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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Embaixador João de Deus Ramos (1942 - 2018)


João de Deus Ramos, nos jardins da Fundação Oriente, em 2017

Faleceu hoje em Lisboa, vítima de cancro, o Embaixador João de Deus Ramos. Figura incontornável no meio académico ligado ao Orientalismo e à presença de Portugal na Ásia Extrema, foi o primeiro diplomata português acreditado em Pequim depois do 25 de Abril de 1974, e teve uma vasta produção na investigação destes temas, contribuindo para a formação de uma nova geração de sinólogos portugueses, a quem estava sempre a incentivar e apoiar.

Liga-nos a João de Deus Ramos uma amizade longa e tranquila, que vem dos tempos em que vivíamos em Pequim, como correspondente da agência noticiosa nacional, a LUSA. Cúmplices no gosto pela Ásia Extrema e adversos a uma certa história "luso-portuguesa" que se foi fazendo em Lisboa sobre a Expansão nessa parte do mundo, fomos ainda por cima amantes incondicionais de relógios e canetas...

Figura de uma amabilidade notável e de uma generosidade total, estava sempre pronto para ajudar na sugestão de um tema, na indicação de uma fonte primária, no apontar de leituras. Fosse o tema a China, o Japão, a Coreia ou... as máquinas do tempo e os instrumentos de escrita.

Guardamos com carinho as notas que João de Deus Ramos nos foi enviando, ao longo de décadas, pelo correio, escritas à mão, numa caligrafia bela, vertical e... diplomática. A memória da sua personalidade ficará connosco. À família, os nossos pêsames.


No lançamento do Anuário Relógios & Canetas, em Novembro de 2014

Uma vida ligada à Diplomacia, à História e ao Oriente

 João de Deus Bramão Ramos nasceu em Lisboa, em 1942. Era filho do embaixador João de Deus Bataglia Reis (1902-1974), neto de José Bataglia Ramos (1830-1896) e bisneto do poeta e pedagogo João de Deus.

Por decreto de 1905, foi criado o título vitalício de visconde de São Bartolomeu de Messines, cujo primeiro titular foi José Bataglia Ramos e João de Deus Ramos, embora não use o título, é hoje o seu legítimo proprietário.

Depois de frequentar o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, João de Deus Ramos licenciou-se em Direito, pela Universidade Clássica de Lisboa, em 1967. Faz nesse mesmo ano o concurso de admissão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e tem o primeiro posto no estrangeiro quando é colocado em Tóquio, como Secretário da Embaixada (1972-1975).

É Cônsul Geral em Genebra (1975-1979) e, de seguida, procede à abertura da Embaixada de Portugal em Pequim, como Encarregado de Negócios com Cartas de Gabinete (1979). Permanece na capital chinesa até 1981, com o cargo de Conselheiro de Embaixada.

De regresso à Europa, está no Colégio de Defesa da NATO, em Roma, em 1981 e 1982. Vai depois para Maputo, como Conselheiro de Embaixada, ficando em Moçambique até 1986. Nesse ano volta a ter directamente contacto com os temas da China, pois é membro da delegação portuguesa às negociações para a Declaração Conjunta sobre Macau.

Faz um interregno em 1987-1988, quando é Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Emigração, mas de 1988 a 1990 já o encontramos de novo como chefe da Base Principal do Grupo de Ligação e do Grupo de Terras, em Macau. Neste território sob administração portuguesa é Secretário Adjunto para os Assuntos de Transição do Governo de Macau (1990-1991) e segue neste último ano como Embaixador de Portugal no Paquistão, onde fica até 1993.

Com licença de longa duração no Ministério dos Negócios Estrangeiros, ingressa nessa altura como Vogal no Conselho de Administração da Fundação Oriente, onde se manteve até hoje.

Académico de Número e Vice-Secretário Geral da Academia Portuguesa de História, Académico Correspondente da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, membro fundador do Centro de Estudos Orientais da Fundação Oriente, membro da European Association of Chinese Studies, é também Presidente do Conselho Directivo da Associação dos Amigos do Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Autor de vários trabalhos sobre as relações entre Portugal e a China e sobre temas ligados à presença portuguesa no Oriente, João de Deus Bramão Ramos tem as seguintes condecorações: Grão-Cruz da Ordem de Mérito (Portugal), Comendador da Ordem de Isabel “A Católica” (Espanha), Oficial da Ordem de Mayo al Mérito (Argentina), Oficial da Ordem do Tesouro Sagrado (Japão), Cavaleiro da Ordem do Rio Branco (Brasil) e Cavaleiro da Ordem de Orange-Nassau (Países Baixos).

Em 2013, foi-lhe atribuído o Prémio Universidade de Coimbra, que distingue anualmente uma personalidade de nacionalidade portuguesa que se tenha destacado por uma intervenção particularmente relevante e inovadora nas áreas da cultura ou da ciência.


No lançamento do Anuário, em 2014


Uma das obras de João de Deus Ramos, apresentada no Museu do Oriente


Na apresentação do livro, feita pelo Presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino





Numa Conferência marcando os 500 anos de Relações Luso-Chinesas





Entrevista dada ao Anuário Relógios & Canetas, edição de 2014


O livro 500 Anos de Contactos Luso-Chineses, uma edição conjunta do jornal PÚBLICO e da Fundação Oriente, de 1998. João de Deus Ramos apoiou a iniciativa e prefaciou-a. Também apoiou a concessão de uma bolsa de investigação que a Fundação Oriente nos deu para investigar um espólio de livros da bibiolteca jesuíta de Pequim, que está agora em Irkutsk, Sibéria.


Fotos de Ricardo Bento para a reportagem de 2014 no Anuário, sobre o gosto de João de Deus Ramos por relógios e canetas





Algumas canetas da colecção de João de Deus Ramos



Na apresentação do Anuário 2018, em Novembro de 2017. Da esquerda para a direita, Fernando Correia de Oliveira, Editor-Chefe da publicação; António Ponces de Carvalho (primo de João de Deus Ramos); o Embaixador; Carlos Torres.


Foto que João de Deus Ramos cedeu para a reportagem de 2014, aparecendo ao lado do avô


Mais fotos de Ricardo Bento para essa reportagem













No seu gabinete, na Fundação Oriente









Em cima, falando das relações Portugal - China, na Fundação Medeiros e Almeida. A seu lado, a Directora da Casa-Museu, Teresa Vilaça. Em baixo, apresentando um livro de António Graça de Abreu, na Fundação Oriente.



Outro livro de João de Deus Ramos





Alguns relógios da colecção de João de Deus Ramos




Em cima e em baixo, o júri do Grande Prémio de Relojoaria, reunido em Novembro de 2017. Da esquerda para a direita, Fernando Correia de Oliveira, António Eduardo Marques, João de Deus Ramos, Teresa Vilaça, António Ponces de Carvalho, Paulo Padrão e Carlos Torres.

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