É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a
tua alma mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha
consciência. Chego às vezes a supor que és tu a minha consciência.
Por isso esta separação vai ser dolorosa, ainda que eu creia que nos tornaremos a
encontrar noutro mundo melhor. Não decerto para vivermos as horas que passámos
juntos à beira do lume, penetrados um do outro e unidos pelo silêncio, mas numa vida
superior que antevejo e numa paz mais profunda. Ainda assim tenho pena. Tenho pena
das horas monótonas que correm – do tempo que passa – da brasa que se extingue...
Raul Brandão, Memórias, O SILÊNCIO E O LUME, Dezembro de 1924
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Que belo naco de prosa
que não podemos deixar
de crismar de primorosa
sem contudo exagerar!
JCN
Horas passadas ao lume
de mãos dadas à lareira
ficaram como um perfume
para a nossa vida inteira!
JCN
Enviar um comentário