Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Meditações - Amanhã que importa que importa ontem

CHEGO ONDE SOU ESTRANGEIRO

 

Nada é tão precário quanto viver

Nada quanto ser é tão passageiro

É quase como gelo derreter

E para o vento ser ligeiro

Chego onde sou estrangeiro

 

Um dia passas a margem

De onde vens mas onde vais então

Amanhã que importa que importa ontem

Muda o cardo e o coração

Tudo é sem rima nem perdão

 

Passa na tua têmpora teu dedo

Toca a infância como os olhos veem

Baixa as lâmpadas mais cedo

A noite por mais tempo nos convém

É o dia claro envelhecendo

 

As árvores são belas no outono

Mas da criança o que é sucedido

Eu me olho e me assombro

Deste viajante desconhecido

Seu rosto e seu pé desvestido

 

Pouco a pouco te fazes silêncio

Mas não rápido o bastante

Para não sentires tua dessemelhança

E sobre o tu-mesmo de antes

Cair a poeira do tempo

 

É demorado envelhecer enfim

A areia nos foge entre os dedos

É como uma água fria em torvelim

É como a vergonha num crescendo

Um couro duro corroendo

 

É demorado ser um homem uma coisa

É demorado renunciar totalmente

E sentes-tu as metamorfoses

Que se passam internamente

Dobrar nossos joelhos lentamente

 

Ó mar amargo ó mar profundo

Qual é a hora da preamar

Quanto é preciso de anos-segundos

Ao homem para o homem abjurar

Por que por que esse gracejar

 

Nada é tão precário como viver

Nada quanto ser é tão passageiro

É quase como gelo derreter

E para o vento ser ligeiro

Chego onde sou estrangeiro

 

Louis Aragon

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