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quarta-feira, 3 de maio de 2023

A excepção da relojoaria mecânica num mundo digital

Editorial Maio

Relojoaria mecânica, uma excepção

A indústria relojoeira suíça, que lidera em valor a nível mundial, vive sobretudo da produção de peças mecânicas, com as suas rodas dentadas, eixos e energia fornecida por molas. Trata-se de uma misteriosa excepção num mundo cada vez mais digitalizado.

O relógio mecânico é um objecto desconectado num mundo em rede, onde os smartwatches dominam, mas ainda não conseguiram matá-lo.

Em Março, assistiu-se ao reforço na forte tendência de aumento que se faz sentir desde o início de 2023 nas exportações relojoeiras helvéticas. Tanto em valor (+13.8% no mês e +11.8% no acumulado do primeiro trimestre) como em quantidade - mais 300 mil relógios exportados em Março (+23.9%), para um total de 1,5 milhões de unidades.

Como explicar esta excepção? Edições limitadas, um mercado de segunda mão efervescente, leilões a baterem recordes e os investidores vindos das mais valias feitas com as cripto-moedas estão a contribuir para que a valorização de certas marcas – Rolex, Audemars Piquet, Patek Philippe, Richard Mille, por exemplo – seja superior ao investimento em bolsa.

Limei Hoang, editora sénior no Luxury Society, um jornal online, recorda que foram precisos apenas 14 minutos e 39 segundos para que um relógio Tiffany-Blue Patek Philippe Nautilus 5711 tenha sido vendido em leilão por 6.5 milhões de dólares, muito possivelmente por um investidor em cripto-moedas preocupado em assegurar que os seus ganhos digitais se transformariam em algo tangível. “Um Rolex em segunda mão pode custar mais caro do que um modelo novo, devido às limitadas capacidades de produção e à escassez de produto”, diz.

Se o relógio mecânico é a excepção analógica num omnipresente universo digital, já o relacionamento das marcas com o consumidor final baseia-se cada vez mais nas plataformas online. Essa relação directa está a revolucionar as redes de distribuição e retalho.

Marie-Clémence Barbé-Conti, jornalista especializada na indústria do luxo, fala em “Masstige”, conceito que sai da contracção de “massas” com “prestígio”. O neologismo resume bem a contradição actual no mundo do luxo, quando antes a noção de raridade era a base para a definição desse mesmo luxo.

O economista e sociólogo Serge Letouche avança com os perigos da banalização, do “luxe populi”, e pinta um quadro futuro de equilíbrio instável – conciliar a garantia de que, em democracia, todos têm direito a aspirar aceder a um estatuto. Como combinar o homo aequalis com o homo hierarchicus?

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