Em tempo de feroz globalização, a indústria relojoeira suíça quer tornar mais exigentes as regras de atribuição do Swiss Made e uma comissão criada para esse efeito vai apresentar novas propostas na Assembleia-geral da Federação da Indústria Relojoeira Suíça (Fédération de l’Industrie horlogère suisse - FH), a realizar no final deste mês, mas a polémica tem subido de tom.
O Swiss Made para o sector, tal como foi definido em 1971 por uma lei federal helvética, diz que pelo menos 50 por cento do custo de produção do movimento ou da totalidade do relógio devem ter origem na Suíça, bem como o controle final de qualidade. A proposta, quanto aos relógios mecânicos, é de fazer aumentar esse mínimo para 80 por cento, tanto para o movimento como para o produto acabado. Nos relógios de quartzo, a percentagem de incorporação ad valorem helvética aumentará para 60 por cento. Para ambos, nestes cálculos serão excluídas as matérias-primas, as pedras preciosas e as baterias.
“O Swiss Made é talvez a marca mais respeitada do mundo”, referiu recentemente o Presidente da FH, Daniel Pasche. “Levou muitos anos a que esse reconhecimento chegasse onde chegou e devemos protegê-lo e apoiá-lo”.
A relojoaria é o terceiro sector exportador suíço e regista neste momento um período de grande crescimento, mercê da sede de consumo em mercados emergentes e gigantescos como a Índia, a Rússia e a China (o célebre BRIC, sem o Brasil, que continua a ser uma eterna oportunidade adiada…). Mas a concorrência chinesa (com relógios de quartzo baratos, com falsificações, mas também com relógios mecânicos e peças a preços cada vez mais baixos), bem como os novos hábitos da juventude mundial, que usa cada vez menos relógios, estão a preocupar a longo prazo as mais respeitadas manufacturas relojoeiras helvéticas.
Em 2006 a Suíça importou 1,4 mil milhões de Francos suíços em componentes para relógios, dos quais 370 milhões da China, contra 13,7 mil milhões de Francos suíços em exportações, dos quais apenas 150 milhões em movimentos. A indústria vive claramente de componentes estrangeiros para os seus relógios acabados.
Quem está a exigir maior rigor no conceito Swiss Made são as marcas de Alta Relojoaria e quem resistirá decerto à mudança são as marcas de baixa e média gama, que pensam vir a perder competitividade. De qualquer modo, se a proposta for aprovada na FH, terá que seguir ainda para o Governo federal e terá que passar pelo crivo da União Europeia, já que o sector se rege por um acordo assinado com Bruxelas em 1972.
*Crónica A Máquina do Tempo, no Casual, Semanário Económico de 08/06 de 2007, especialmente oportuna numa altura em que os critérios do Swiss Made vão finalmente ser alterados, como Estação Cronográfica tem noticiado.
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