Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Meditações - horas doidas, imprudentes

Ao vir do inverno, entre murmúrios, quando
a água nas Nascentes se renova,
dentro de mim acorda soluçando
não sei que estranha, quando impossível trova!

É queixa amargurada que se amplia
nas íntimas penumbras do meu ser.
No entanto, deixa-me um rasto de alegria,
- e eu gosto de a escutar e de a sofrer!

Eu gosto de sofre-la e de escutá-la,
quando as Nascentes desabrocham, tontas...
De quem és tu, embriagadora fala?
Que idílio incerto é esse que me contas?

Canção de Silvaninha prisioneira,
- canção da Dona Infanta no terraço...
Terei alguém no mundo que me queira
e não me negue o alívio do seu braço?

E cantam as Nascentes...
Bem-Amada,
nunca me esquece, nunca, o teu enlêvo!
Tu és a minha Fonte renovada,
- de ti me vem a ânsia com que escrevo!

Jardim fechado!... E cantam as Nascentes
Que triste não será o envelhecer?!
E as horas passam, - passam, imprudentes,
- as horas passam, doidas, a correr! [...]

António Sardinha, in Quando as Nascentes Despertam


1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

Improvisando sob a inspiração de António Sardinha, o António de Monforte dos tempos de estudante:

"AS HORAS PASSAM"

As horas vão passando certamente
sem dar sequer por nós nesta existência
onde em verdade é tudo contingência,
menos talvez aquilo que se sente!

Vão-se escoando as horas, uma a uma,
a tudo o que nos toca indiferentes,
enquanto os nossos ideais latentes
se desfazendo vão como alva espuma!

Neste processo, como alguém já disse,
a vida se nos vai sem darmos conta
de estarmos já nos braços da velhice.

Impreterivelmente, por seu lado,
o tempo, à margem de qualquer afronta,
segue o seu curso alheio ao nosso estado!

JOÃO DE CASTRO NUNES