Os bois
Atrelados a um carro, pela estrada
Seguem os bois, co'um passo vagaroso,
No fundo da pupila dilatada
O que a palavra tem de luminoso.
É a hora do repouso, hora das sestas...
E, pela encosta, em frente aos nossos olhos,
Abrem-se ao sol as vagens das giestas
E a cotovia canta entre os restolhos.
Sobre os largos cachaços, bem segura,
A canga tem o peso duma cruz;
E o olhar dos bois é cheio da ternura
Com que em Belém viram nascer Jesus.
Mas em lugar dessa boeirinha, ao lado,
De que Junqueiro mostra a face amiga,
Quem acompanha o carro é um desgraçado
Cheio de privações e de fadiga.
E sem uma canção na boca exangue,
Tem na aguilhada, em vez da estrela a arder,
Uma tremente lágrima de sangue,
Que cai na terra, sem ninguém a ver.
Não há na estrada o mais pequeno abrigo;
E, sob o sol ardente, que os consome,
O carro vai a transbordar de trigo
E o carreiro e os bois cheios de fome.
Por detrás de uma sebe, num atalho,
Somem-se ao longe... Deus lhes mude a sorte!...
Agora, os homens voltam pr'ó trabalho
E cada cavador parece a morte.
No seu rosto adivinha-se a caveira;
As bocas têm um rictus de aflição;
E cavam as enxadas, em fileira,
O solo duro como um coração.
Mas, ligados à terra p'las raízes,
De sofrimentos sobrenaturais,
Deus encarnou naqueles infelizes
E, por nós todos, morre uma vez mais.
Fausto Guedes Teixeira
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
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1 comentário:
A toda a hora Jesus
está morrendo por nós
mesmo sem ser numa cruz,
mas de um modo mais atroz!
JCN
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