Vai de labuta em labuta!
Já quase em meio, o celeiro;
A adega, já quase enxuta...
E, dos campos para a vinha,
Das hortas para o pomar...
- Nem que Deus, de enxada ao ombro,
Fosse ao meu lado, a ajudar!
São como os ramos das árvores
Trabalhos do Lavrador:
Em lhes dando o sol de Maio,
Despontam, seja onde for!
- "Olha aquela terra, além,
Cheia de pedra e gramão;
Pede enxada, como a boca
Pede beijos, pede pão!
Olha a vinha, como afroixa!
Precisa de nova redra:
Terra dura, ervas sobejas,
Comem-lhe o viço, e não medra.
Deita esses gados ao pasto...
Cautela com os novilhos!
São travessos, e gulosos:
Gostam da pompa dos milhos!
E a vaca que teve cria?
- Enquanto dura a madorna,
Tem maquia na moenda,
Meladices de água morna! -
Despampanai-me as latadas
D'esses pimpolhos mais tenros:
- Filhos-ladrões! comem tudo,
Não servem, nem para genros... -
Olha aquela poça de água,
Tão cheia, a esbordar por fora...
Sangue da terra, ajuntado
Gota a gota, de hora em hora!
- Gentes, andai! Chô, daninha
Passarada dos trigais! -
Uns preguiçam, outros roubam...
Nem sei a quem guardar mais!
Olha aquelas oliveiras!
Se não arrolas a copa,
O que há-de ser para a lâmpada,
Vai-se-lhe todo na opa...
E as achas? e a horta? e a eira?
E as ceifas do trigo? e as mondas?
Ó mar da Vida, ó trabalho:
Vão ondas, tornam mais ondas!
E o Lavrador, sempre em lida;
A terra, sempre em desejos...
- Não ter o corpo mais braços
Do que a boca tem de beijos!
António Correia de Oliveira (1878-1960), poeta português
Sem comentários:
Enviar um comentário