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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Viagens no Tempo em palestra do Professor Paulo Crawford

As viagens no tempo são possíveis? Teoricamente, sim, tanto para o passado como para o futuro. Não há regras da física que o impeçam. Mas a velocidade da luz, o limite constante sobre o qual se baseia a Física moderna, faz com que elas sejam, mesmo teoricamente, muito difíceis de conceber quando falamos de Passado. Já quanto ao Futuro, a conversa é outra... e o que se passa no futuro pode influenciar, afinal, o nosso Presente. **

O Observatório Astronómico de Lisboa levou a cabo na última noite de Abril mais uma sessão das "Noites no Observatório".

Esta iniciativa, de frequência mensal, decorrerá ao longo do ano de 2011 e tem como objectivo principal proporcionar ao público um contacto próximo com a Astronomia e dar a conhecer o riquíssimo património histórico, arquitectural e instrumental, da Astronomia portuguesa e mundial nos séculos XIX e XX.

Em cada sessão de "Noites no Observatório" realizam-se uma visita guiada ao edifício museológico do OAL, observações por telescópio e uma palestra de divulgação. A noite estava nublada e chuvosa, pelo que as observações astronómicas não puderam realizar-se.

Depois da visita ao acervo museológico do OAL (fundado a 11 de Março de 1861, a comemorar em 2011 os 150 anos), ocorreu a palestra do Prof. Doutor Paulo Crawford, investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL), que funciona nas suas instalações, na Tapada da Ajuda.

A palestra foi subordinada ao tema "Viagens no Tempo", e Estação Cronográfica esteve lá, dando aqui um resumo da exposição* (clique nas imagens para aumentar)

Paulo Crawford começou por falar da dificuldade em definir o que é o Tempo, das várias super-estruturas civilizacionais que se basearam em noções cíclicas ou lineares do Tempo, frisando a noção de Tempo Absoluto dada por Isaac Newton, no século XVIII.

Só com Albert Einstein, no início do século XX, ocorre a grande revolução na interpretação do Tempo: ele é relativo, depende da velocidade a que os vários observadores se deslocam. Por outro lado, e também com Einstein, passa-se a ter uma noção de espaço-tempo, uma realidade indissociável, feita destes dois parâmetros. Para físicos como Einstein, o Tempo é, possivelmente, uma ilusão.

Com as novas teorias de Einstein, fenómenos considerados até então simultâneos deixam de o ser. Paulo Crawford deu um exemplo clássico. Imagine-se um observador, parado, numa estação de comboios. E um comboio a deslocar-se a uma velocidade próxima da da luz. Imagine-se agora que, à passagem da composição pela estação, na altura em que ela está exactamente a meio da passagem pelo observador, dois pontos luminosos são acesos, ao mesmo tempo, nas pontas do comboio (de uma só carruagem, para simplificar). Enquanto um observador no interior do comboio verá as duas luzes acenderem em simultâneo, o que está na estação verá primeiro um a acender-se (o da frente) e só algum tempo depois o segundo (o de trás). Coisas que acontecem em simultâneo para um observador passam a ocorrer em sequência para outro. Quanto maior for a velocidade a que nos desloquemos (espaço), mais lento será o tempo.

Segundo Einstein, para além dos efeitos da velocidade, há a considerar, em campos gravitacionais muito intensos, a deformação do espaço, fenómenos que também faz o tempo andar mais devagar. Estas teorias são verificáveis desde há muito e, por exemplo, o Global Positioning System (vulgo GPS) teria erros de mais de 10 kms se não fossem tomados em conta os fenómenos físicos que afectam os relógios atómicos de que estão munidos os satélites dessa rede. Por um lado, tendem a andar mais depressa do que os que estão na Terra, pois têm uma menor influência da força gravítica terrestre (estão em órbita a 20 mil km do planeta); por outro, tendem a andar mais devagar, pois deslocam-se a grandes velocidades (fazem uma órbita terrestre a cada 12 horas). É comparando os tempos que levam sinais emitidos pelos satélites a chegar à Terra e a voltar, mas também tendo em conta as variações de tempo sofridas no espaço que os GPS conseguem ter hoje a precisão de centímetros. O Tempo é mesmo relativo!
Para simplificar, Paulo Crawford avançou na sua palestra uma representação a duas dimensões do contínuo Espaço-Tempo, sendo "o" a origem, "t" o tempo e "x" o espaço. Segundo ele, só introduzindo fórmulas "muito esquisitas" e anti-naturais" se consegue dizer que se consegue andar mais rápido que a luz (aqui representada a vermelho, num ângulo de 45 graus em relação às duas coordenadas). Isso leva à primeira grande conclusão: as viagens no tempo são possíveis, mas apenas para o futuro (quando nos aproximamos da velocidade da luz), e não para o passado (quando teríamos que ultrapassar essa velocidade).

Do ponto de vista teórico, "nenhuma das leis físicas que conhecemos proíbe as viagens no tempo", disse Paulo Crawford, citando o astrofísico norte-americano J. Richard Gott. Mas, mesmo que a técnica revolvesse o problema da deslocação a grandes velocidades, há sempre o problema dos paradoxos...
Como sabemos que campos gravitacionais muito fortes (os chamados "buracos negros") deformam o espaço, poderia haver "atalhos" no espaço, em que a deslocação em linha recta seria a forma mais distante de ligar dois pontos.
Os físicos falam da possibilidade de haver essas auto-estradas no espaço, túneis de espaço-tempo, que ligariam em muito pouco tempo zonas imensamente distantes.
Paulo Crawford sugeriu a transformação de um "wormhole", o nome dado pelos cientistas a esses túneis de espaço-tempo numa Máquina do Tempo.
E demonstrou que o tempo do observador A e do observador B é relativo, seja ele visto fora do wormhole ou através do túnel.
Se as viagens ao futuro são possíveis, como impedir paradoxos? Para simplificar, Paul Crawford pediu que se imaginasse um jogo de snooker, em que, quando uma bola cai num buraco, ela entra num wormhole e volta à mesa antes de ela própria ter atingido uma outra. Para resolver o paradoxo (atingir a segunda bola é a realidade, que não poderá ser desfeita), há quem tenha teorizado o seguinte: é possível, desde que o resultado final não seja afectado (atingir a segunda bola), mas que, ao mesmo tempo, seja tomado em conta o efeito do regresso da primeira bola à mesa, depois da sua viagem no Tempo, e antes de ela própria atingir a segunda (se chocar consigo própria e impedir o atingir da segunda, o paradoxo torna impossível a viagem, mas se não colidir ou, colidindo, não afectar o resultado final - atingir a segunda - a viagem no tempo poderá dar-se).
Uma teoria fascinante, afinal: o Homem seria assim, ele e a sua circunstância, não apenas do acumulado de factos no passado, mas também de factos no futuro que não alterassem de forma paradoxal o seu passado...
*Quaisquer erros de interpretação são da nossa responsabilidade, e não, como é óbvio, do palestrante.
** Quem quiser aprofundar um pouco mais o tema, poderá descarregar um artigo de Paulo Crawford e Francisco Lobo, aqui e aqui; ou de Paulo Crawford, aqui. Mas também aqui.

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