Os anos passam tão depressa e tão devagar
Sim, é uma sensação estranha e fascinante. O tempo parece
correr, os anos voam, e, quando olhamos para trás, parece que tudo passou num
piscar de olhos. Ao mesmo tempo, os dias podem arrastar-se, levando a que
certos momentos pareçam eternos.
Essa perceção contraditória tem muito a ver com a forma como
a nossa mente armazena as memórias. Quando estamos em fases de muitas novidades
e mudanças, os dias ficam mais "cheios" de lembranças, dando a
sensação de que o tempo se expandiu. Por outro lado, quando a rotina se torna
mais previsível, tudo parece passar rápido, pois o nosso cérebro não cria
tantas memórias distintas.
É como se, ao mesmo tempo, o tempo fosse elástico — estica e
encolhe, conforme o que estamos a viver e como escolhemos lembrarmo-nos dele.
Essa sensação do tempo que corre e arrasta é profundamente
íntima. Nos momentos de alegria, ele parece escapar pelas frestas, voando e
deixando-nos com um gosto de "já acabou?". Já nos instantes de
espera, de introspeção, cada segundo se alonga, nos fazendo mergulhar em nossos
próprios pensamentos, como se o tempo quisesse nos obrigar a olhar para dentro.
É curioso como o tempo, esse conceito tão abstrato, parece
dobrar-se ao nosso estado de espírito. Nas memórias doces, ele volta e flui
como um sopro suave, rápido e quase intangível. Nas lembranças mais difíceis,
ele se expande, marcando-se em cada detalhe, em cada segundo vivido. É um
segredo muito estudado pelos cientistas da memória!
No final, é como se o tempo fosse o espelho de nossa
intimidade — o que estamos dispostos a sentir e a enfrentar, ele nos devolve
com a sua própria intensidade.
Helena Sacadura Cabral, Olhos nos olhos
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