Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sábado, 12 de novembro de 2011

Crónica de Sérgio Soares no I - o tempo está mais rápido...


"Tempos Modernos"

Roubo o título ao genial filme de Charles Chaplin para dizer que há dias em que me sinto cansado, ultrapassado pela velocidade incessante dos acontecimentos. Creio, embora isso não se possa admitir sem se ser rotulado de velho, que é uma sensação que nos nossos dias a todos afecta.

Já não há tempo para digerir os acontecimentos, dada a velocidade dos eventos humanos, por mais atentos que estejamos ao mundo. As coisas simplesmente decorrem a uma velocidade tal que o ser humano não as consegue abarcar e apreender.

Com frequência, os efeitos práticos da palavra “novidade” duram apenas milésimos de segundo. Não sendo saudosista, recordo-me de os jornais trazerem notícias que eram autênticas novidades. Era possível ler um jornal e ter a sensação, também errada, de que estávamos realmente a tomar conhecimento de uma notícia genuína. Lembro-me que lia um semanário de referência durante um bom par de horas no café ao sábado de manhã. Hoje faço-o em cinco minutos, por saltar temas já há muito conhecidos. A televisão matou essa falsa noção de novidade. E a proliferação desse meio de comunicação matou a duração do conceito de novidade em si mesmo. Agora, com a internet, até a noção de instantaneidade pode ser associada a algo já passado.

Tudo acontece demasiado depressa e o homem moderno procura acompanhar o ritmo a que pulsa o planeta e a vida e actividades dos seus semelhantes com crescente dificuldade.

Uma das consequências imediatas é estarmos cada vez mais mal informados sobre o que nos rodeia, seja a nível local, seja regional ou internacional. Paradoxalmente, temos a sensação errada de que sabemos mais coisas do que no passado. Outra consequência, mais grave, é sofrermos de deslocações psicológicas entre o espaço e o tempo nas nossas vidas. Resultado, vivemos em permanente estado de ansiedade, no mínimo. Mas temos de seguir adiante, nem que seja à base de comprimidos.

A velocidade da vida moderna é pois estonteante. Temos a percepção de que a vida hoje em dia passa a voar. Apesar de acompanhar o ritmo frenético da vida moderna, fui criado num tempo em que, quando se queria dizer a alguém que se devia acalmar, se exclamava: “Andas a 100 à hora!” Imagine-se...

Pessoa escreveu: “Movemo-nos muito rapidamente de um ponto onde nada se faz para outro onde não há nada que fazer, e chamamos a isto a pressa febril da vida moderna. Não é a febre da pressa, mas sim a pressa da febre...”

O desejo e a obrigação de viver em velocidade canalizam para uma espécie de fast life, uma epidemia com imensos derivados, que vão da fast food à leitura rápida ou às relações sociais a um clique da realidade. Tudo pode ser feito na base da “rapidinha”.

Quem não tem a sensação de que o tempo parece voar e não há tempo para nada? Os cientistas confirmam a certeza da sensação. Por isso não é o único a achar-se deslocado de quando em vez. Ninguém tem uma explicação racional, mas não há dúvida de que actualmente tudo é verdadeiramente mais rápido. No entanto, um dia continua a ter 24 horas e uma hora 60 minutos!

Contudo, temos telemóveis que nos permitem contactar qualquer pessoa no planeta a qualquer instante. Já não dispensamos a internet no trabalho ou em casa. E também já não sabemos se estamos em casa ou no trabalho. E resmungamos quando a pessoa com quem queremos falar não está imediatamente disponível, ou a página na net não carrega instantaneamente. E o tempo não nos chega para nada. “O meu dia devia ter 48 horas!”

Pergunto-me se um aborígene australiano ou da Nova Guiné terá estas preocupações. Viverá com a angústia de que o mundo tal como o conhecemos (o da zona euro, está claro!) está prestes a acabar? Para onde caminhamos?

Hoje estou farto e cansado disto tudo, como disse. Para quê improvisar se Shakespeare explica com clareza cristalina o que pretendia dizer:

O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que têm medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.

Sérgio Soares, jornalista, na crónica de hoje no jornal I

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

O tempo não muda o passo,
tem sempre o mesmo andamento;
nós é que não temos tento
para andar ao seu compasso!

JCN

João de Castro Nunes disse...

O tempo ninguém o entende
na sua forma de estar:
ser velho o jovem pretende
e atrás o velho tornar!

JCN