No final de 2006, a indústria suíça de relojoaria e microtecnologia empregava mais cerca de 3 mil pessoas do que um ano antes, passando de 42 mil para 45 mil. Desde 2005, o sector aumentou em 10 por cento a sua mão-de-obra, levando-o a níveis próximos dos atingidos há 25 anos, em 1981, quando se estava nos 45.885 trabalhadores.
De qualquer modo, e apesar da euforia numa indústria que tem sabido resistir à globalização e a deslocalizações, ainda se está longe dos números recorde de 1970 – cerca de 90 mil. Nessa altura, com o advento dos relógios de quartzo e a entrada em cena de produtores como o Japão, a indústria relojoeira helvética iniciou uma violenta adaptação, estando em 1987 a empregar um mínimo histórico de 30 mil pessoas.
Dos 45 mil de hoje, três quartos estão adstritos à produção e o restante quarto ao trabalho administrativo. Nunca como hoje a formação profissional dos trabalhadores foi tão elevada, derivado do facto de a indústria estar cada vez mais voltada para a Alta Relojoaria, para o mercado do luxo, para produtos de alto valor acrescentado. Assim, mais de 10 por cento do pessoal dedicado à produção tem formação universitária e 40 por cento tem um curso técnico especializado.
O sector está a viver anos gloriosos, batendo recordes desde 2003 e a taxas de crescimento de dois dígitos, mercê de mercados gigantescos emergentes, sedentos de produtos de luxo. Isso tem provocado alguns problemas de produção, com atrasos de anos na entrega de novos modelos, com o rateamento das peças mais procuradas e em detrimento de mercados pequenos e periféricos como o português. Segundo observadores no meio, as fábricas de relógios suíças poderiam facilmente ter aumentado no ano passado entre 20 a 50 por cento os seus lucros se tivessem entregue a horas as encomendas. Os problemas de produção poderão vir a ser agravados com as novas regras do Swiss Made.
Mas o principal problema reside nos relojoeiros – a médio prazo, calcula-se que a indústria venha a necessitar de dez mil. Ora isto são números impossíveis de conseguir, para uma profissão que exige pelo menos cinco anos de formação e outros cinco de especialização. Hoje em dia, mestres relojoeiros são disputados pelas principais manufacturas quase como jogadores de futebol e os seus salários têm subido exponencialmente. O apoio às escolas de relojoaria existentes, a criação de escolas dentro das próprias fábricas, tem aumentado, e até relojoeiros reformados têm sido aliciados a voltar ao trabalho.
Mas, com o regresso do interesse pelo relógio mecânico, que vendeu dezenas de milhões de peças nos últimos dez anos em todo o mundo, a questão essencial para o futuro será o serviço pós-venda, algo que muitos vêem como uma autêntica bomba-relógio a explodir lá para 2020.
*Crónica A Máquina do Tempo, publicada no Casual, suplemento do Semanário Económico de 22/07/07
(A situação aqui retratada é anterior à crise financeira mundial do final de 2008, e a indústria relojoeira helvética reduziu, entretanto, algumas centenas de postos de trabalho, mas sem atingir, até agora, o dramatismo da crise do quartzo nos anos 80. Quanto aos relojoeiros reparadores, veja-se, por exemplo, a actual situação nos Estados Unidos: há cerca de 4 mil, com idade média de 47 anos. Cerca de metade deverão reformar-se nos próximos dez anos).
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