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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ainda os Lindbergh em Portugal, com relógios Longine no pulso...


Anne e Charles Lindbergh


Tínhamos falado aqui da passagem do casal Lindbergh por Portugal. A ACER, Associação Cultural e de Estudos Regionais, que acaba de nos contactar, tem no seu site pormenores da passagem de Anne e Charles por Vieira do Minho, e que passamos a transcrever:

"[...] em 13 de Novembro de 1933 um acontecimento veio quebrar a pacatez e colocar a região da Ribeira Minho no centro das atenções mundiais. O aviador Charles Lindbergh, que seis anos antes, no ‘Spirit of St. Louis’ havia feito, sozinho, a travessia aérea sem escala do Atlântico Norte entre Nova Iorque e Paris, desceu com o seu hidroavião no Rio Minho. Acompanhava-o sua mulher Anne Morrow.


O jornal ‘A Plebe’, de Valença e o ‘Primeiro de Janeiro’ do Porto, descreveram o sucedido. A revista americana ‘Time’, de 27 de Novembro daquele ano, dedicou algumas páginas à viagem dos Lindbergh. Mais recentemente, em 22.01.2000 o ‘Semanário Expresso’, na sua revista, também procurou relembrar o facto e, para além da recolha de um depoimento de habitante local, o autor do artigo, Jorge Montez, apresentou documentação fotográfica cedida por Lazínia Pinto da Mota (ver em ‘Documentos’). Deste conjunto de informações pode esboçar-se o que se passou.


O aviador e sua mulher haviam partido de Grenoble com destino a Lisboa. Estavam a trabalhar num projecto de uma carreira comercial da Pan-Am entre os Estados Unidos e a Europa. A rota que utilizariam seguia pelo litoral cantábrico com passagem por Vigo. Já em Santander tiveram de ‘amarar’ na praia de Satona, por causa do mau tempo. Não foram reconhecidos e logo que as condições atmosféricas o permitiram levantaram voo no dia 13 pelas 10, 45h. Em Lisboa aguardavam a sua chegada à Doca do Bom Sucesso pelas 15h. Contudo, o tempo foi passando e o hidroavião não aparecia. Por rádio-telegrafia soube-se que ‘pelas 11, 35h o aparelho fora visto voando normalmente sobre o porto de Lhanas, Astúrias prosseguindo na sua rota para Portugal’ (Jornal P.J., 14.11.1933). Ao passar por Gijon deu a entender que abandonava a rota pelo litoral e se dirigia para o interior da Galiza, apontando-se como razão para o desvio as más condições atmosférias (Idem, ibidem). ‘Ás 15, h Vigo informava de que os esposos Lindbergh ainda não haviam passado sobre aquela cidade, aventando ali a hipótese de o hidro ter descido em qualquer baía da Galiza’ (Idem, ibidem). Finalmente, cerca das 17,05 h, Lisboa tomou conhecimento de que Lindbergh e mulher haviam descido no rio Minho devido ao nevoeiro (Idem, ibidem).


A aproximação fez-se pela Lapela que sobrevoaram pelas 14,h e depois de se certificarem de que o rio reunia boas condições para a amaragem apontaram o hidro para a zona da Ínsua do Crasto.
Segundo Jorge Montez a descida e poiso decorreu ‘suavemente’ tendo Lindbergh feito ‘deslizar o aparelho pelo rio transfronteiriço em direcção a um acidente geográfico conhecido localmente como o ‘poço’, a apenas 50 metros dos magníficos portões que sobram da quinta original (e que são monumento nacional desde 1910), colocando-o assim em território português’(Montez, 2000: 34).


O secretário da Junta de Freguesia de Friestas, Maximino Lourenço Gomes, dirigiu-se de bicicleta ao local onde estavam os Lindbergh. Conta, então, as suas primeiras impressões: ‘Ele era alto e sorridente mas a esposa era bastante miúda e baixinha. Era pequenina, mas muito bonita.’ (Idem, ibidem: 35). Estabeleceu-se conversação que não foi difícil: ‘Ele percebia bem o português e falava o inglês’ (Idem, ibidem). A ajudar ao diálogo apareceu um seu compatriota, residente em Friestas, que lhe ofereceu uma garrafa de Vinho do Porto enquanto que Anne Morrow recebeu um ramo de flores que colocou numa das asas do avião (Jornal P.J., 15.11.1933).


Como não havia telefones, Maximino Lourenço Gomes mandou um mensageiro ao administrador do concelho para lhe dizer que «está cá um senhor chamado Lindbergh» (Montez, 2000: 35).


Foi disponibilizado um automóvel para transportar o casal até Valença onde ‘lhes foi feita uma calorosa acolhida. Dirigiram-se à Câmara Municipal tendo sido saudados pela Comissão Administrativa, do mesmo passo que os valencianos mais cotados que ali acorreram os cumprimentavam e o povo na rua os ovacionava delirantemente. Depois o ilustre aviador e sua esposa dirigiram-se para o Hotel Valenciano, onde a Câmara lhes ofereceu um jantar’ (Jornal ‘A Plebe’, 15.11.1933). No fim da ceia, recolheram ao hidroavião para nele pernoitarem tendo sido ‘acompanhados pela Polícia Internacional, o comandante da secção da Guarda Republicana e alguns oficiais da canhoneira espanhola «Cabo Fradera» que se encontra no Rio Minho’ (Idem, ibidem).


Entretanto, a notícia da descida de Lindbergh e Anne Morrow começou a espalhar-se pelas aldeias das duas margens do Rio Minho, pelo que ‘vieram muitos milhares de pessoas para ver e saudar os esposos Lindbergh’ (Idem, ibidem). Correu entre eles a crença de que o casal «andava à procura do filho que tinha sido raptado». O que não era verdade pois ‘o filho, Charles Albert Jr. com apenas 20 meses fora raptado a 1 de Março de 1932 e encontrado morto dez semanas mais tarde’(Montez, 2000: 35). 


No dia seguinte, 14 de Novembro, Lindebergh procedeu ao reabastecimento do aparelho (um ‘Albatroz’) ‘com 200 litros de gasolina adquirida em Monção’ e preparava-se para partir mas concluiu que ‘em face do denso nevoeiro e abaixamento da pressão atmosférica era impossível levantar voo. Lindbergh e sua esposa foram convencidos a vir para Valença a bordo de um pequeno escaler da canhoneira «Cabo Fradera» tendo chegado junto da Ponte Internacional cerca do meio-dia’ (Idem, ibidem).


Após o almoço, oferecido pelas autoridades locais, os Lindbergh foram em cortejo automóvel visitar Tui a convite da «consulesa» espanhola em Valença do comandante da canhoneira «Cabo Fradera» (Montez, 2000: 36). Depois de verem a catedral que muito apreciaram e admiraram voltaram à Ínsua do Crasto, embarcando no aparelho para jantarem e pernoitarem. Segundo o correspondente do jornal ‘O Primeiro de Janeiro’, o hidrovião tinha a bordo ‘uma esplêndida cama de viagem e mantimentos para um mez’(Idem, ibidem).


Na manhã seguinte, e às 10h os Lindbergh começaram a fazer os preparativos para a descolagem observados ‘por uma multidão de pessoas que de toda a parte se juntou’(idem, ibidem). O rio já havia sido balizado pelos marinheiros da canhoneira ‘Cabo Fradera’. Charles Lindbergh ‘desamarrou o seu avião e fez com ele uma corrida até à foz do Minho para apreciar a forma como seu aparelho poderá fazer a manobra da descolagem e ao mesmo tempo observar as margens do rio. Depois voltou a amarrar o avião no mesmo local e solicitou dados meteorológicos à estação telegráfica de La Guardia’ (Jornal P.J., 15.11.1933 ).


Às 10. 50h decidiu-se pela descolagem observado por milhares de pessoas que se reuniam nas margens e muitos jornalistas. O hidroavião começou lentamente a percorrer o plano de água abrindo sulcos com os flutuadores e, potência do motor ao máximo, elevou-se sobre o rio em direcção a Valença ‘sobre a qual evolucionou a pequena altura dando uma volta em toda a circunferência. A população acumulada nas ruas, nas janelas, nas varandas, nas muralhas ovacionava freneticamente, agitando lenços brancos. Foi um momento de grande entusiasmo, a que Lindbergh e esposa corresponderam. Depois elevaram-se a grande altura e iniciaram o avanço para Lisboa a grande velocidade’ (Idem, ibidem).


Passaram sobre Seixas às 11.05h e cerca de 30m depois estavam a sobrevoar a costa em frente ao Porto. Uma hora depois, às 12,40h, chegavam a Lisboa. O ‘Primeiro de Janeiro’, a propósito do curto tempo da viagem, comentou então o seguinte: ‘Compare-se esta velocidade com a de um telegrama que nos foi expedido de Cerveira quando o aviador ali passou e que só chegou a este jornal às 15,45h! Gastou quatro horas e um quarto! Já Lindbergh tinha amarissado na doca de Belém havia 3 horas e 5 minutos!...’ (Idem, ibidem).


Em 22 de Novembro de 1933, na sessão da Comissão Administrativa presidida pelo Dr. António d’Almeida Pinto da Mota foi lido um ofício do Consul dos Estados Unidos da América em Vigo no qual se exprime ‘profundo agradecimento pela cordial recepção prestada aos aviadores norte americanos, coronel Lindbergh e sua esposa, aquando da inesperada amaragem nas águas do Rio Minho’, acrescentando que ‘os senhores Lindbergh conservaram sempre uma grata recordação da sua breve passagem pela histórica Valença do Minho’ (A.M.V., 1933: 52v).


Friestas também não os esqueceu. Ergueram um monumento, inaugurado em 23 de Novembro de 1997. Nele e sob uma pirâmide em granito, assenta uma escultura metálica constituída por um globo encimado pela representação estilizada de uma aeronave em voo ascensional. Um dos elos da corrente que amarrou o hidroavião pretende significar que a terra e seus habitantes continuaram presos à recordação da passagem dos Lindbergh."


O site da ACER tem fotos e recortes da imprensa da época referindo a passagem dos Lindbergh pela região.

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