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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Memória - Utopia mecânica ou a influencia da Relojoaria na Filosofia I



Utopia Mecânica

Fernando Correia de Oliveira *

Rousseau, d’Alembert, Chamfort, Voltaire e a Relojoaria I

Desde o aparecimento da Relojoaria Mecânica, no final do séc. XIII e início do séc. XIV, que muitos autores, nomeadamente de textos religiosos, sentiram a tentação de comparar o comportamento das engrenagens dos medidores do tempo com o Universo. E Deus foi chamado de Supremo Relojoeiro, criador e guardião da Mecânica Celeste, tão perfeita na sua Harmonia de Esferas. Os corpos celestes com os seus ritmos exactos, eram, eles próprios, inspiradores dessas mesmas engrenagens, que os representavam em miniatura, através de relógios astronómicos. Na Terra, os reis deveriam governar segundo as regras do “relógio” de Deus e serem, eles próprios, “mestres relojoeiros” das sociedades que tinham ao seu cuidado.

Os Enciclopedistas, o Século das Luzes, voltaram a fascinar-se pelo mundo da relojoaria. “Utopia Mecânica” será uma série de artigos onde se faz a abordagem a essa relação entre Relojoaria e Filosofia, que irá prolongar-se nos séculos XIX e XX, por exemplo, a anarquistas e comunistas.

O filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no seu insistente desejo de encontrar um país ideal onde Natureza e Cultura chegassem a uma síntese harmoniosa, pensava na Suíça como a terra onde uma população se ia desenvolvendo sem abandonar o contacto com a Natureza – tão caro às ideias rousseanas – e conseguia, ao mesmo tempo, um grau muito elevado de perfeição técnica. Numa carta ao filósofo francês Jean le Rond d’Alembert, recorda o que viu nos arredores de Neuchâtel, onde vivia uma população realizando o ideal de vida perfeita, desenvolvendo uma criatividade produtora de inúmeros objectos, que exportava, inclusivamente para Paris. “Entre outras coisas, estes pequenos relógios de madeira que desde há anos se vêem por aí. Fazem-nos também de ferro, e relógios de bolso, e, o que parece incrível, cada um destes artesãos reúne em si todos os ofícios em que se divide a relojoaria, e inclusivamente fabricam eles próprios as suas ferramentas”. Rousseau admira a ilustração destes industriosos montanheses que, para o autor do Contrato Social, constituem exemplares perfeitos da Humanidade.


 O próprio d’Alembert usou recorrentemente a imagem do relógio para exprimir as suas ideias filosóficas: “Haverá mais crimes num mundo onde não existam nem pena nem recompensa, como haveria mais desacerto num relógio cujas rodas não tivessem todos os seus dentes”; ou ainda: “Aquele que tivesse inventado rodas dentadas e pinhões teria inventado os relógios num outro século”.

Outro filósofo francês, Sébastien Roch, dito Nicolas de Chamfort, afirmava pela mesma altura: “A felicidade é como os relógios. Os menos complicados são aqueles que se desregulam menos”.

Continua

*Investigador do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades
*Texto escrito para a Revista Espiral do Tempo

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Do tempo determinar
os passos que ele vai dando
é tarefa singular
para qualquer doutorando!

JCN

João de Castro Nunes disse...

O relógio é em pequeno
o que é em grande o universo:
unicamente é diverso
o tamanho do terreno!

JCN