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Editorial
A economia fractal e a relojoaria
Fernando Correia de Oliveira
A relojoaria suíça precisa urgentemente de se reinventar,
sob pena de desaparecer face à concorrência da China. O vaticínio é feito por
Xavier Comtesse, economista e matemático genebrino, que antecipa um futuro com
uma economia de tipo novo, composta por relocalizações e circuitos curtos.
Em entrevista recente, Comtesse fala dos efeitos da pandemia
Covid-19 à escala global e diz: “Os chineses continuam a ser consumidores de
produtos ocidentais, mas vão deixar de o ser, vão procurar cada vez mais
produtos Made in China. Também encontramos essa tendência de vontade de consumo
local na Europa”.
Há cada vez mais marcas chinesas no mercado do luxo,
nomeadamente em relojoaria. “Elas dominam a tecnologia, o que lhes permite
fabricar relógios tão complexos como os suíços. Por agora, falta-lhes apenas a
imagem de qualidade”, diz Comtesse.
Depois, fala daquilo que apelida de “economia fractal”. Conceito
matemático, o fractal pode traduzir-se como uma espécie de matrioskas,
respeitando a coisas idênticas, mas em diferentes escalas e tamanhos.
A economia fractal é composta por três aspectos-chave:
“Primeiramente, a aplicação ao nível local de tecnologias
desenvolvidas globalmente. É o caso das impressoras 3D, cujas aplicações
permitem criar em pequena escala tecnologias avançadas. Depois, a cadeia de
valor será mais curta. Muitos objectos que hoje compramos são produtos montados
numa dezena de países diferentes, mas no futuro uma boa parte dessa produção
será localizada. Por fim, a economia fractal comporta a noção de econ0omia
circular e de reciclagem. A ideia geral será de produzir localmente e em séries
mais reduzidas. O modelo económico do ‘glocal’ vai substituir a era do
digital”.
Para Comtesse, o conceito de presencial morreu em 2020. Num mundo pós-pandémico, haverá o aumento do ensino à distância, do teletrabalho, da telemedicina e dos webinars. As novas ferramentas digitais explodiram com os confinamentos e a necessidade do encontro físico foi suprimido. Todos os novos hábitos irão permanecer. A curto prazo, a economia será mista, entre o presencial (economia vertical) e o digital (economia horizontal). Mas, num futuro mais próximo do que muitos pensam, a digitalização dará lugar ao fractal.
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