O Embaixador João de Deus Ramos, com Teresa Vilaça, Directora da Casa-Museu Mideiros e Almeida
Como é que os chineses nos chamavam? O Embaixador João de Deus Ramos deu a resposta, esta tarde, numa palestra proferida na Casa-Museu Medeiros e Almeida.
Reconhecido orientalista, João de Deus Ramos foi recentemente distinguido com o Prémio Universidade de Coimbra.
Começaram os chins por nos chamar de "folangi", quando aparecemos pelos lados do Império do Meio, no século XVI. Influencia ainda do tempo das Cruzadas, quando cavaleiros e exércitos dos reinos cristãos da Europa andaram pela Ásia Menor e conquistaram a Terra Santa. Para os árabes, para os Persas, eram os "francos". O termo chegou à China e, quando os Portugueses apareceram, terão dito de onde vinham, do Ocidente. De onde os "francos" tinham vindo, séculos antes.
Joâo de Deus Pinheiro fez notar que, na Idade Médioa, e por terra, o Ocidente, nomeadamente o Vaticano, mandaram emissários à China. Eles contactaram o Império Mongol, que tinha conquistado a China. Houve especialmente emissários da ordem de São Francisco. Há poucos relatos dessas expedições franciscanas, mas elas terão sido provocadas pela lenda do Preste João. Haveria um reino cristão para lá da cintura islâmica que rodeava a Europa. Tratava-se de o encontrar e de com ele fazer aliança para combater o inimigo.
Depois, os venezianos Polo terão chegado à China, que então era o Cataio. A curiosidade ocidental ficou aguçada com as memórias de Marco Polo escreveu. Sem referir o Preste João.
O mito durou até ao renascimento, com D. João II a enviar emissários, também por terra, em busca do Preste João. A lenda tinha alguns fundamentos, talvez o reino da Abissínia (Etiópia) pudesse corresponder ao tal reino cristão.
Mas João de Deus Ramos salientou que as informações das expedições franciscanas não terão chegado aos portugueses que só a partir da conquista de Malaca, em 1513, tiveram contacto directo com navios e marinheiros chineses. Antes, em 1508, D. Manuel I mandara, a partir de Lisboa, um emissário, Afonso Lopes de Sequeira, com instruções precisas para demandar o Catio, saber quem eram os chins, que religião professavam, como vestiam, o que comiam, etc.
A instalação em Macau e a organização do Padroado Português do Oriente levaram os jesuítas, pouco depois da criação da ordem, à conquista evangélica da China. Terão sido eles a saciar a curiosidade dos Chineses - de onde é que vinham todos? Podiam ser de várias nacionalidades, mas passavam sempre antes por um país, no extremo ocidente da Europa, junto a um grande mar. E nascia assim o nome por que ficou registado nos anais imperiais esse tal pais, Portugal - Ta Xi Yan Guo (grande / ocidente / mar / reino). O Grande Reino do Mar Ocidental.
"Chins e Ta Xi Yan Guo - 500 anos da chegada dos portugueses à China" é aliás uma exposição que está patente na Casa-Museu Medeiros e Almeida, até 31 de Dezembro. Além de um quadro cronológico comparando datas em Portugal e na China e as relações bilaterais, a exposição tem núcleos de porcelanas, lacas, jades, artes decorativas, texteis e leques. Todas as peças são do acervo do museu.
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