A revista Olisipo, de 31 de Julho de 1945 faz referência a uma conferência proferida em Abril desse ano por Amadeu Ferreira d’Almeida de Carvalho (1876-1966) no Grupo Amigos de Lisboa.
Nascido em Faro, onde tem um jardim e uma estátua com o seu nome, Amadeu Ferreira de Almeida formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Seguiu a carreira diplomática. Diz o seu biógrafo Marco Sousa Santos: "Homem cosmopolita, de fino trato, modos elegantes e
aparência impecável, um verdadeiro dandy, em todos os locais por onde passa Amadeu Ferreira d’Almeida priva com escritores, artistas e altas individualidades da política nacional e internacional, e é convidado a integrar academias e grémios culturais. De regresso a Portugal, apreensivo com o progresso do país e com a necessidade de o aproximar da realidade internacional com que tinha contactado em primeira mão, torna-se um cidadão interventivo, apologista da novidade e da modernidade e, por essa via, por vezes polémico. Primeiro em Lisboa e depois na sua Faro natal, profere inúmeras palestras, integra comissões e passa a ser presença assídua na imprensa regional, opinando sobre todos os assuntos relacionados com o meio cultural, inclusive urbanismo e obras públicas."
Entre várias sugestões para a modernização, embelezamento e melhoria geral de Lisboa, o conferencista faz notar "a falta de alegria na população", alvitrando "música diariamente nos passeios, avenidas e cafés, bem como o toque de carrilhões", dizendo que se devia criar num relógio "A Voz de Lisboa", para a radiodifundir "como o fazem outros países". Pensando talvez no Big Ben, de Londres e no seu mundialmente reconhecido sinal sonoro de dar as horas.
Como temos defendido ao longo de décadas de investigação sobre a relação, não apenas dos lisboetas, mas dos portugueses em geral, com o tempo, não há, nem nunca houve no país marcadores coletivos das horas com que as comunidades se identifiquem, a exemplo do que acontece um pouco por todo o resto da Europa. E os relógios públicos mecânicos, ou foram eletrificados, ou estão inativos, ante a indiferença de quem passa. Como dizia Fernando Pessoa, não há nada mais absurdo do que um relógio público parado. Portugal - um país pejado de absurdos.





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