Anonimo - o relançamento de uma marca - reportagem no Fora de Série Especial Relógios 2013:
Anonimo procura renascer
Aliança italo-suíça
Fernando Correia de Oliveira, em Florença
O que é mais importante? A marca ou o produto? Há 15 anos, uns florentinos teimosos acharam que o produto é a resposta e lançaram a Anonimo. Os novos donos querem reforçar o swiss made, sem perder as raízes toscanas.
Quando o grupo Vendôme (hoje Richemont) comprou a marca florentina Officine Panerai, em 1997, uma série de quadros, entre engenheiros especializados em relógios de mergulho e vendedores, deixaram a empresa e fundaram uma nova, a Anonimo.
Entre os históricos encontrava-se um dos principais vendedores da Panerai, o histórico Dino Zei, ou o engenheiro Federico Massacesi. Eles conseguiram capital belga para avançar com a Anonimo. A escolha do nome não foi ao acaso. Pretendiam dizer com isso que “o produto é mais importante que a marca”.
A Anonimo, em década e meia, conseguiu impor-se no nicho de mercado dos relógios de mergulho, fruto da experiência adquirida na Panerai. Vem também dos tempos antigos a tradição do trabalho em bronze, um material difícil de tornear mas cheio de imaginário para quem quer transmitir um ADN ligado ao mar.
Reivindicando-se dos “verdadeiros valores florentinos”, a Anonimo foi usando o know-how local na produção de caixas – feitas totalmente ao torno, de uma só vez, e à temperatura ambiente, por operários altamente especializados.
Por outro lado, a Anonimo bebia da tradição relojoeira da Toscânia, onde nomes como Giovanni Dondi, Leonardo da Vinci, Galileu…
Nascia, com sucesso, a linha Militare, com uma caixa de forma, que a Panerai tinha deixado nos arquivos da empresa, sem demonstrar interesse por ela. Eram relógios com design italiano, mas calibres suíços – ETA e Sellita, com módulos Dubois-Dépraz. Com três ponteiros ou cronógrafos, e até GMTs. Alguns, estanques até 500 metros.
A crise de 2008 afectou a Anonimo, que passou por alguns anos de indefinição. Até que um outro histórico da relojoaria, o luxemburguês Raymond Reuter (ex-Hublot), terá conseguido interessar um grupo de investidores do Grão-Ducado. E, no Verão de 2012, os fundadores da Anonimo deram lugar a outros.
A Anonimo está, pois, num processo de relançamento. Uma vintena de jornalistas especializados, entre norte-americanos, alemães, belgas, franceses e… português, foi convidada a acompanhar esse esforço, numa visita a Florença.
Se Reuter tem agora a seu cargo as Relações Públicas da Anonimo, Cédrick Boutonet, um francês de 44 anos, que tem uma carreira longa no segmento do luxo - Cartier, Dunhill, Vertu, Zilli - é o novo CEO da marca.
Nesta visita, tomámos contacto com a pequena manufactura Gervasi & C., de Gervasi Gianluca, que faz as caixas de bronze para a Anonimo, uma das "assinaturas" mais conhecidas da marca.
Depois, houve um jantar no Castelo Frescobaldi, onde a família com o mesmo nome produz vinho há mais de 700 anos. Os Frescobaldi são há mil anos protagonistas na história da Toscânia e de Florença. Foram mecenas de Brunelleschi ou de Dante, foram poetas (Dino Frescobaldi) ou compositores (o barroco Gerolamo Frescobaldi). Os seus vinhos desde cedo começaram a ser servidos na corte papal ou na corte inglesa, desde Henrique VIII.
Os ambientes da oficina de caixas de Gervasi e do castelo dos Frescobaldi permitiu o tal “mergulho” no ambiente florentino de que a Anonimo se reivindica.
Na manhã seguinte, Boutonet apresentou aos jornalistas os protótipos que serão lançados oficialmente na Baselworld 2014. De novo, modelos de três ponteiros, cronógrafos ou GMTs. Com caixas de aço, aço revestido a DLC ou bronze.
Haverá apenas um tipo de caixa, com ligeiras modificações relativas à já existente linha Militare (a coroa, por exemplo, passa para as 12h00).
O modelo de bronze será como que a "talking piece" da Anonimo, que reforçará a sua ligação histórica a Florença com a manufactura das caixas na região. Mas, que ao mesmo tempo, passará a ser Swiss Made, pois reforçará a componente de calibres helvéticos, passando a respeitar a percentagem de valor acrescentado para poder usar essa classificação. A montagem e controlo de qualidade passam de Florença para Chavin, entre Genebra e Nyon.
Os calibres serão todos automáticos e os novos Anonimo terão preços entre os 3.480 e os 7.100 euros.
A Anonimo está a refazer por completo a rede de distribuidores e procura representantes para Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde...
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