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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Portugal na Grande Guerra de 1914-1918 - VII


(foto Liga dos Combatentes)

7. Guerra, fome, doenças e milagres

Fernando Correia de Oliveira

Não foi a Guerra que inventou os crónicos males portugueses, mas a todos agravou. O custo de vida subia, a fome aumentava, o povo revoltava-se. Duas epidemias varreram o país. Em Fátima apareceu a Virgem Maria. E o país começou a olhar para o Exército como a instituição salvadora. 1914-1918 foram cinco anos de brasa. Mas à parte a “salvação” acidental das colónias, poupadas pelo gongue da derrota alemã, não serviram para nada.

Desde a última metade do século XIX, para já não dizer desde que o ouro do Brasil se esfumara nos projectos de D. João V, um século antes, que as casas reinantes da Europa sabiam de fonte seguríssima que os Bragança estavam arruinados e que, com eles, Portugal “estava nas lonas”. É por isso que impérios mais prósperos, como o inglês ou o alemão, já há muito que negociavam entre si as colónias africanas portuguesas, cientes que estavam de que, mais tarde ou mais cedo, elas iriam a leilão, para a coroa de Lisboa poder pagar as despesas correntes do Estado. Não foi a República que arruinou financeiramente o país, ele já estava arruinado e ninguém emprestava dinheiro, quer aos governos monárquicos quer aos novéis executivos republicanos, porque se sabia que a insolvência era total.

Segundo A. H. de Oliveira Marques, “herdada da monarquia, pode-se dizer que a questão financeira constituiu um dos mais candentes problemas dos 16 anos da 1ª República portuguesa. Sobretudo três dos seus elementos — o equilíbrio orçamental, o montante da dívida pública e a desvalorização da moeda — estiveram na base das discussões mais acerbas que ocuparam republicanos e monárquicos de todas as tendências e levaram a crises ministeriais sucessivas”. A questão das finanças do Estado é aproveitada pelo salazarismo como uma das suas grandes bandeiras. Salazar, objectivamente, conseguiu “equilibrar o Orçamento”, coisa que há muito não se via. A propaganda do Estado Novo recorda, nos anos 40, que, na altura da 1ª República, “o país vivia na ignorância da situação real, de que tinha apenas um muito vago conhecimento e, por isso mesmo, se sentia inclinado a todos os pessimismos”.

Apesar de tudo, depois de défices nos anos económicos de 1910-11 e 1911-12, Afonso Costa consegue o equilíbrio entre receitas e despesas do Estado, pelo menos segundo as estatísticas oficiais, que tão rudimentares eram na altura, encerrando os anos de 1912-13 e 1913-14 com pequenos superávits (0,6 e 6,7 contos, respectivamente). Era a “glória” do regime. De pouca dura. O “bom povo republicano” de Lisboa até tentou, no final de Janeiro de 1914, fazer uma manifestação de agradecimento a Afonso Costa, mas acabou tudo em tumulto e boicotado à bomba, não se sabe se por monárquicos se por anarco-sindicalistas.

O próprio Afonso Costa, para endireitar as finanças públicas, promulgou uma série de reformas fiscais, incluindo a da contribuição predial, pela qual isentou de imposto milhares de pequenos proprietários, agravando ao mesmo tempo as tabelas de médios e grandes.

Mas Afonso Costa era o maior adepto da entrada de Portugal na Grande Guerra, apesar de o país ser paupérrimo, não ter Exército e começar a sofrer a dificuldade de abastecimentos, mesmo como nação neutral. Seja pelo esforço de guerra, seja pela importação de géneros de primeira necessidade, cada vez mais caros e difíceis de obter, seja pelo alargamento desmesurado da classe dos funcionários públicos, à medida que os governos iam entrando e saindo, o orçamento de 1914-15 já tem um défice de 25 contos, os seguintes de 38, 50 e 87, respectivamente, sendo o de 1918-19 de 115 contos. Até ao 28 de Maio, a tendência agravou-se, chegando-se ao ano económico de 1926-27 com o défice “astronómico” de 642 contos.

Não admira que a propaganda salazarista diga, anos depois, que, “nas despesas públicas, reinava a mais aflitiva desordem, com o desprezo absoluto das regras de bom senso na sua repartição”, e que “a política de mentira sistemática impedia que se procurasse acudir à situação com as medidas que estariam claramente indicadas”, já que “os governos democráticos [do partido de Afonso Costa] não tinham nem a autoridade, nem o prestígio, nem a confiança pública que lhes permitiriam reclamar os grandes sacrifícios individuais e colectivos a bem da salvação nacional”.

Os governos de Afonso Costa ou influenciados por ele nos anos de 1914 a 1918, na prática todos, à excepção das ditaduras de Pimenta de Castro e de Sidónio Pais, “renunciaram a suprimir os défices”, acusavam mais tarde os “mestres de finanças” da escola salazarista. “Pensaram apenas em liquidá-los. Isto é, atacavam os efeitos em vez de combaterem as causas. Recorreram à inflação maciça da circulação fiduciária, que, tendo aumentado primeiro de 78 mil contos para 273 mil, entre 1910 e 1918, subiu depois vertiginosamente até atingir, em 1928, um milhão 990 mil contos.”

A inflação atinge os pobres

Claro que, com a inflação e a Guerra, o custo de vida subiu, chegando a ser “30 vezes o de 1914”. Para uma base 100 entre preços e salários, em 1914, chegava-se a 635 e 188, respectivamente, em 1918.

Oliveira Marques diz que Afonso Costa e os democráticos “conheceram um aumento de prestígio e de popularidade entre a pequena e a média burguesias”, mas “perderam-nos, contudo, no seio de grande parte do operariado urbano, ao empregar a força na repressão de certas greves e manifestações, tidas por perigosas para a República, e ao prender numerosos operários”.

“Como quase sempre”, nota Pulido Valente, “em 1914, a agricultura doméstica não conseguia abastecer o país, que importava vastas quantidades de géneros alimentares, como trigo, milho, arroz, grão e açúcar. A Guerra, sobretudo a partir de 1916, reduziu o comércio externo a dimensões insignificantes e criou uma carência endémica.”

Em princípio, as revoltas populares não eram contra o regime. Nenhuma delas foi liderada por monárquicos, nem eles sequer chegaram ao poder por essa via (ou por qualquer outra). O que o povo tinha era fome. E pouco ou nenhum dinheiro para a compra de pão ou de batata.

Se o Estado era pobre, o povo ainda o era mais. E estava doente. Duas epidemias varreram o país em 1917 e 1918 — o tifo e a pneumónica, também conhecida por “gripe espanhola”. O primeiro, terá sido detectado nos velhos bairros ribeirinhos do Porto, estendendo-se depois pela zona norte e chegando mesmo a Lisboa, matando centenas de pessoas por semana. A segunda, mais vasta, vinda de Espanha, terá afectado cerca de um terço da população continental, matando também alguns milhares.

A dada altura, o Governo britânico proibiu, pura e simplesmente, o trânsito de tropas entre Portugal e França, tanto de reforços como de repatriados, devido ao tifo. “Os nossos aliados sabiam em que condições muitos soldados portugueses tinham chegado a França, minados pela doença, e não seria uma qualquer garantia oficial que os faria mudar de ideias”, sublinha José Gonçalves. “Acrescente-se que, nesta altura [consulado sidonista], os americanos estavam a desembarcar em França aos milhares — em Brest, que era o porto de desembarque português — e ninguém iria querer arriscar a que um surto de tifo pusesse em causa toda a operação.”

Se, até ao início de 1915, o conflito no centro da Europa não se fizera sentir com muita intensidade (os governos sucessivos tinham proibido as exportações de determinados bens alimentares e racionado outros), é em Março desse ano que as coisas vão começar a piorar.

Pimenta de Castro decreta o aumento do preço do pão, devido à falta de farinha. Ora o pão, o bacalhau e a sardinha eram os alimentos dos pobres, na altura. Todas as medidas políticas que afectassem os respectivos preços eram impopulares. Na mesma altura, faz-se sentir no mercado de Lisboa a falta de carne, já que a pouca existente se reservou para abastecimento dos hotéis. A somar à revolta dos pés-descalços cresceu a indignação da classe média. Houve assaltos a padarias, tumultos dispersos, a repressão foi a do costume, brutal.

Ao descontentamento da população pobre, faminta e doente, das cidades, juntava-se o do povo dos campos, na sua maioria analfabeto, assustado com a agitação política em Lisboa ou no Porto, com a perseguição aos padres, os atentados, as milícias afonsistas. A República herdou uma população adulta de quatro milhões, 70 por cento da qual analfabeta. Bem tentou a batalha da educação, mas fracassou, essencialmente devido à instabilidade governativa, que entre 1914 e 1918 deu dez governos e cinco chefes de Estado.

Era a fome, era a guerra, era a agitação interna permanente. Com o advento da República, de 1910 a 1913, o surto de emigração deu um salto. Nesses quatro anos terão sido 300 mil os que saíram do país, especialmente para a América do Sul, mais propriamente para o Brasil. Durante a Guerra, devido à dificuldade de transportes transatlânticos (a guerra submarina alemã), o fluxo diminuiu um pouco, mas continuou anualmente às dezenas de milhares, para se reacender depois do conflito. Aldeias inteiras mudavam-se para o lado de lá do Atlântico. às vezes, até o padre fazia as malas e partia, juntamente com os paroquianos.

A Revolta dos Abastecimentos

A greve de maior amplitude ocorreu em 1917, entre o pessoal dos Correios e Telégrafos. E sabia-se da importância que tinham as comunicações entre soldados na Flandres e familiares. O descontentamento era geral. Nessa mesma altura, a central sindical União Operária Nacional (já dominada pela tendência anarco-sindicalista) decreta uma greve geral, cumprida com grande adesão.

A 20 de Maio desse ano, Afonso Costa, de novo na qualidade de primeiro-ministro, decreta o estado de sítio em Lisboa. Os grevistas são mobilizados, ficando, em tempo de Guerra, sob a alçada da justiça militar. Milhares deles são levados à força para os quartéis, onde lhes rapam o cabelo e os obrigam a marchar, a marchar, tendo a Flandres por horizonte...

Tinham começado os assaltos, em Lisboa e arredores, a mercearias e tabernas, cujos proprietários eram acusados de especulação e açambarcamento, enquanto nos campos alastravam os tumultos contra a saída de géneros alimentares para as cidades. Foi a Revolta dos Abastecimentos. No balanço final, 38 mortos, mais de cem feridos, meio milhar de presos.

Para Pulido Valente, a revolta de Maio de 1917, dirigida sobretudo pela acção de mulheres e crianças, foi um movimento inorgânico, amadurecido e provocado. Provocado pela inflação e pelas carências, mas também “pelo isolamento do sistema político (Estado, partidos, sindicatos, etc.) da sociedade civil (...)”.

“A disparidade geográfica da escassez de géneros era gritante”, fazem notar Maria Santos e Olga Ribeiro. “Enquanto, nas colónias e nos Açores, eles apodreciam, porque os vendedores preferiam-no a um baixo lucro, o Continente sujeitava-se à ‘bicha’ e à ração.” Até porque os navios mercantis eram poucos, estavam emprestados a Inglaterra para o transporte de tropas, e os submarinos alemães não davam descanso.

O golpe de Estado de 5 de Dezembro desse ano, liderado por Sidónio Pais, tem, ao princípio, o apoio de sindicalistas e operários. E da “arraia miúda”, que se revoltara meses antes. Mas, apesar do populismo do “Presidente-Rei”, das suas deambulações por hospitais e asilos, cumprimentando perante as câmaras dos fotógrafos e as primeiras máquinas de filmar, as vítimas da pneumónica ou do tifo, apesar da “sopa do Sidónio”, distribuída a mendigos e desempregados, apesar disso, a fome continuava e o descontentamento também. Logo, a repressão.

“Em breve se desvaneceu o sonho e o novo regime deixava transparecer as feições cesaristas e ditatoriais”, afirmam Maria Santos e Olga Ribeiro. “Em visita ao Norte, Sidónio é recebido com toda a pompa e circunstância. No entanto, ao passar por Caminha, surge um ligeiro incidente; entre a ‘multidão de basbaques’ que esperava o ‘novo messias’ um homem do povo salta para a frente de toda aquela pasmaceira e, com voz firme, grita a plenos pulmões: ‘Senhor Presidente, temos fome, queremos pão!...’ Porém, ‘o Senhor Presidente chegou, passeou, ouviu elogios e foi-se’.” E o povo “sentia na carne a fome, mas os governos democráticos, evolucionistas ou sidonistas, queriam sempre ‘encher de metralha o estômago deste’”, como relata a imprensa operária da época. Devido aos movimentos revolucionários e à agitação popular anti-sidonista, o país está de novo em estado de sítio desde 12 de Outubro de 1918.

Na voz insuspeita do jornal “Portugal”, órgão dos democráticos , “não há calamidade, violência, nem privação, que nos últimos tempos não tenha desabado sobre Lisboa”. Comentário de Pulido Valente: “Como ‘bom’ republicano, o Portugal esquecia-se de que Lisboa não era o país.” Mas o todo não estava melhor que a parte.


(foto Liga dos Combatentes)

Fátima e o regime

“Ao país inteiro parecia que a hora do apocalipse tinha chegado e a ninguém mais do que aos católicos”, diz Pulido Valente, referindo as perseguições que desde 1910 os republicanos, Afonso Costa à cabeça, vinham fazendo a padres e freiras.

Oliveira Marques vê as coisas por outro prisma: “Os partidos monárquicos haviam-se autodissolvido e nenhuma força organizada se opunha à República. O Exército na sua maioria e a Marinha na quase totalidade alinhavam com o novo regime. A finança e os altos interesses económicos, os grandes proprietários, mostravam-se divididos e na expectativa, sem hostilizar abertamente a República. O operariado achava-se igualmente dividido, com uma parte militando no Partido Democrático e até nos partidos conservadores, outra parte no Partido Socialista e só uma terceira, conquanto a mais aguerrida e porventura a maioritária, cerrando fileiras contra a situação burguesa, mas num combate desorganizado e incoerente. O único perigo real era a Igreja e por isso, contra ela, se travou um combate quase permanente a partir de 1910.”

Se o quadro poderia ser exacto no início do regime, Afonso Costa tivera a arte de virar tudo e todos contra si, até os seus correligionários. É que o “bom povo republicano”, adepto de Afonso Costa, não se limitava a dar bengaladas em público aos padres que ainda não tinham sido desterrados, a empastelar os jornais monárquicos, unionistas ou evolucionistas, entretinha-se também a ajudar a Guarda Republicana nas pranchadas em todos os que se opusessem ao avanço asfixiante dos democráticos. A Igreja já não estava só na luta contra ele. Mas os ataques à Igreja continuaram a subir de tom. “Se pretendesse sobreviver, esta teria que fazer alguma coisa”, afirma Maria Filomena Mónica.

Entre 1915 e 1916, três pastorinhos, Lúcia, de dez anos, e os primos Francisco, de nove, e Jacinta, de sete, viram por várias vezes o que disseram ser um anjo. A 13 de Maio de 1917, aparece-lhes pela primeira vez a Virgem, em cima de uma azinheira, e confia-lhes “três segredos”. Garantia-lhes que a guerra, a Grande Guerra, estava a acabar, desde que o mundo rezasse muito. E as aparições continuaram.

“À primeira aparição não assistiu ninguém [além das três crianças]. À segunda assistiram 60 vizinhos curiosos. Para a terceira, no entanto, já vieram 5000 peregrinos e, para a última, como se sabe, 100 mil pessoas [em Outubro]”, escreve Pulido Valente. “Não se conhece o mecanismo pelo qual se passou de 60 a 100 mil pessoas, ainda que nele esteja o verdadeiro segredo de Fátima.” Para Filomena Mónica, “o momento em que tiveram lugar as aparições foi um dos mais difíceis da República”. Mesmo assim, o regime lá foi resistindo mais oito anos, com a mesmíssima instabilidade política dos oito primeiros. Mas Fátima foi, a partir de então, o pólo da reacção.

Beduínos esquálidos e histéricos

João Medina enumera os factores que caracterizavam a situação internacional do pós-guerra: “a revolução bolchevista, a derrocada dos Impérios centrais, a criação da República de Weimar numa Alemanha que o Kaiser Guilherme II abandonara em fuga (...); a entrada da potência norte-americana num jogo político planetário, até ali acentuadamente eurocêntrico; a nova configuração da Europa segundo os cânones democrático-optimistas wilsonianos (...); o desmoronar em cadeia dos tronos aristocrático-feudais da velha Europa (...); o regresso à vida civil dos homens lançados durante anos no açougue demente da Flandres (...); a chicotada em forças económicas que o esforço bélico desencadeara (...); as profundas alterações de mentalidade, estilo de vida e relações humanas que o grande ‘brassage’ da guerra tinha operado em toda a parte, mesmo nos países neutrais”.

Tudo isso, segundo Medina, fermentava já, “libertava energias e despertava impetuosas virtualidades, num momento em que, entre nós, como ironicamente sublinhava Chagas, a civilização dava alguns passos atrás e o pobre reino luso parecia uma praça de beduínos esquálidos e histéricos, increpando-se, vociferando e ensandecendo, possuídos de furores grotescos, numa autêntica explosão de sentimentos, desejos, aspirações arcaicas e bárbaras — projectos míticos”.

A Guerra deixara entretanto uma outra herança: “No período final do sidonismo, o Exército deixa de ser um instrumento de política externa da República [...] para se desagregar e operar internamente à volta de facções”, escreve José Medeiros Ferreira. O reduzido corpo eleitoral, a alta abstenção, a precariedade do poder político, não eram a melhor forma de legitimar o poder vigente. E conclui: “Instintivamente, os portugueses reconheciam-se naquelas Forças Armadas, que, se se não haviam batido heroicamente, no entanto tanto haviam sofrido durante a Guerra, quer em França quer em África. Era a legitimidade do sofrimento. [...] Até os intelectuais irão pensar nas Forças Armadas como instituição salvadora.”

1914-1918: cinco anos perdidos. Como serão os oito que faltavam para o 28 de Maio.


Amanhã — 8

As contradições dos futuristas portugueses (da autoria de Torcato Sepúlveda)

Para ver o primeiro capítulo da série, vá aqui. O segundo, aqui. O terceiro, aqui. O quarto, aqui. O quinto, aqui. O sexto, aqui.

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