Tudo o que se repete de forma cíclica, mais ou menos regular, pode ser usado como marcador de tempo. E praticamente todos os seres vivos têm ritmos biológicos, comandados essencialmente pela presença ou ausência de luz solar. A relação entre o Tempo e a Vida é estudada na Cronobiologia.
Num organismo vivo, as mudanças genéticas, fisiológicas e comportamentais que seguem o ciclo de dia e de noite são chamadas ritmos circadianos (de cerca de um dia – no Homem, ele é na verdade de um pouco menos de 24 horas e todos os dias temos que adaptar ligeiramente o nosso organismo ao dia convencionado).
Mas estas oscilações são bem conhecidas noutros mamíferos (há um ritmo circanual, de cerca de um ano, que depende das Estações e da quantidade de luz solar disponível, fazendo com que os estados de euforia sejam mais frequentes na Primavera e os de depressão no Outono, mas decretando também noutras espécies estados como o da hibernação).
O ritmo circadiano ainda tem muitos mistérios por desvendar, mas sabe-se já que ele regula o ritmo cardíaco. E que, por exemplo, os ataques de coração são mais frequentes às 10h00 da manhã do que em qualquer outra hora. Numa experiência recente, grupos saudáveis viram os seus corações analisados ininterruptamente, durante dez dias, através de electrocardiograma. Independentemente das tarefas que desempenhavam, das emoções que sentiam, todos eles tinham picos de batidas entre as 09h00 e as 11h00.
Mas os insectos, as plantas, até os fungos têm ritmos circadianos (estes últimos, agindo por fotossíntese, mantêm o seu relógio biológico a trabalhar independentemente dos estímulos exteriores, e passam essa capacidade de relógio durante a divisão celular).
Uma experiência fascinante, realizada recentemente nos Estados Unidos, levou ao convívio laboratorial bactérias provenientes de fusos horários com três horas de diferença (Nova Iorque e Califórnia). Pois cada grupo manteve o seu ritmo próprio, resistindo à mudança, mesmo quando houve contacto directo entre as duas colónias.
Quando forçamos o nosso organismo a mudanças geográficas rápidas – numa viagem de avião, por exemplo, dá-se um choque de inadaptabilidade conhecido pelo nome inglês – jet lag. O jet lag afecta a comunicação entre as células foto-receptoras existentes na retina dos nossos olhos e o hipotálamo, uma glândula na base do cérebro que liga os sistemas nervoso e endócrino e, entre outras coisas, regula o relógio circadiano do corpo, através do neuro-transmissor serotonina. O viajar através de vários fusos horários requer adaptação a um novo ciclo de dia/noite, e que pode demorar vários dias.
Pois descobriu-se agora, também nos Estados Unidos, que o Sildenafil, o princípio activo do Viagra, medicamento para a disfunção eréctil, restringe os efeitos de jet lag… em ratos de laboratório. Mas só quando estes viajam para leste, seguindo o movimento aparente do Sol. Para Oeste, contrariando-o, nem com Viagra os ratos escapam aos sonos desencontrados…
*Crónica A Máquina do Tempo, publicada no Casual, suplemento do Semanário Económico de 28/06/07
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