Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Rubi, a história daquela que terá sido a primeira relojoaria a existir em Almada

Coisas do Ephemera. Em 2017, o Museu de Almada e o Arquivo Histórico de Almada efetuaram uma recolha na Relojoaria Ruby após mudança da loja para a Rua Capitão Leitão, tendo salvaguardado um conjunto de relógios, componentes, ferramentas e alguma documentação dispersa.

Um lote de faturas desse estabelecimento, referentes ao período de 1984 a 1991, foi agora entregue ao Núcleo do Tempo do maior arquivo privado do país, que coordenamos, por não ser considerado com interesse para as coleções municipais.

A interface entre a Câmara Municipal de Almada e o maior arquivo privado do país foi feito por Margarida Nunes, Técnico Superior do seu Departamento de Cultura. À Câmara Municipal de Almada, através de Margarida Nunes, obrigado.


Abílio Rodrigues Joaquim a ser entrevistado, em 2017

Em 2017, o Museu de Almada fez uma entrevista ao proprietário da Relojoaria Ruby, onde ficaram registadas as seguintes informações:

A casa foi fundada em 1957, na Rua Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, n.º 8-B por Abílio Rodrigues Joaquim, natural de Almada, nascido a 7 de Outubro de 1933. Estudou até à 4.º classe e aos 13 anos foi trabalhar como moço de recados para um relojoeiro na Rua dos Sapateiros em Lisboa, onde mais tarde viria a aprender os rudimentos da profissão. Com cerca de 19 anos passa a trabalhar numa relojoaria na Rua das Janelas Verdes, junto ao Colégio Olisiponense, propriedade de José Silvestre, conhecido por José do relógio, antigo marinheiro que foi preso na chamada Revolta dos Marinheiros (1936).

Em 1955, Abílio Rodrigues Joaquim entra como recruta em Engenharia 1, tendo sido telefonista, radiotelegrafista e obteve especialidade em mecânico de máquinas de filmar e de fotografar. Após a tropa decidiu abrir a sua própria relojoaria, tendo sido o primeiro relojoeiro de Almada, numa época em que existia apenas a Relojoaria Maia na Cova da Piedade e a Relojoaria Barão em Cacilhas.

Para esse efeito arrendou uma casa de habitação de rés-do-chão e fez obras de adaptação, ficando a loja com acesso direto à rua e a parte detrás como residência de seus pais.


O nome da relojoaria – Ruby – será um acrónimo de “Rodrigues” com “Abílio”, tanto quanto Margarida Nunes se recorda das conversas com ele.

Além da profissão de relojoeiro acumulou com as funções de carcereiro da cadeia civil de Almada, sendo reconhecido pelo seu humanismo no trato com os presos, e foi ainda avaliador do Tribunal.



Carta de agradecimento de presos, 1962

Foi sócio de várias coletividades, entre elas, os Bombeiros Voluntários de Almada, o Ginásio Clube do Sul, a Incrível Almadense e a Academia Almadense.

Por razões de mudança de proprietário e de segurança do edifício onde se encontrava a relojoaria viu-se obrigado, por volta de 2015 a mudar a relojoaria para as instalações da Escola de Música da Incrível Almadense, na Rua Capitão Leitão, onde funcionou até por volta de 2020.

Abílio Rodrigues Joaquim continua a residir em Almada, numa casa adaptada a partir das antigas celas da cadeia civil, estando integrada nas instalações da sede da WeMob – Mobilidade de Almada.

No maço de faturas que chegou ao Ephemera, há referência a vários importadores de relojoaria, a alguns “fabricantes” (quase sempre, apenas montadores ou mesmo só com aposição do seu nome nos mostradores), a marcas como a Timex ou a Reguladora.




















Comentário de João Magalhães, ao ler no Facebook o post desta história:

Conheci o Sr. Abílio, já ia avançado na idade quando nos cruzamos a primeira vez, o motivo foi um relógio. Nessa altura a loja estava situada num espaço que pertencia à Incrível Almadense. Um senhor de trato fácil e quando tinha tempo, um contador de histórias. Para o fim a sua actividade, devido à avançada idade, estava restrita à mudança de pilhas nos relógios e braceletes. Lembro-me de me arranjar uns despertadores marca Jaz um que pertenceu aos meus avós maternos que remonta aos anos quarenta do século passado e outro também da mesma marca, um pouco mais recente, anos sessenta ou setenta do século passado. Como já não se dedicava ao arranjos de relógios indicou-me um relojoeiro no Monte da Caparica (não sei o nome da loja), o Sr. Jorge um excelente profissional. Também ele já deixou a oficina.

Sem comentários: