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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Memória - Portugal e a Suíça*

Segundo os dados oficiais de importação, de 1880 a 1887, Portugal metropolitano comprou ao estrangeiro uma média de 28.600 relógios por ano, para um total de 228.801 peças, entre relógios de bolso, de mesa, de sala ou de torre.

Entre relógios com caixa em ouro, prata ou outros materiais, o valor total gasto pelo país a importar relógios foi, em 1880, de 97.545.000$000 reis. Oito anos depois, gastava-se 171.105.000$000 reis.

Há 120 anos, os principais fornecedores, para a relojoaria de bolso, em ouro e prata, eram a França, a Suíça e a Alemanha. Para a relojoaria de sala, os Estados Unidos lideravam.

Há 115 anos, Arnaldo de Oliveira Pires publicava na Imprensa Nacional um pequeno livro “A Suiça”. Nele dava conta das importações feitas por Portugal em 1889, falando de um défice de 43.740.000$00 reis em relação às exportações realizadas para aquele país. Mas acrescentava: “a verdade é que escapou à estatística da exportação os inúmeros produtos da indústria suíça, adquiridos pelos viajantes cosmopolitas, que anualmente percorrem o país, produtos que não figuram nos mapas das alfândegas”. Entre esses produtos, figuravam maioritariamente os relógios.

Nesse tempo, a indústria de relojoaria helvética empregava 57 mil operários e era a principal do país. Arnaldo de Oliveira Pires foca especialmente a situação nos cantões de Genebra e Neuchatel e particularmente os casos das localidades de La-Chaux-de-Fonds e Le Locle, onde a maioria da população activa estava (e continua hoje) ligada à indústria relojoeira. “A maioria das casas destas povoações são pequenas oficinas onde muitos operários trabalham no fabrico das peças que compõem o mecanismo do relógio”.

“Geralmente, cada operário destina-se à construção de uma peça. Tais fazem uma roda, tais outra; este o cilindro, aquele os ponteiros, etc.”, descreve o autor, falando de uma indústria que foi pioneira na utilização da cadeia de produção, muito antes de Henry Ford (um antigo relojoeiro) a ter empregue nos Estados Unidos à indústria automóvel. “Da reunião das peças todas saem então máquinas completas, montadas já por outros especialistas. De sorte que o relógio é feito com a colaboração de muitos especialistas”.

Em 1919, Roque da Silva, funcionário do Consulado geral de Portugal na Suíça dava conta numa revista helvética do défice comercial português em 1917, de cerca de 5 milhões de francos suíços – os relógios e os produtos químicos eram os principais responsáveis pela situação.

Actualmente, os relógios são a terceira importação portuguesa (depois dos produtos químicos e das máquinas). Em 2001, com perto de 84 milhões de francos suíços, atingiu-se o recorde, mas a crise baixou os valores para um mínimo de 65,8 milhões em 2004. A recuperação tem sido lenta e, em 2006, Portugal importou 74,7 milhões em relógios suíços (sensivelmente o seu 25º mercado).

O défice comercial com a Suíça era em Março de 2007 de cerca de 150 milhões de francos suíços. A comunidade suíça em Portugal é constituída por cerca de 2.700 pessoas, contra 180 mil portugueses a residirem na Suíça, responsáveis pelo envio anual para Portugal de cerca de 580 milhões de euros.

*in A Máquina do Tempo, no suplemento Casual, Semanário Económico de 07.09.07

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