Norberto de Araújo (1889 - 1952), jornalista, olisipógrafo e escritor português, in Miniaturas
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Meditações - a hora violeta
É a hora violeta. As sombras descem. Perderam-se no cansaço do dia as linhas orgulhosas dos arbustos. Vestem-se de lilás os horizontes, e a vila, que fora claridade, cobre-se duma tinta diáfana que escorre por toda a banda como chuva de violetas. Que profunda a pacificação dulcíssima desta hora! Sofre à roda a natureza calada, e as macerações dos vegetais e do solo, na imensidão das charnecas, na infinidade do céu, que se encurva sobre as distâncias como um docel, transpiram a resignação perfeita das coisas. [...] O chão, o céu, as casas, as almas, nesta suavidade religiosa, têm sono. Não tardam aí os ralos, e quanto mais as sombras se abaixam, mais a face desta hora dolorida se deixa pintar de violeta, que ameaça adormecer de todo na noite, a adivinhar-se. E repousam já da luta, neste momento irmão da morte, as vibrações estésicas dos lírios...
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