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sábado, 28 de junho de 2025

Veríssimo Alves Pereira - um relojoeiro na génese do sistema de água canalizada em Lisboa, 1867

Poucos saberão, mas o relojoeiro mais importante do século XIX português esteve na génese do sistema de contagem na distribuição de água canalizada, estreado em 1867, em Lisboa e que depois foi sendo alargado a todo o país.

Sobre Veríssimo Alves Pereira, pois é dele que estamos a falar, já escrevemos muito, mas sobretudo sobre a sua vertente de inventor e construtor de relógios de sol muito especiais ou de pêndulos com Horas do Mundo.

A pequena exposição temporária que a EPAL mantém nas suas instalações da Avenida da Liberdade, na capital, “Viagem ao Mundo dos Contadores de Água”, serve-nos de pretexto para revisitar o personagem.

Em Relógios e Relojoeiros – Quem é Quem no Tempo em Portugal (Âncora, 2006) escrevemos:

PEREIRA, Veríssimo Alves

              Relojoeiro construtor, activo na segunda metade do séc. XIX. Construtor e inventor de meridianas, com maquinismos especiais que, ao meio-dia solar, faziam tocar sinos e davam tiros de canhão, para que as pessoas pudessem acertar os relógios. A mais célebre das meridianas esteve montada na Torre dos Clérigos, no Porto. Fez uma meridiana mais sofisticada para Lisboa, que esteve primeiro no Castelo de São Jorge, depois, no Observatório Astronómico à Escola Politécnica e, finalmente, no jardim de S. Pedro de Alcântara. O Almanaque Bertrand, de 1900, dedica à meridiana de Lisboa um artigo, onde se conta que os lisboetas se aglomeravam à sua volta, por volta do meio-dia, para acertarem os seus relógios pela “hora verdadeira, a hora do Sol”. Para além das meridianas, Alves Pereira patenteou outras invenções de carácter técnico e construiu relógios de hora universal, dois dos quais se encontram no Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa, onde se lê: “Alves Pereira / inventou e construiu / Lisboa”. Foi professor de relojoaria na Casa Pia de Lisboa, juntamente com o amigo Augusto Justiniano de Araújo (ver), de quem foi sócio na Fábrica de Relógios de Torre (ver), fundada em 1870, na Rua da Boavista, em Lisboa. Júlio Castilho, na sua “Lisboa Antiga” diz que esta curiosa personagem “andava sempre com algum projecto, algum invento útil, alguma facilitação industrial, alguma aplicação novíssima da mecânica” na cabeça. E, como todos os inventores, “explicava em termos prolixos, a quem quer que encontrasse, as vantagens de tal ou tal aparelho, os pormenores de tal ou tal engrenagem, sem querer saber se o seu interlocutor se achava no ponto de vista dele, e comungava das mesmas ideias”. (41), (72)


Temos avançado, entretanto, nas nossas investigações sobre Veríssimo Alves Pereira. Natural do Porto, foi ainda Diretor Técnico da Oficina de Instrumentos de Precisão do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, fundado em 1852 por Fontes Pereira de Melo e que está na génese do Instituto Superior Técnico. Uma das atribuições desta oficina era o fornecimento e manutenção de aparelhos de precisão, incluindo cronómetros, a todos os estabelecimentos científicos do Estado.

Veríssimo Alves Pereira foi membro da Associação Industrial Portuense, colaborou na Revista Universal Lisbonense - Por uma Sociedade Estudiosa. Foi um dos membros mais ativos da Associação Promotora da Indústria Fabril, fundada em 1837, que está na génese da atual Associação Industrial Portuguesa.

Veríssimo Alves Pereira teve também na Baixa lisboeta um estabelecimento de instrumentos musicais de seu fabrico.

Quanto aos contadores de água, ele patenteou um, em 1867, ano em que o sistema de água canalizada ao domicílio chegou à cidade. E os seus contadores foram dos primeiros, a par de outros de tecnologia francesa, a serem usados.

No seu miolo, este tipo de contador tem um trem de rodagem (rodas dentadas, ligadas entre si, que rodam sobre eixos) numa arquitetura semelhante à usada na relojoaria. Este sistema não precisa de corda. A energia vem do exterior. Quando a água passa, faz funcionar as partes móveis, e a leitura é feita, como em relojoaria, através de ponteiros e mostradores. Outro grande relojoeiro português, Augusto Justiniano de Araújo, viria a patentear um contador de gás, mas isso são outras histórias...

Não sabíamos, mas investigámos, depois de ver a exposição, e onde isso não está mencionado, que António Pinto Bastos, inventor de um outro dos primeiros contadores de tecnologia portuguesa, sistema patenteado em 1868, era genro de Veríssimo Alves Pereira.

Este modelo consistia numa caixa paralelepipédica com dois recipientes iguais oscilantes, que se enchiam alternadamente de água e um sistema de relojoaria que registava o número de vezes que os recipientes eram despejados.

Os contadores Veríssimo e Bastos, pela sua fiabilidade e custo, vieram substituir, com vantagem, os modelos inicialmente usados pela Companhia das Águas de Lisboa, importados de França (Fortin-Herrmann) e de Inglaterra.





Outras empresas portuguesas estiveram envolvidas no fabrico de contadores de água






Mas a ligação da relojoaria aos contadores de água não acaba aqui. A Reguladora – Fábrica Nacional de Relógios, de Calendário, Vila Nova de Famalicão, viria a fornecer, mais tarde, milhares de contadores de água para todo o país.








Outras empresas portuguesas estiveram envolvidas na produção de contadores de água:




Contadores estrangeiros e notas explicativas sobre a evolução do sistema de água canalizada em Lisboa:





















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