Estatutos do Seminário de Braga., 1620
Introdução de Paulo Abreu
Feitos por D. Afonso Furtado de Mendonça. São os primeiros Estatutos da instituição.
Os alunos do Colégio dividem-se em Colegiais, Porcionistas e Moços
Coro: os primeiros visam o sacerdócio; os segundos, preocupam-se c°m os estudos; os restantes, servem na Catedral.
Por último, um sublinhado especial aos critérios de admissão dos colegiais: terão que ter «sangue puro», terão que ser «cristãos velhos», isto é, «sem raça de judeus, mouros nem outros infiéis». Daí as inquirições, condensadas em tantos papeis que os nossos arquivos conservam. Para memória de um tempo. Para desafio aos tempos que ainda correm.
Entre os familiares repartira o Reitor os officios de refeitoreiro, roupeiro, e despertador, segundo o talento de cada hum, alternando nos officios os que forem pera isso, despertador (campainha de carne e osso que transforma o bronze tangido em voz de Deus);
O sono a ser atordoado, no verão, às cinco horas da manhã; no inverno, às seis. O «lançamento» para o sono ocorre, invariavelmente, às vinte e duas horas.
Ordenamos e mandamos que os CoIIegiaes no inverno, assaber, do Primeiro dia de Outubro ate o fim de Março, se [le]vantem da cama as seis horas da manhaa; e no verão, asaber, do primeiro de Abril ate o fim de Septembro, as sinco horas. E assi no verão como no inverno se lançarão na Cama as dez horas da noute.
Do governo temporal do Seminário
Ao meo dia entrão a lição do canto dorgão, e nella estão ate hu[m]a hora.
A hu[m]a hora se recolhem nas suas cellas, passao suas licõens e [fl.is [e]studão ate a mea hora pera as duas.
A mea hora pera as duas se achão na portaria do Seminário onde dão conta das suas licõens ao Vicereitor ate as duas horas.
As duas horas vão pera o [ejstudo onde estão ate as quatro e
m[e]a.
A mea hora pera as sinco se vem pera o Seminário.
Ate que se tange no Seminário as Avemarias tem de sua
honesta recreação.
Tanto que se tange as Avemarias se achão todos na Capella onde dizem as ladainhas, Salve, ou outra antiphona do tempo nos dias pera isso ordenados.
Depois que saem da Capella se recolhem as suas cellas onde tomão azeite nos candieiros, e os acendem, e recolhidos [e]studão ate as nove horas.
As nove horas entrão a cear ou consoar no refeitório.
Acabado de comer ate as dez horas poderão praticar hu[n]s com os °utros honesta e moderadamente e com quietação.
As dez horas tangem a recolher e se la[n]çao em suas camas.
Aos Domindos e dias Santos e de sueto avera exercício de canto dorgão da hu[m]a hora pera as duas, e das duas pera as tres avera repetiçam. E por [fl-16] turno se repartirão os dias de modo que no primeiro aja exercício de cazos de consciência, no segundo de Phylosophia, no terceiro de latim, onde assisarão todos os q[ue] andare[m] nas Classes.
Todos os do Collegio acudirão com muita diligencia e cuidado as obrigares deste regimento, as horas e tempos nelle declarados, e sendo descuidados Serão advertidos e admoestados pello Reitor, e não se emmendando serão despedidos.
Os relógios dos padres da Companhia (jesuítas) e dos padres do Pópulo
§ l.° Tanto que se tanger o sino a comer, assi ao jantar como a cea ou c°nçoada, nas horas declaradas nos capitulos antecedentes, governando-se •• ® despertador de dia por o Relogio dos Padres da Companhia por rezão dos LeJstudos, e de noite pello dos Padres do Populo por ficar mais vezinho e se °uvir milhor, se juntarão os Collegiaes no ante refeitoreo || onde esperarão ^Ue venha o Reitor, e em sua absencia o Vicereitor, e em absencia o Collegial em seu lugar estiver, e dahi (lavando primeiro as mãos) entrarão a comer, e antes de se sentarem nas mezas as benzera o Vicereitor ou Collegial sacerdote ou de ordens sacras que em seu lugar estiver.
§ 4.° E depois de recolhidos no Collegio terão de recreação no inverno ate se ascenderem as alampadas, e tanto que forem acezas tangera o despe*-'tador pera a ladainha o sino da Capella, onde todos os Collegiaes se ajuntaram e dirão com pauza e devaçam as ladainhas piquenas da Cartilha emtoadas, e no fim se fara comemoraçam da Cruz co[m] a Antiphona e oracam do tempo, e dita ella se fara comemoraçam da Virgem Nossa Senhora com antiphona e oraçam do tempo e logo comemoraçam do Apostolo Sam Pedro, padroeiro do Collegio, e no fim se fara oraçam pellos prelados deste Arcebispado e bemfeitores do Seminário, que para ,elle pagarão ou pagão, vivos e defuntos, com a oraçam omnipotens sempiterne Deus qui vivorufm] dominaris.
§ 7.° E no verão, recolhidos os Collegiaes no Collegio das sinco horaS^e mea por diante teram te as seis de sua honesta recreaçam, e as seis entra1 a° a cear e depois de cea, ate se açenderem as alampadas, terão de sua hones^ recreaçam. E tanto que as alampadas fore[m] acezas, tangera o despertador a recolher e cada hum tomara azeite, como fica dito, e se recolhera a estudar ate as nove horas, e as nove horas tangeram a campainha da Capella onde todos diram a ladainha ou Salve como atras fica dito. E acabadas as ladainhas ate as dez horas poderam praticar hu[n]s com os outros honesta e moderadamente, e com quietaçam; e as dez horas de inverno e verão, se lançaram || todos nas camas, e não teram mais candeas acezas nas sellas, excepto aquelles a que o Reitor o conceder por justas cauzas. E pera todas estas couzas se tangera o sino do Seminário nas horas e tempos em que se W-u/ hão de fazer, e a campainha da Capella, para as missas e exercicios [e]spirituaes que nella ha de aver.
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