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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Portugal na Grande Guerra de 1914-1918 - VI


PORTUGAL NA GRANDE GUERRA DE 1914-1918

Fernando Correia de Oliveira

6 — Tudo acabou em La Lys

No dia 9 de Abril, Ludendorff lança um novo ataque maciço na frente de Ypres, na Flandres. Escolhe o sector português, junto ao rio Lys, mal guarnecido por uma divisão esgotada que devia ser rendida nesse mesmo dia. É a hecatombe. O Corpo Expedicionário Português tem um fim inglório, pagando o preço da sua impreparação.

“Meu pobre e louco Portugal, se deres o teu assentimento à guerra, é porque imaginas que estamos ainda no tempo das partazanas. A tua noção objectiva do mundo estacou nessa época recuada. De facto, a essa altura da História, os homens mediam-se pela força do braço e a grandeza da alma. Hoje estas medidas não contam; os dirigentes do mundo têm alma de rato; são velhos sem orgasmo ou temporãos caducos. Não vão à guerra; mandam, por via de regra, os filhos dos outros. [...] Meu pobre Portugal, sem fábricas, sem dinheiro, com negação absoluta para o expediente, que triste figura não hás-de fazer se puseres essa cruz às costas.”
Aquilino Ribeiro, Diário, 1914

A Batalha de La Lys, ocorrida a 9 de Abril de 1918, foi fruto da impreparação congénita do Corpo Expedicionário Português (CEP), da superioridade inevitável da artilharia alemã, corolário das duas condicionantes ou um desastre provocado pela política antibeligerante de Sidónio Pais? “O que se passou em 9 de Abril descreve-se em poucas palavras”, afirma José Gonçalves. “A 1ª Divisão do CEP, aquela que estava na frente desde o início, havia recuado alguns dias antes, tendo o seu comandante, general Gomes da Costa, passado a comandar a 2ª Divisão. Esta ficou a tomar conta de todo o sector, aguardando que uma divisão britânica se lhe juntasse. No entanto, face à situação em que se encontrava essa 2ª Divisão, o comando britânico ordenou também o seu recuo, passando todo o sector a ser ocupado por tropas britânicas. No momento em que se estava a iniciar esta operação (madrugada de 9 de Abril), os alemães atacaram. Alvo escolhido: o sector português.”

O resto, sabe-se: “A 2ª Divisão do CEP, apanhada de surpresa, foi literalmente arrasada. Desapareceram batalhões completos [...]. À 1ª Divisão, que se encontrava na retaguarda, coube a missão de avançar de novo e tentar suster o avanço alemão. Não o conseguiu: os alemães romperam a frente e ocuparam quase todo o sector. Em poucas horas, o CEP ficou reduzido a um amontoado de tropas desorganizadas, dispersas, destroçadas”, conta José Gonçalves. Gomes da Costa assinala a perda de 7500 homens, dos quais mais de mil mortos: 327 oficias e 700 praças, sensivelmente metade dos mortos em toda a campanha portuguesa na Flandres.

“O bombardeamento inimigo torna-se então medonho e o seu fragor mais intenso!”, escreve Humberto Almeida, nas suas memórias expedicionárias. “O espaço ardia em chamas, era tudo um mar de fogo! Em torno das posições de artilharia de Portugal caem nuvens de granadas, que fazem baquear os heróicos artilheiros que continuam fazendo fogo, num desespero! [...] Milhares de granadas de gás tornam a atmosfera irrespirável!”

Ferreira do Amaral, major de Infantaria na Flandres à altura da ofensiva sobre La Lys, relata a seu modo, como tudo se passou: “O general Ludendorff [...] deliberou lançar outro ataque contra Calais e Boulogne, marcando o dia 9 de Abril para o seu início, como podia ter marcado o dia 8, o dia 10, ou qualquer outro do mês de Abril. A 2ª Divisão portuguesa estava nesse dia guarnecendo a frente que cortava o caminho que Ludendorff necessitava ter livre, para se aproximar de Calais e de Boulogne. Daí ele ter, inevitavelmente, que vir às mãos com os portugueses. Dadas estas condições, começou a abrir caminho a tiros de artilharia pelas quatro horas e meia da manhã desse dia; pelas oito horas da manhã, entendeu que já era azado mandar avançar a sua infantaria; às dez horas e meia alcançava essa infantaria algumas baterias da nossa artilharia de campanha na nossa esquerda e, às onze horas e meia da manhã, tinha o inimigo conseguido matar, varrer e aprisionar uns milhares de portugueses que não o queriam deixar efectuar as suas decisões. Para isso entendeu, e muito bem, que tendo pela frente uma divisão, devia lançar contra ela oito divisões, sem se importar se era de portugueses, se era forte ou fraca, se estava nas linhas com ou sem vontade, se estava cansada ou não. Foi assim que esmagou os portugueses. Fez o que manda a cartilha da guerra moderna, que preceitua a quem ataca, fazê-lo na proporção de oito contra um. Há nisto alguma coisa de extraordinário?”

Parece que sim. Luís Fraga dá a entender que a espionagem alemã, muito activa não só em Lisboa, como nas linhas da frente da Flandres, entre prisioneiros capturados ou população civil francesa, terá sabido da fragilidade do sector sob responsabilidade dos portugueses em La Lys, traduzida em “quatro meses de empenhamento de todas as unidades, sem repouso na retaguarda, inexistência de uma divisão em reserva, um rigoroso Inverno vivido nas trincheiras e ausência de reforços frescos idos de Portugal”. E as muito profissionais propaganda e contra-informação do Reich lá iam largando panfletos, de avião, sobre os atarantados magalas lusos, onde os célebres “folhetins de guerra” os informavam, diariamente, da sorte dos colegas ingleses, rendidos de dois em dois meses, das relações de Lisboa com Londres, que nunca navegaram por águas calmas, do esquecimento a que o CEP estava votado.

A vida nas trincheiras ou o preço da incúria

“A lama, essa terrível lama das trincheiras da Flandres, forte como grude, agarra-nos os pés a cada passo, procurando prender-nos para sempre àquele solo da França [...]. O divertido, porém, é se o boche [...] nos manda dois ou três ‘shrapnells’ ou uma surriada de metralhadora: é então o momento de uma pessoa meditar nas tolices que tem feito durante a vida e dar ao diabo as ideias guerreiras que lhe enchiam o cérebro, quando na Rua do Ouro”, recorda Gomes da Costa nas suas memórias das trincheiras.

“Chegamos então ao comando da Companhia; é um buraco de 1,80m por 2,50m, aberto num parapeito e, para se penetrar nele, tem de se atravessar primeiro um pequeno lago e, depois, descer uns três degraus; [...] acende-se uma vela e à sua luz distingue-se uma mesa de pinho, dois bancos, dois leitos de ferro [...]. Pelas paredes manchadas pela humidade, páginas do álbum ‘French girls’. [...] O abrigo não protege contra um ‘shrapnell’ caindo em cheio, mas protege contra estilhaços e balas de espingarda, o que já não é mau, e protege da chuva, tanto como a média dos casacos ‘waterproof’ . Alguns ratos, do tamanho de gatos, domésticos e mansos, exploram o conteúdo de uma lata de ‘corned beef’ aberta [...].”

Para Gomes da Costa, os soldados portugueses fizeram o melhor que puderam, dadas as circunstâncias: “Lançado inesperadamente numa guerra que estava longe de prever, o país viu-se em dificuldades, com um exército desprovido de organização apropriada, sem uniformes, sem armamento, sem munições, sem transportes e sem dinheiro.”

Contava-se que os capacetes do CEP, de fabrico britânico, deverão ter sido “um negócio da China” para alguns, pois tinham sido retirados do mercado em Inglaterra, por manifesta falta de qualidade e de segurança, e agora eram vendidos a Portugal...

Apenas “a energia formidável de um extraordinário homem de acção”, o ministro da Guerra de Julho de 1915 a Dezembro de 1917, Norton de Matos, supriu as deficiências, segundo Gomes da Costa. “Fez organizar batalhões, fê-los embarcar e despejou-os no cais de Brest [em Fevereiro], meio atordoados pela rapidez desacostumada de movimentos, e sem perceberem bem, ainda, para onde para que iam”.

Bento Roma, outro combatente, dava conta de que a espingarda distribuída a cada soldado pela logística inglesa “era diferente da que conhecia em Portugal”. E o tenente-coronel Luís do Nascimento Dias reconhece, em 1915; “Era incompleta a nossa preparação militar para uma guerra de trincheiras, porque todos ou quase todos os modernos engenhos de guerra nos eram desconhecidos ao tempo da nossa partida para o campo de batalha.”

Augusto Casimiro, encarregado pelo regime de coleccionar e tratar toda a documentação da participação portuguesa no teatro de guerra europeu, e que “produziu” o chamado “Livro Branco”, admitia em Agosto de 1916: “A guerra não é popular. Só uma minoria compreende hoje a vantagem, a absoluta necessidade da nossa intervenção. A maior parte das classes médias supõe essa intervenção o criminoso resultado de uma cabala beneficiando apenas os republicanos que a defenderam e promovem.”

A partida do primeiro contingente português para a frente de batalha em França dera-se a 26 de Janeiro de 1917, em navios britânicos. Chegava às linhas da frente em Março. “O português foi para a guerra, porque o mandaram, sem o entusiasmo que só deriva de um objectivo real, levantado e nobre, e isto explica a má vontade com que a grande maioria dos soldados embarcou para a França”, recordaria, em 1920, o comandante das divisões portuguesas na Flandres.

“O CEP nunca teve material à altura, nem em quantidade, nem em qualidade”, diz José Gonçalves. Segundo uma convenção assinada em Janeiro de 1917 entre Lisboa e Londres, os britânicos comprometiam-se a, além de fornecer os barcos para o transporte, dar o material. Os ingleses, depois dos primeiros barcos, recusaram-se a disponibilizar mais os meios de transporte prometidos. E, quanto ao armamento, a resistência foi semelhante, especialmente no que respeita a artilharia pesada.

A Grã-Bretanha nunca se tinha entusiasmado com a ideia de Portugal participar na guerra. Pelo menos na Europa. “Portugal não foi convidado a entrar na guerra, mas ‘convidou-se’ a si próprio”, escreve José Gonçalves. Mobilizou efectivos que “não estavam preparados para uma guerra como a que se estava a travar”; “Sidónio Pais não inverteu o processo da participação: com Sidónio ou sem Sidónio, os acontecimentos de 1918 seriam inevitáveis”.

“Uma libra por cada soldado”

A resistência interna à incorporação forçada de mancebos era ajudada pela propaganda monárquica e clerical. Aos camponeses e trabalhadores rurais, a reacção ia-lhes dizendo que Afonso Costa era a encarnação moderna de Satanás e que os ingleses lhe davam uma libra por cada soldado que ele conseguia enviar para a Flandres. “Comentadores de espírito”, recorda Pulido Valente, “chamariam depois ao CEP (...) Carneiros Exportados de Portugal . Exportados para o matadouro, evidentemente, pelos empresários da guerra, nome terrível e revelador com que foram baptizados todos os intervencionistas e que não tardaria a entrar na linguagem oficial”.

“Ao contrário do que esperavam, ao conduzir Portugal à guerra, os democráticos não só não adquiriram o respeito dos Portugueses, mas levantaram contra eles um ódio cuja intensidade só Sidónio descobriria aos seus olhos estupefactos”, conclui Pulido Valente. Já em Janeiro de 1917, um ano antes do golpe sidonista, o primeiro contingente português a que coube a sorte de embarcar para França, o de Tomar, recusou-se a fazê-lo, ficando de imediato sob prisão. Gomes da Costa lembra que “de Dezembro a Abril [de 1917-18], isto é, em cinco meses, as divisões portuguesas conheceram três divisões inglesas à sua direita (...) e quatro à sua esquerda (...) e as nossas divisões não viam no horizonte um vislumbre de esperança, sequer, de serem rendidas”. Sublinha ainda que oficiais e soldados “sabiam de promessas feitas em Portugal a regimentos, de que não seriam mandados para a guerra”. Tratava-se dos Cadetes instruendos da Escola de Guerra, que foram cúmplice de Sidónio no golpe de 5 de Dezembro; estando eles prontos para embarcar para a Flandres, tiveram como prémio ficar em Lisboa. Na Flandres, os desgraçados elementos do CEP perguntavam chocarreiramente uns aos outros, enquanto trauteavam o “Fado do Cavanço”: “Então a Alemanha declarou a guerra a Portugal ou só ao CEP?”

O total de efectivos embarcados para França foi de 3260 oficiais e 114 equiparados, e 51.709 praças, para um total de 55.083 homens. A 4 de Abril de 1917 morria em combate o primeiro soldado português na frente francesa. No fim, registariam 1938 mortos, 5198 feridos e 6969 prisioneiros ou desaparecidos, incomparavelmente menos do que as baixas nas campanhas de África, na mesma altura. (1).

José Gonçalves faz notar que o CEP nunca teve 55 mil homens operacionais, longe disso. Embarcaram, de facto, para França 55 mil, mas um relatório do Estado-Maior do Exército sobre a distribuição de tropas durante a guerra refere que, em 19 de Março de 1918, o CEP tinha um total de 33.278 homens prontos a combater. “Ora, como até aquela data só tinham sido repatriados cerca de 2200, isso significa que faltavam perto de 20 mil homens ao efectivo total do CEP”, constata ele. Como o próprio relatório refere, a maioria estava em hospitais militares. A razão de ser de tantas “baixas” ao hospital de campanha pouco teve a ver com a guerra em si. Cerca de 90 por cento não estavam “de cama” devido a ferimentos de guerra ou a gases, mas por “outras doenças”, como descrito na estatística oficial do Exército português. “Estes números dispensam qualquer comentário”, conclui José Gonçalves. “O CEP era, com efeito, uma força militar ‘doente’.”

Valeu a pena?

Para Luís Fraga, “se tivermos em consideração que tanto em relação à conjuntura ibérica, como em relação à conjuntura geral, Portugal, além de dependente, era um país de fracos recursos de toda a ordem”, torna-se fácil perceber que “a beligerância com a Alemanha não constituiu um fim, mas foi um meio”. E acrescenta: “Quando o Governo de Portugal pretendeu, a todo o transe, o estado de guerra com a distante Alemanha, com quem, no entanto, mantinha relações comerciais quase paritárias às que desenvolvia com a Grã-Bretanha, sacrificou interesses que poderia recuperar no pós-guerra, em favor de vantagens que na paz não alcançaria.”

Assim, os vários governos de Lisboa, com os “interregnos” ditatoriais e militares de Pimenta de Castro e Sidónio Pais, teriam desenvolvido uma estratégia indirecta em relação à Alemanha: “Provocando-a, mas não tomando a iniciativa de lhe declarar guerra, [Portugal] arredou o perigo imediato da perda das colónias africanas sem, contudo, impedir que no pós-guerra as relações comerciais se mantivessem.” Em relação à Espanha, “bloqueando, através da beligerância nacional”. Quanto à Grã-Bretanha, “tentando a paridade de soberanias, limitando-lhe a manobra negocial e anulando-lhe a possibilidade de apoiar, no pós-guerra, a monarquia banida”.

Ferreira do Amaral, já em 1923 se insurgia contra o aproveitamento político que a guerra tinha em Portugal: “Os senhores políticos, com a maior impolítica, começaram a acusar-se mutuamente de responsáveis pelo que se passou nos pântanos da Flandres, no dia 9 de Abril de 1918, esquecendo-se todos eles de que o general alemão Ludendorff não consultou nenhum dos partidos políticos de Portugal para tomar a deliberação de forçar o caminho de Calais, nesse dia [...]. Os políticos denominados ‘democráticos’ vomitam pragas contra os chamados ‘sidonistas’, acusando-os de responsáveis pelo desastre de 9 de Abril, o que nos leva a concluir que estão convencidos, ou que sabem de fonte segura, que os sidonistas pediram ao general alemão a fineza de atacar os portugueses, sem falta, nesse dia! Em revindicta, os sidonistas despejam sobre os democráticos as maiores diatribes, tornando-os responsáveis pelo desastre de 9 de Abril: e deste modo, devemos ou podemos concluir que os sidonistas possuem documentos, em que provarão, a seu tempo, que o Governo, que mandou as tropas para o ‘front’ ocidental, empregou todos os esforços para que os portugueses fossem colocados num sector, que de antemão se sabia dever ser atacado no dia 9 de Abril de 1918! [...] O 9 de Abril não pode constituir prato do dia para os abelhudos que respiram só política (...) O 9 de Abril pertence só aos soldados que nesse dia se bateram na Flandres (...).”

Segundo João Chagas, aquele que mais participou na propaganda belicista, num “tandem” de que fazia parte Afonso Costa, a experiência não terá valido a pena. Ele registou no seu Diário, a 23 de Junho de 1918, sobre a jornada de La Lys, ao fim e ao cabo aquela que cristalizava toda a precariedade da participação que se saldara num desastre: “O valor moral dos portugueses foi posto a uma rude prova. Falhou. O edifício de glória nacional que alguns homens tentaram edificar não tinha base na sociedade. Foi-se abaixo a esperança de um Portugal novo, renascido, grande nação, entrando de cabeça erguida no concerto das nações.” E lançava, pessimista, em Novembro do mesmo ano: “Quisemos construir um Portugal novo com materiais do Portugal velho. Construímos com traves podres!” Não admira que, um dia, a casa viesse abaixo. Para Luís Fraga, o balanço não é tão catastrófico. Faz notar que “logo em 1919 se estabeleceram contactos comerciais com a Alemanha, os quais foram num crescendo até à eclosão da II Guerra Mundial; a Espanha nunca mais manifestou intenções anexionistas; a Grã-Bretanha não mais negociou com qualquer potência mundial o património português, nem apoiou a restauração da monarquia em Portugal (...)”. Embora reconheça que a paridade de soberanias entre os dois velhos aliados e a consequente diminuição da dependência portuguesa só tenha sido possível quando a Grã-Bretanha perdeu importância a nível global, depois de 1945. Para ele, mesmo assim, “o empenhamento militar de cerca de 55 mil homens nos campos da Flandres, entre Janeiro de 1917 e Novembro de 1918, valeu a pena”.

No entanto, o “belicista” e republicano desgostoso João Chagas tinha no último dia de 1918 uma visão diferente, que confessava ao seu Diário: “A impressão que os próprios portugueses procuraram dar à opinião pública do mundo foi a de que Portugal não se decidia a entrar na guerra senão por ser um aliado da Inglaterra! Espantosa anomalia moral! Espantosa renúncia! Espantosa abdicação! Com este ano de 1918 fecha-se um ciclo da nossa História, que poderia ter sido admirável e que foi simplesmente e lamentavelmente desastroso. O que resta no meu espírito das minhas esperanças aniquiladas é só humilhação. Esperanças novas não as tenho. Não se apresentam duas vezes na História de um povo ocasiões de se engrandecer. A única que tivemos perdemo-la. Outra não volta”.

Seguindo o raciocínio de Aquilino, Chagas imaginava estar ainda a viver “no tempo das partazanas”. Mas a Grande Guerra, além de ter sido o berço de outra, ainda maior, dera início ao século XX, e as partazanas tinham, decididamente, acabado.

(1) Em África, estiveram envolvidos mais de 50 mil homens, contando com um maciço efectivo indígena: cerca de 31 mil em Moçambique e 23 mil em Angola. O número de baixas, entre mortos, feridos e inutilizados por doença, terá ascendido aos 21 mil, também na esmagadora maioria indígenas.

Amanhã:

7 Guerra, fome, doenças e milagres

Para ler o primeiro artigo da série, vá aqui. O segundo, aqui. O terceiro, aqui. O quarto, aqui. O quinto, aqui.

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