- canção das rãs e dos sapos...
Sobe da terra chorando,
sobe da terra aos farrapos.
Nossa Senhora das Neves
anda a esfolhar açucenas.
A lua, branca de leite,
desfaz-se em chuva de penas.
E grita a mágoa da noite;
e grita a noite suspensa:
- "Só há remédio na morte
p'ra o mal que vem de nascença!"
Canção de agosto profundo,
- profunda voz das raízes...
Fica-se a noite acordada,
não dorme a ouvir o que dizes!
Lua de agosto boiando,
és dum luar sem primeiro!
Por tua causa -não sabes? -
matou-se o mês de janeiro!
Lua dos grandes feitiços,
sossega o meu coração!
Fala-me tu desse beijo
que deu Isolda a Trstão!
Ó lua, sol dos defuntos,
sorrindo às almas cristãs,
quando é que tu adormeces
a dor antiga das rãs?
Canção de agosto profundo,
- canção de Dona Silvana...
Ó boca, ardendo com sede,
vê tu se a lua te engana!
Vai alta a lua, vai alta!
Ladram os cães ao luar...
Lua de agosto, coalhada,
quem te pudera apanhar!
Canção de agosto profundo,
- canção das rãs e dos sapos...
Sobe da terra, chorando,
sobe da terra aos farrapos.
Canção de Dona Silvana,
- canção da Nau-Catrineta...
Ninguém a pobre recuse,
ninguém a rico prometa!
A lua dorme, quietinha,
dorme no fundo do poço...
Canção da terra com sede,
canção dum peito inda moço!
Levas a noite, caiando,
luar, amigo da cal...
Ó caiador afamado,
caia-me bem Portugal!
António Sardinha, in Quando as Nascentes Despertam
3 comentários:
O mês de agosto hoje em dia
deixou de ser como dantes:
por causa da carestia
tem menos veraneantes!
JCN
O luar de agosto agora
tem raios menos brilhantes:
os românticos amantes
não suspiram como outrora!
JCN
No mês de agosto actual
o seu típico luar
já não consegue caiar
a alma de Portugal!
JCN
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