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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Relógios & Canetas online Fevereiro - Editorial - O tsunami


O tsunami

Fernando Correia de Oliveira

Os exportadores de queijo suíço estão desesperados – o seu produto aumentou, de um dia para o outro, o preço de exportação para a zona euro em cerca de 20 por cento, face à valorização do franco. E dizem que é o futuro de todo o sector que está em jogo. O, já caros emmental e o gruyère helvéticos ficaram a um preço proibitivo…

A indústria hoteleira helvética apanhou idêntico banho de água fria – milhares de reservas para as estâncias de ski foram canceladas, a classe média europeia desviou as suas férias de Inverno para Alemanha, Áustria, França…

A Nestlé está a estudar o impacto dessa valorização do franco no seu negócio global, especialmente que aumento vai fazer incidir nas cápsulas de Nespresso ou nos chocolates.

A notícia só poderia ter sido dada de surpresa – é da natureza da coisa – mas a decisão do Banco Central suíço em abandonar a taxa fixa de 1,20 francos por euro ocorreu na quinta-feira, 15 de Janeiro, a dois dias do começo do Salão Internacional de Alta Relojoaria, em Genebra. Nesse fim-de-semana, os CEO’s das marcas do Richemont Group reuniram-se de emergência, para saber o que fazer.

“A intervenção do Banco Nacional Suíço, comprando euros, para sustentar a paridade, atingiu cerca de 100 mil milhões de francos, deixando por isso o euro de ser uma moeda de referência para nós”, justificou o banco central. Nos dias que se seguiram à medida, o franco chegou a valorizar 40 por cento face ao euro – houve corrida à compra de euros por parte dos suíços, que, de um momento para o outro, tiveram um aumento de pelo menos 20 por cento nos ordenados, se calculado em euros. Para os chamados “frontaliers”, que vivem em França ou na Alemanha e vão todos os dias trabalhar para a Suíça, foi “a taluda”.

Face às incertezas da zona euro, provocadas pelas dívidas soberanas, o franco tem sido moeda de refúgio, com os depósitos a registarem desde há um ano taxas negativas – há que pagar para ter o dinheiro nos bancos suíços…

De qualquer modo, a decisão de voltar a fazer flutuar livremente o franco face ao euro foi contestada por todos os sectores da economia, prevendo a UBS que ela provoque uma diminuição de 1,3 pontos percentuais no crescimento do PIB em 2015, para apenas 0,5 por cento.

Na relojoaria, a altura não poderia ter sido pior – a China desacelerou bruscamente as compras, devido à campanha anti-corrupção; a Rússia vive uma profunda crise, devido às sanções internacionais; países emergentes como o Brasil ou o México, dependentes do petróleo, estão em apuros dada a baixa de preço daquela matéria-prima.

Assim, prevê-se que o ajuste de preços na indústria relojoeira, para a zona euro, seja da ordem dos 5 a 10 por cento. O Swatch Group, o maior do mundo, prevê aumentos dessa ordem. O Richemont Group, o maior em termos de marcas de luxo, deverá seguir a mesma bitola. “Faltam-me as palavras”, foi a reacção de Nick Hayek, CEO do Swatch Group. “A decisão é um tsunami; para a indústria exportadora e para o turismo, e depois para todo o país”, disse. As exportações relojoeiras suíças representam 10 por cento do total.

Na bolsa, as acções do Swatch Group e do Richemont Group caíram dois dígitos, o Swiss Market Index caiu 10 por cento. De um momento para o outro, desapareceram 133 mil milhões de francos em capitalização bolsista.

Em Portugal, onde o mercado interno tem estado praticamente paralisado, o retalho relojoeiro vive muito do turismo. Com a situação angolana como está, devido à queda do preço do petróleo; com o caudal chinês arrefecido devido ao escândalo dos vistos gold; com russos e brasileiros menos afluentes do que antes – 2015 será, mais uma vez, um desafio. E novo aumento de preços não vem ajudar.

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