NÃO É AINDA A LUZ DE ABRIL
Não.
Não é ainda a luz de abril
que alastra neste chão.
É apenas um sorriso,
um breve rumor a roçar
o veludo das ervas.
Ainda não se ouve, ao longe,
a canção do milho sobre os campos,
a sua gloriosa subida às mesas,
nas casas.
Ainda não se ouve nada.
Por agora falo-te da sombra
que sobra deste inverno,
da sombra que se cola à terra nua
E se demora no sono enrolado
dos gatos.
Ficarei por aqui. Aceito ficar
com as mãos magoadas
e o delírio da febre nos olhos
enxotando palavras de vento no escuro.
O sorriso?
Ah!... O sorriso entornou-o aqui a seda
de uma rosa.
Abriu-se, pura, à proa de uma súbita
primavera.
Lídia Borges, in Sementes Daqui
sexta-feira, 1 de abril de 2016
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