Há mais de duas décadas que mantemos contatos regulares com
a organização norte-americana National Association of Watch & Clock
Collectors (NAWCC) que, além de manter o National Watch & Clock Museum, em Columbia,
Pensilvânia, tem ali uma das melhores bibliotecas horológicas do mundo.
Em 2019, passámos lá uma semana de estudo e
investigação. E, nesse processo, foi-nos indicada a existência de uma
portuguesa, que teria tido uma importante relojoaria e ourivesaria, em São
Francisco, na transição do século XIX para o século XX. Nunca mais pensámos no assunto.
Até que, há dias, o Diretor do Museu do Relógio (Serpa e
Évora), Eugénio Tavares de Almeida, nos contacta a pedir informações sobre um
relógio assinado “Anna L. Silveira / Ourives e Relojoeira Portuguesa / Rue
Jackson, no. 70 / San Francisco, Cal.”
Fomos ao dossier da visita feita em 2019 e avançámos no desvendar
um pouco dessa personagem, graças a elementos que membros da NAWCC
disponibilizaram e que, mais uma vez, agradecemos.
Ana L. Silveira nasceu em 1868, na Ilha das Flores, Açores. Viveu
em Oakland, Califórnia, enviuvou em 1908, e faleceu em 1931, estando sepultada
no jazigo de família, no Cemitério de Santa Maria, naquela cidade.
Ana Silveira era a proprietária da "Silveira's Jewelry Palace", nos números 62 e mais tarde 76 da Jackson Street, em São Francisco. Trabalhava relógios naquilo que os americanos chamam o “private label” (ou seja, decorando e assinando mostradores e movimentos, mas sem ter qualquer relação direta com a produção dos mesmos).
Na sua loja, Ana Silveira vendia marcas americanas como Waltham, Elgin ou Hamilton, mas também a suíça Omega. Tinha um merchandising muito ativo e vistoso, quer se tratasse de espelhos com a sua cara, de calendários ou de anúncios nos jornais. Todos em português, o que revela ser a comunidade lusa na Califórnia o seu principal alvo.
A sua figura merecer-nos-ia mais investigação, até porque corriam boatos nos seus tempos de São Francisco, que chegaram à atualidade, sobre uma personagem muito exuberante. Até se dizia que, no primeiro andar do "Silveira's Jewelry Palace" administraria um lupanar e que, já no papel de madame, ali vendia as peças mais caras aos clientes.
Em baixo, alguns relógios de bolso com mostradores e calibres assinados "Anna L. Silveira"
Em baixo, um boletim da NAWCC, assinalada a nossa visita de trabalho, em 2019
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