GRANEL DAS MUITAS ACONTECÊNCIAS
QUE NÃO DEVEM TER LUGAR EM 1974
A Avenida da Liberdade (atenção, Pedro!) ser vendida aos
talhões para construções imobiliárias. (Não haverá esse
perigo,
por enquanto, se vocês se portarem bem.)
- Serem usados foguetes silenciosos nas festas de
romarias.
— Um sujeito não ser atropelado no seu corpo e nos seus
direitos.
— Ter o seu passamento Inácia Coreto, a ilustre promotora
de serões de arte.
— Manuela Fonseca mudar para Colgate.
— A Rosa casar com o Xico.
— Os paralelipípedos amontoarem-se contra os poetas.
— Os executivos terem um pouco menos de energia e um pouco
mais de bom senso.
— Os faróis da costa começarem a piscar para terra.
— Nuno Júdice publicar as suas Viagens Completas.
— Mário Castão caminhar para o mar.
— Mário Henrique Leiria (um abraço, ó Mário!) beber menos
gin-tonic.
— A força pública começar a usar, nas suas actuações,
serpentinas multicores.
— Eusébio jogar com as botas de ouro que ganhou.
— Joaquim Agostinho dopar a sua bicicleta.
— As flores dizerem às abelhas: «Basta!».
— E, já que falei de abelhas, Fernado Lopes sair com outra
longa-metragem.
— Amália Rodrigues lançar, no Estádio Nacional — e, se
possível, para fora — o seu último Disco de Ouro.
— A nacional-caixotaria deixar de invadir as áreas
urbanas, suburbanas, rurais e todas as que lhes são
intermédias.
— A Televisão oferecer-nos um novo (e renovado)
Telejornal.
— Rodolfo Iriarte conseguir ter a secretária arrumada.
— O décimo terceiro mês ser logo a seguir ao décimo
segundo ou logo antes do primeiro.
— Nixon vir a Lisboa para aumentar a sua credibilidade.
— Visconti começar e acabar «A Morte em Beleza».
— O Parlamento discutir e aprovar a Lei de Fins.
— Uma produtora de filmes realizar a longa-metragem «A
tudo o vento a levou».
— Os pianos, no âmbito de um congresso para a protecção da
Natureza, devolverem aos elefantes o marfim.
— Manuel Brito, da «111», abrir uma galeria no Cacém.
— Os brasileiros que nos visitam deixarem de dizer que
estão encantados ou muito emocionados por se encontrarem em
Portugal.
— Os cultores da incivilidade meterem gasolina, em vez de
ar, nas rodas dos seus carros.
— O EXPRESSO sacudir os bandos de gralhas que nele pousam
semanalmente.
— Lopes de Souto não escrever sequer um fundo.
— Artur Portela Filho passar a assinar De Queiroz.
— Ruben A publicar «A Retorre da Rebarbela».
— A Antónia e o Ruy Leitão porem todo o País a comer
alcachofra.
— O «Cinéfilo» começar a publicar a fotonovela
«Simplesmente Mário».
— O Ritz abrir, no seu recinto, um parque de campismo.
— O Joaquim Botelho de Sousa comprar, para a sua colecção,
o relógio da Estação do Rossio.
— O João Charters de Almeida abrir uma sucursal da Mancha
nas Cortes, em Leiria.
— Certo locutor da Rádio deixar de empregar expressões
como «Esta jornada revivalista» cada vez que põe a tocar
discos
com músicas doutros tempos.
— Os caixões terem melhor ar.
— A Marquesa de Arrobas lembrar-se (já não seria sem
tempo!) da lei republicana que aboliu os títulos
nobiliárquicos
e passar a chamar-se apenas Maria Teresa Eugénia Vitória da
Silva Soares de Souza Rodrigues de Albuquerque e Menezes
(Cortiçal).*
— A Maria Aguiar deixar de ser uma simpatia.
— O rei Faiçal assinar um contrato com o Hergé para entrar
nas histórias do Tim-Tim.
— O Gérard Castello-Lopes abrir uma nova sala de cinema
num dos supermecados Pão de Açucar.
— José Athayde deixar de gostar de cavalos.
— Os palestinos terem a sua terra.
— Ruella Ramos apanhar a Mosca.
— O futuro deixar de ser o que, afinal, já não era.
— Cubillas ter saudades da Suíça.
— Brejnev vir assistir a uma tenta no Ribatejo.
— Os presos serem autorizados a irem a suas casas mudar de
roupa.
— O ar ser, finalmente, mais leve que o ar.
* É pura coincidência.
Alexandre Oneill
Sem comentários:
Enviar um comentário