Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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sábado, 20 de junho de 2009

Relógios militares - "Dirty Dozen" em Portugal

Esta é uma colecção como só há mais duas no mundo. Os relógios militares são um capítulo autónomo e importante na história mais geral da Relojoaria, tanto na versão de bolso como de pulso. Neste último caso, terá sido a guerra a popularizar o seu uso – os soldados norte-americanos desembarcaram em teatro europeu, em 1917, na I Guerra Mundial, usando maciçamente marcadores de tempo no pulso, em vez de no bolso, forma muito menos prática de ver as horas e sincronizar acções em plena batalha.
Dentro do coleccionismo dos relógios militares há um capítulo mítico, respeitante a uma célebre encomenda feita pelo Governo britânico pouco antes da II Guerra Mundial. Concorreram 12 manufacturas e os doze respectivos modelos homologados ficaram conhecidos como os “Dirty Dozen”, como o título de um dos mais famosos filmes de guerra. Em Portugal, um especialista nesta temática, conseguiu recentemente completar a sua colecção. Jorge Simões explica-nos as histórias por detrás dos relógios.
Como surgiram os "Dirty Dozen"?
No final dos anos 30, o MoD (Ministry of Defense, Reino Unido) emitiu um conjunto de normas para a nova geração de instrumentos de medição do tempo. Com essas normas, lançou um concurso internacional para a selecção e posterior fornecimento pelas manufacturas relojoeiras dos relógios militares do Império Britânico, que tiveram a designação Watches Wristlet Waterproof (WWW, relógios de pulso à prova de água). Foram aprovados 12 protótipos e efectuados distintos fornecimentos pelos 12 fabricantes ao longo dos anos seguintes, que vieram a coincidir com a II Grande Guerra.

Só houve 12 marcas de relógios a abastecerem as tropas Aliadas na II GuerraMundial? (BUREN, CYMA, ETERNA, GRANA, JLC, LEMANIA, LONGINES, IWC,OMEGA, RECORD, TIMOR e VERTEX, segundo a lista dos “Dirty Dozen”)?
Não. Existem outras marcas de modelos de relógios militares que foram produzidos nessa altura, tanto do lado dos Aliados como dos Alemães. Algumas das manufacturas produziram para ambos os lados da contenda, mas relógios e especificações técnicas distintas. No que se refere à especificação WWW, só estes 12 relógios foram aprovados e produzidos.

Um relógio militar, quais as suas principais características?

As principais características variaram com o tempo e, como em toda a investigação, a indústria de Defesa é a primeira a utilizar as evoluções tecnológicas.
Até 1970 a medição do tempo fazia-se quase exclusivamente através de instrumentos mecânicos, e a sua fiabilidade e precisão eram aspectos muito importantes para o sucesso das missões militares, e a sua aplicação ia desde a artilharia à marinha e aviação. Era o tempo em que os relógios mecânicos tinham um papel fundamental para a indústria de Defesa.
Relativamente aos anos 30 e 40, as principais características, definidas por normas emitidas por entidades oficiais, tinham a ver com a facilidade de leitura (os mostradores são com fundo negro não reflexo, os ponteiros com formas destacadas e luminosos, tal como o mostrador), de acerto e capacidade de sincronismo (parar o ponteiro dos segundos para sincronizar, ao segundo, os relógios dos artilheiros e dos aviadores foi uma função exigida nos relógios militares), a estanquicidade e robustez da caixa (as fixações da braceletes são obrigatoriamente fixas e soldadas à caixa, fazendo parte integrante da mesma), a par da fiabilidade e precisão dos mecanismos (os primeiros movimentos com o inovador mecanismo anti-choque incabloc desenvolvido nos anos 30, foram utilizados exclusivamente nos relógios militares, tendo só muitos anos depois passado a equipar os relógios civis).
Todos os relógios militares têm também determinados códigos específicos e informação vária, nomeadamente sobre a sua aplicação (aviação, marinha, submarinos, etc.), validade das garantias e datas de revisão, ano de fabrico e número interno do exército, etc.
Todos os instrumentos militares britânicos e da Commonwealth têm a seta que é, desde o rei George I de Inglaterra, o símbolo do monarca e do império britânico. No caso dos WWW existe também a obrigatoriedade da designação WWW na tampa do relógio e de códigos específicos dessa série, distintos para cada uma das marcas fabricantes.

Qual o relógio militar mais raro?

De entre os relógios militares de pulso mais raros destacava o Mark IX da IWC, que regista a produção de 430 exemplares entre 1936 e 1944, e o GRANA WWW, da qual se estima terão sido produzidos entre 300 e 500 exemplares.

Como conseguiu fazer a sua colecção? Há muitas como ela?

A minha colecção dos 12 WWW levou cerca de 12 anos a reunir, mas podia ter levado 20 anos ou nunca ter sido concluída, dada a raridade de alguns modelos, dos quais o Grana é o expoente máximo. Como em relação a todos os outros exemplares, procurei obter relógios originais, no melhor estado possível e sem qualquer restauro ou intervenção que alterasse o seu aspecto ou genuinidade. Assim, a colecção levou naturalmente muito tempo a obter.
Tanto quanto é do conhecimento geral, existem apenas 3 colecções completas dos 12 WWW em todo o Mundo: uma de um coleccionador no Japão, outra nos EUA e a terceira em Portugal.
O fascínio especial que estes relógios têm para mim, advém do facto de terem sido usados pelas tropas inglesas em combate durante toda a II Grande Guerra, nomeadamente a Marinha e a Infantaria inglesas que desembarcaram na Normandia em Junho de 1944. Imaginar as histórias que cada uma destas peças encerra dentro de si é só o início da viagem que nos leva ao sabor do tempo...

Artigo publicado em Cronos - Pilares do Tempo, suplemento do Público de 16 de Maio de 2009


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