Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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quarta-feira, 12 de março de 2014

Meditações - A Morte, imóvel, a contar as horas


Encostada de leve à clara espalda
Da sua alta cadeira armoriada,
No salão, que, em nubente madrugada,
Watteau de Pastoraes todo engrinalda.

A marquesa sorru, sob a grinalda
Que lhe cinge a cabeça polvilhada,
E num pequeno mostrador de jada
Fita os olhos de límpida esmeralda.

Trila enfim o relógio multicor.
E ao dispersar das vibrações sonoras
Ouve-se perto uma canção de amor.

E ela vê tudo entre imortais auroras...
Só não vê, no impassível mostrador,
A Morte, imóvel, a contar as horas.

Daniela, in A Semana de Lisboa, suplemento do Jornal do Comércio, 1893

3 comentários:

João de Castro Nunes disse...


Para a morte baralhar
nas contas a meu respeito
resolvi para esse efeito
meu relógio avariar!

JCN

João de Castro Nunes disse...










Escada armadilhada

Para fazer a morte tropeçar
quando por mim vier, montei na escada
uma armadilha bem dissimulada
por forma a não poder desconfiar.

Longe de pretendê-la magoar,
a minha ideia, apenas e mais nada,
consiste em retardar sua chegada,
obrigando-a a subir mais devagar.

Quero ter tempo para a Deus pedir
perdão para os pecados cometidos
e cuja culpa… tenho de assumir.

Quero, além disso, dar um jeito à casa,
os meus papéis deixando encaixotados
enquanto, surpreendida, ela se atrasa!

João de Castro Nunes



João de Castro Nunes disse...

Altero o 1º terceto para:

Quero ter tempo para a Deus pedir
perdão para os meus erros e pecados
que sem desculpa tenho de assumir.


JCN