhares de fotos. O chip arrasou com tudo o que era analógico". "Uns sobrevieram, outros morreram. Estamos a enfrentar o mesmo", diz. "O que haverá no pulso das pessoas dentro de dez anos? Ninguém sabe. Um relógio mecânico? Talvez numa ocasião especial, no dia do casamento... a peça que se herdou do avô ou do pai, que depois volta para a gaveta. Como quando eu vou buscar um dos meus carros vintage à garagem. O dia está bonito, a paisagem convida, curto a estrada, sem GPS ou outras modernices... é cool. Só por divertimento. Mas não é para todos os dias".
Além disso, para as novas gerações "vivenciar é mais importante que possuir", atira Eric Loth. "O bem-estar está a substituir a velocidade. As viagens, as experiências gastronómicas e outras são preferidas, em vez da compra de objectos".
"Quem não vir isto tudo como uma ameaça, está a ser criminoso", diz Eric Loth face a um sector ainda a procurar saber para onde vai. "Quem está na bolsa, não pode dizer o que eu disse – as acções caem. Eu posso, sou patrão", conclui.
Caixa
Eric Loth fundou a Graham em 1994, inspirado num nome importante da história da Relojoaria, George Graham, o inglês que na transição do século XVII para o século XVIII inventou o cronógrafo, os segundos mortos, o escape de cilindro ou o pêndulo termocompensado de mercúrio.
Loth, que nasceu no Locle, berço da relojoaria suíça, instalou a Graham em La Chaux-de-Fonds, outro núcleo base da indústria. Licenciado em engenharia mecânica pela Universidade de Neuchâtel, com um mestrado em gestão pelo Business Management School I.M.D. de Lausanne, foi durante décadas quadro do Swatch Group antes de fundar a sua empresa. Piloto, a competir na Swiss Porsche Cup, tem uma colecção de clássicos. Investe em arte contemporânea e é um aficionado da cultura rock (na verdade, quem o conhece acha geralmente que ele tem um estilo mais de inglês que de suíço de língua francesa).
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