O Anuário Comercial de Portugal (ACP) de 1906 recordava: “A uma da tarde, hora oficial, é anunciada por um tiro de peça dado na Escola Politécnica. A hora é telegraficamente transmitida do observatório da Tapada”.
Nesse mesmo ano, o Anuário dava conta do “novo sistema de contar as horas”, emitido pelo Bureau de Longitudes, de Paris, e onde se informava que “a partir de 1900, todas as datas são expressas em tempo médio civil contando de 0h a 24h”. O anuário fazia notar que “muitos horários de caminhos-de-ferro já têm adoptado este modo de dividir o tempo, evitando assim confusões e erros dimanados com a designação usada de manhã, de tarde e de noite”, e acrescentava: “Em Espanha, o novo sistema de contar as horas foi já oficialmente aprovado”.
Só a partir de 1 de Janeiro de 1912 a hora legal em todo o território da República Portuguesa fica subordinado ao meridiano de Greenwich, aderindo finalmente o país à Convenção adoptada em Washington em 1884 e que estabeleceu o sistema dos fusos horários.
Assim, nesse dia, os relógios foram adiantados em Portugal continental 36 minutos, 44 segundos e 68 centésimos, além de que desaparecia a diferença de cinco minutos entre os relógios internos e exteriores das estações ferroviárias. Nos demais territórios da República Portuguesa a alteração foi feita em harmonia com o fuso horário onde passaram a ficar inseridos.
O ACP de 1915 informava, entretanto: “Já funcionam nos pilones da Alfândega e da Junqueira os sinais luminosos que indicam a hora exacta na cidade e porto de Lisboa. Ao mesmo tempo funcionam os relógios, com idêntico fim, numa torre no Cais do Sodré e em alguns estabelecimentos oficiais e particulares”.
O sistema luminoso era accionado pelo relógio do Cais do Sodré que, por sua vez, trabalhava sincronizado electricamente com uma pêndula do Observatório Astronómico de Lisboa (Tapada da Ajuda). Dizia o ACP que os erros dessa pêndula nunca excediam alguns centésimos de segundo e que uma tabela com esses erros era publicada quinzenalmente no Diário da República.
O problema com o relógio da Hora Legal nunca esteve no emissor, mas com a máquina – situada ao sol, a sofrer as trepidações do trânsito, nunca foi muito certa. Depois de muitas peripécias e grande tempo parada, foi substituída já no final do séc. XX por uma de quartzo. Que também não deu grande recado de si. Agora, com a construção das sedes das agências europeias do Mar e da Droga, é a própria construção que o albergava que desaparece. Temporariamente, prometem. Quando terá Lisboa um relógio público e fiável da Hora Legal, que continua a ser emitido da Tapada?
*Crónica de A Máquina do Tempo, de 15.06.07, no Casual, Semanário Económico. A situação no relógio da Hora Legal, ao Cais do Sodré, está actualmente resolvida, com o Observatório Astronómico da Ajuda a emitir via Internet o tempo oficial, que por sua vez é captado por um computador anexado ao relógio. Este é aliás o único relógio público em território português a emitir o tempo certo.
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