A pele porosa do silêncio
agora que a noite sangra nos pulsos
traz-me o teu rumor de chuva branca.
O verão anda por aí, o cheiro
violento da beladona cega a terra.
Cega também, a boca procura
trabalhos de amor. Encontra apenas
o nó de sombras das palavras.
Palavras... Onde um só grito
bastaria, há a gordura
das palavras. Palavras -
quando apetecem claridades súbitas,
o sumo estreme, a ponta extrema
to teu corpo, arco flecha,
corola de água aberta
ao fogo a prumo do meu corpo.
Do chão ao cume das colinas
da terra, eis as areias. Cala-te.
Deita-te. Morre. debaixo dos meus flancos.
A terra toda em cima. Agora arde. Agora.
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
Sem comentários:
Enviar um comentário