[...] Daí a uns 10 minutos, vi junto de mim o médico dr. Moreira Júnior* que, depois de nós lhe
assegurarmos que o pulso de El-Rei há muito não se sentia, o auscultou e me pediu fósforos, que lhe dei,
e me fez abrir os olhos de el-rei, diante dos quais passou repetidas vezes a chama do fósforo, e lhe
aproximou a mesma chama das extremidades dos dedos da mão direita, que eu segurava, depois do quê
declarou que o monarca estava morto.
– E o Príncipe? – perguntei.
– Está morto também.
Em seguida lembrei a Henrique Rollin que era conveniente guardar e que ele arrecadasse os
objectos que El-Rei tinha consigo e encontrámos: um relógio oxidado, que estava do meu lado, na
algibeira das calças, preso à cinta por uma corrente de ouro, um lenço e um charuto, e nas algibeiras do
outro lado achou-se-lhe um saco de coiro, de revólver, vazio, e não me recordo se mais objectos, mas
creio que nenhum outro.
Não se viu carteira. [...]
Raul Brandão, in Memórias, citando uma "carta dum diplomata português", datada de Lisboa, 3 de Fevereiro de 1908, e da autoria de A. A. M., publicada em Liberdade, 1 de Fevereiro de 1919. Descreve os momentos seguintes ao regicídio ocorrido a 1 de Fevereiro de 1908.
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1 comentário:
Por seu relógio contado,
o monarca português
tinha o destino marcado
pela sua última vez!
JCN
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