Perdido a um canto da Biblioteca do Liceu Passos Manuel, em Lisboa, encontra-se um interessante relógio de caixa alta, do início do século XX, representativo de um importante capítulo na medição do tempo usando a electricidade e os campos magnéticos.
Está assinado "Magneta Zürich Plattenstrasse 11/13".
No mostrador, ostenta a patente suíça nº 19701
Além disso, tem as iniciais "D. R. P.", que significam Deutsches Reich Patent
Faz ainda referência à patente para o mercado norte-americano
Finalmente, tem inscrito "Breveté s. g. d. g.", o que significa "sans garantie du gouvernement", menção legal para o mercado francês, onde o Estado se desvinculava de qualquer responsabilidade sobre o bom funcionamento efectivo do artigo patenteado
A geração destes relógios eléctricos baptizados de Magneta deve-se ao inventor suíço Martin Fischer (1867 - 1947), natural de Zurique. Em 1899, deposita a tal patente nº 19701 para um relógio-mestre, num sistema de tempo coordenado e onde este transmitia tempo a relógios-escravos.
Chamou ao sistema Magneta (mais tarde rebaptizado de Inducta, depois da sua empresa ter sido comprada pela Landis & Gyr, de Zug.
A frase publicitária que Fischer usou para o seu novo sistema foi "relógios eléctricos sem bateria e sem contacto". A frase é bem representativa do tipo de problemas que, há cem anos, se deparavam aos pioneiros da relojoaria eléctrica. As baterias não eram fiáveis e necessitavam de muita manutenção. A ideia de Fischer era a de construir um relógio mecânico combinando-o com um gerador electro-magnético que fazia mover um trem de rodagem separado, que por sua vez se ligava ao trem de rodagem do relógio mecânico convencional. A cada minuto, o seu inductor dava um impulso muito curto (2-3/100 de segundo) de corrente (invertendo de cada vez a polaridade) que se transmitia a uma rede de relógios escravos, secundários. Na verdade, era apenas a rede que era eléctrica, pois o relógio mestre continuava puramente mecânico. Esse relógio tinha corda manual, embora mais tarde houvesse versões com corda electrificada.
Não estudámos em pormenor o Magneta que se enontra no Passos Manuel, não sabemos se ele funciona ou se tem as peças todas. De qualquer modo, importa salientar que estes relógios mecânicos eram equipados com calibres de qualidade superior, para poderem ser fiáveis no tempo que transmitiam à rede. Por outro lado, seria interessante saber se há documentação sobre a data da compra, para que departamento se destinou e se, no Passos Manuel, este relógio-mestre terá feito parte de um sistema intregrado de tempo, eléctrico, com relógios-escravos espalhados pela instituição. Esta seria uma hipótese aliciante.
Mas, ao fim e ao cabo, não merecerá o Magneta do Passos uma contextualização, uma localização mais condigna? E, porque não, pô-lo a funcionar?
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